Por Bruno Chan, CEO da Klavi.
Imagine que a sua televisão está com defeito. Você busca um modelo um pouco melhor na internet (afinal, você merece) e decide comprá-la em algumas suaves prestações. Porém, quando vai efetuar a transação, descobre que o valor está acima do limite do seu cartão de crédito. Você fica bravo ou brava, pois sabe que teria como pagar as parcelas, não entende como funciona a definição do limite e desiste da compra.
Nessa pequena história fictícia, todos os envolvidos saíram perdendo: você, que ficou sem a nova televisão para maratonar a sua série, a fabricante da TV que não efetuou a venda, o dono da loja virtual, do marketplace, transportadora, bandeira do cartão de crédito e, por fim, o banco que não concedeu o crédito e seria pago.
E o que gerou toda essa situação? A instituição financeira não conhecer de fato o seu cliente. E é aqui que a inteligência de dados e open finance podem ajudar, e muito, todos os envolvidos neste ciclo. O open finance facilita a transação de dados entre instituições financeiras, sempre com a devida autorização do usuário.
Com ele, o banco mencionado no exemplo pode ter acesso a dados deste cliente de outras instituições financeiras, como todos os dados transacionais do extrato bancário, fatura de cartão, cheque especial, outros limites pré-aprovados e todos os tipos de investimentos, incluindo a poupança.
Com isso, é possível identificar de fato a renda da pessoa física, que pode ser um contratado CLT, autônomo, trabalhador de plataforma digital (como Uber, Ifood etc.), pensionista, receber algum auxílio do governo, ser funcionário público etc..
Também é possível detectar se ela gasta essa renda, o que costuma ser fixo, como aluguel, contas residenciais, saúde, transporte público, ou variável, como assinaturas de streaming, supermercado, educação, lazer, cuidados pessoais, entre outros possíveis gastos.
Somente com acesso a esses dados todas as instituições já conseguem conhecer os seus consumidores? Ainda não. Tudo isso precisa ser processado. Seria como você morar na maior biblioteca do mundo, mas não saber ler: do que adiantaria toda essa informação?
O grande desafio de uma empresa que recebe estes dados é a parte de ingestão. Imagine quantas transações serão importadas para cada compartilhamento? São dezenas e centenas por cada fonte (conta corrente e fatura de cartão) e o número só crescerá se o período for maior. Depois ainda vem a parte de processamento de dados, onde os dados brutos são organizados conforme a sua similaridade e a característica.
Aí entra a inteligência de dados, processando toda essa massa de números, das mais variadas fontes, e transformando em algo útil, insights poderosos que podem ser usados para melhorar a vida das pessoas. Voltando ao nosso exemplo, com o open finance e a inteligência de dados, o banco conheceria esse cliente que quer comprar uma televisão moderna parcelada, saberia que ele pode ter um limite maior pois costuma ser bom pagador, tem ativos em outras instituições e recentemente começou a receber mais com um trabalho freelancer que arrumou.
A instituição concederia mais crédito a essa pessoa, baseado em informações, por consequência com menos riscos, e esse cliente compraria o aparelho e todos nessa cadeia (loja, transporte, bandeira etc.) ficariam felizes.
Não somente no crédito, a inteligência de dados pode auxiliar também aplicativos de finança pessoal que ajudam a juntar mais dinheiro, ou aplicativos de investimento que agregam diversas contas de corretoras em um único lugar.
O maior benefício que uma empresa pode obter através da inteligência de dados é fazer o cliente mais feliz por ter a personalização do produto e serviço. Um produto para pessoa certa no momento certo é a equação para o sucesso de um negócio e de toda cadeia envolvida nele.