Por Igor Couto, CEO e diretor de tecnologia da 1STi.
O mundo está enfrentando alguns dos maiores desafios da história. Novas doenças, mudanças climáticas, conflitos entre países, desigualdade social, pobreza, poluição, dentre muitos outros problemas. Para atenuar situações tão graves como essas, obviamente precisamos que o poder público seja mais efetivo em algumas esferas, contudo, o mercado corporativo também possui parte de responsabilidade. Até por isso, mais do que nunca, é fundamental que as organizações utilizem a tecnologia como uma verdadeira aliada ao solucionar esses desafios e, consequentemente, trazer um impacto positivo na vida das pessoas, na sociedade e no planeta.
Apesar dessa necessidade latente, observamos que uma boa parte das companhias ainda não dá tanta atenção a esse quesito. Estudos de mercado indicam que 62,5% dos departamentos de P&D+I em empresas brasileiras trabalham de forma distinta, fazendo com que o desenvolvimento de produtos ou modelos de negócios não respondam às necessidades do futuro.
Por conta dessa lacuna, é essencial que as marcas voltem a sua atenção para o segmento de deep tech, que tem como base o uso de ferramentas tecnológicas avançadas para resolver dificuldades que assolam todo o planeta. Ou seja, esses recursos são direcionados a ter um impacto positivo na vida dos seres humanos, tornando o mundo um lugar melhor para todos nós.
Nessa lógica de negócios, é possível aprofundar o que é ser uma organização na nova economia digital, de modo a amplificar um efeito benéfico global. Assim, tecnologias de última geração, como o 5G, AI, Big Data, computação quântica, blockchain, metaverso e tantas outras, são aplicadas em desafios reais e com um viés humanizado, através de uma arquitetura que garanta novas experiências em plataformas modernas amplamente acessíveis.
APLICAÇÃO DE IMPACTO SOCIAL
No tratamento de doenças, por exemplo, a deep tech tem sido um meio para identificar fatores sociais e ambientais do paciente recorrendo à fala durante a consulta. Com isso, a documentação clínica é agilizada e, ao mesmo tempo, a jornada do indivíduo é personalizada, uma vez que o processo conta com o mapeamento genético e testes clínicos descentralizados. Dentro desse assunto, ainda vale destacar que outra forte linha de atuação do segmento é em saúde digital, conseguindo democratizar o acesso da população a serviços mais eficientes.
Já para mobilidade no âmbito urbano, a categoria tem sido associada ao desenvolvimento de modelos de negócio mais justos, confiáveis e descentralizados para economia do compartilhamento, como é o caso dos aplicativos de entrega. Algumas das soluções observadas nesse sentido são veículos autônomos não tripulados, como entregas ou mapeamentos visual por drones, além da otimização do fluxo de pessoas em áreas de grande concentração populacional.
Ou ainda se olharmos para o meio ambiente, a deep tech tem combatido o aquecimento global não só escalando plataformas de eficiência energética e energia limpa, mas também promovendo a expansão dos modelos de crédito e compensação de carbono, o desenvolvimento de cadeias de fornecimento mais sustentáveis e plataformas de apoio a economia circular.
Esses são apenas alguns exemplos de como esse novo conceito não se trata apenas de uma bandeira estratégica que está na moda para o mundo corporativo. É uma forma de produzir ferramentas tecnológicas concretas, aproveitando o melhor que a digitalização de processos tem a oferecer, além de ajudar a desenvolver a experiência do cliente de uma maneira sustentável, escalável e humana.
Qualquer empresa que tenha em sua agenda a intenção de continuar relevante por meio dessas características deveria adotar a deep tech. O poder de diferenciação que a categoria cria com recursos inovadores, especialmente para a nova economia digital, é um grande fator para amplificação dos resultados de negócio. O motivo disso? É uma tecnologia com alma, que compreende a essência da sua função em mudar a cultura e os valores da sociedade, indo muito além da robótica, algoritmos ou semicondutores.
Portanto, as empresas devem colocar uma lente mais crítica nos seus investimentos de inovação. Só assim é possível que o resultado final das suas escolhas sejam capazes de proporcionar um impacto realmente positivo naqueles que estão ao seu redor. Com organizações abertas a propostas, de fato, inovadoras, certamente conseguiremos caminhar rumo a um verdadeiro avanço tecnológico e social.