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Os desafios de investidoras-anjo e como elas podem trazer diversidade ao ecossistema

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

O tema é investidoras-anjo e, nesse sentido, o Economia SP Drops traz uma conversa com Patrícia Osorio, um dos principais nomes do segmento no Brasil, além de ser co-fundadora do GVAngels e da startup Birdie, sobre o mercado e questões que ainda precisam ser superadas nesse meio. Confira abaixo:

Qual a importância da presença feminina no ecossistema de investimento-anjo no Brasil?

Patrícia: Em uma palestra recente que assisti da Sukhinder Singh Cassidy, ex-CEO da Stubhub e atual fundadora da Boardlist, startup que busca formar mulheres para posições de board members, ela sintetizou muito bem a importância da presença feminina em investimento-anjo: a melhor forma de estimularmos diversidade é proporcionando a diversidade desde o início. Uma startup com fundadoras e investidoras mulheres que tiver sucesso vai inspirar mais mulheres, em um ciclo virtuoso. Por outro lado, um ambiente predominantemente masculino, com discussões, negócios e investimentos liderados por homens, tende a manter um status quo predominantemente deles. Segundo a Forbes, apenas 5,7% dos partners de venture capital no ano passado eram mulheres. Olhando especificamente para o mercado brasileiro e para o early-stage (investimento-anjo), uma pesquisa da Anjos do Brasil de 2019 mostrava um número um pouco maior: 12%. No GVAngels temos hoje pouco mais de 14% de nossos associados sendo mulheres, um número ainda baixo, mas 91% maior do que 12 meses atrás. Do lado das startups, temos 30% de nosso portfólio com ao menos uma fundadora, muito mais do que a média nacional, que é de apenas 5%, segundo a Distrito. Tenho uma missão pessoal dentro do GVAngels de buscar cada vez mais uma proporção maior de mulheres e de outros perfis de diversidade entre nossos membros e startups.

Quais os principais desafios das mulheres que atuam nesse cenário?

Patrícia: Os desafios são inúmeros. Há a famosa síndrome do impostor, enfrentada por muitas mulheres extremamente competentes que acham não ter a capacidade de investir ou empreender. Temos também um ambiente ainda predominantemente masculino, onde muitas mulheres não se sentem à vontade ou não possuem pessoas com contextos e experiências semelhantes com quem trocar. Há o desafio de conciliar a maternidade e o trabalho, algo enfrentado por homens em muito menor escala, a começar pela rapidez com que voltam ao mercado comparado a uma mulher. Há o BIAS inconsciente presente tanto na cabeça de homens quanto de mulheres com relação a mulheres no papel de fundadoras, executivas e investidoras. Há uma cultura que valoriza o estilo de liderança masculino em detrimento do feminino. Entre outros exemplos. Em um TED Talk que assisti recentemente sobre a psicologia da liderança, o palestrante comentou que uma das grandes barreiras para o aumento no número de mulheres na liderança é a incapacidade das empresas em impedir o crescimento de homens incompetentes. Segundo ele, as empresas ainda valorizam características vistas com mais frequência em homens, tais como autoconfiança (em vez de competência) ou carisma e oratória (em vez de humildade e reflexão), e com isso impedem que mulheres cheguem lá com seu estilo de liderança diferente. 

O que difere um investidor-anjo para uma investidora-anjo em negócios fundados por mulheres?

Patrícia: A grande diferença está no fato de que só uma mulher sabe o que é ser uma mulher. Desafios citados anteriormente, como assédio, síndrome do impostor, maternidade, senso de pertencimento, entre outros, são em muitos casos vividos apenas por mulheres. Possuir uma investidora que passou ou passa por situações parecidas e consegue ter não só mais conexão com o problema, mas também propor possíveis soluções, tem um valor inestimável para mulheres. Além disso, uma empreendedora que escolhe ter uma mulher em seu rol de investidores também está contribuindo para um ecossistema mais diverso.

Quais os benefícios de uma investidora-anjo estar em um negócio fundado por mulher?

Patrícia: O investimento-anjo tem, para muitos, um caráter pessoal. Você investe em negócios pelos quais se apaixona, que acredita que podem gerar impacto positivo na sociedade de diferentes formas. Investir em mulheres tem um caráter duplamente positivo: você não só está investimento em um negócio em que acredita, mas também proporcionando a diminuição no gap de gênero do qual tanto falamos e contra o qual tanto lutamos. Se nós, mulheres que tivemos a oportunidade de estar nesse papel de liderança, não lutarmos e contribuirmos para que mais mulheres tenham essa mesma oportunidade, fica difícil reclamar e criticar quando os números não são os que gostaríamos. Além disso, mulheres empreendedoras tendem a ser extremamente resilientes, determinadas e corajosas, pois já superaram as barreiras iniciais sobre as quais falamos anteriormente. 

Como a diversidade no mundo dos investidores-anjos pode impulsionar startups?

Patrícia: O valor da diversidade é muitas vezes minimizado por empresas e líderes. Diversidade traz riqueza de pensamentos, novas perspectivas, diferentes realidades. A criação de um ambiente que promove a diversidade reconhecidamente contribui com inovação e reduz riscos, e isso também vale para seu quadro de investidores. Se você só tiver investidores como você, que pensam como você, e que vivem na sua bolha, você deixará de ser exposto a diferentes visões que poderiam impactar diretamente em uma decisão ou ação sua.

Que dicas você pode dar para mulheres que buscam investimento no Brasil?

Patrícia: Busquem se conectar com outras mulheres no ecossistema para ter com quem trocar e construir sua rede de apoio. Confiem em sua capacidade e tenham a certeza de que vocês podem ser fundadoras, investidoras e líderes sem precisar mudar sua essência. Selecionem seus investidores: entendam o quanto eles valorizam pautas como diversidade e se os valores estão em linha com os seus. E apoiem outras mulheres!

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