Por Camely Rabelo, co-founder da Escola Exchange.
Nos últimos meses os destaques das notícias de startups na mídia são muito mais os layoffs que os grandes aportes. As demissões em massa vem atingindo diversas empresas desde fintechs até foodtechs, entre os nomes estão: Ebanx, Kavak, Facily, Vtex, Nomad, Favo, Liv Up, entre outras.
Um levantamento do Layoffs Brasil, movimento que tem como foco ajudar profissionais de tecnologia a se recolocar no mercado, aponta que ao menos 3.900 funcionários foram desligados de startups brasileiras em 2022, mas o total pode chegar a mais de 5.600 demissões.
Um conceito antes que era muito dito entre as empresas de tecnologia, o famoso status de unicórnio, aquele crescimento acelerado pautado em “Cash Burn” a fim de alcançar o mais rápido possível o patamar de um bilhão de dólares de valuation, como se fosse uma corrida de 100 metros, passa a ser substituído pelo conceito do camelo, que consegue ter um crescimento menos acelerado, mas saudável e equilibrado, o que faz percorrer trajetos mais longos.
Infelizmente a realidade é que com tanto dinheiro na mesa as startups acabam ficando mal acostumadas, gastando dinheiro indevidamente, baixando a régua de exigência do crescimento saudável e seguem rodando no vermelho. Isso não é positivo para a saúde financeira das organizações e para a saúde mental dos colaboradores.
Quando existe esse movimento de demissões em massa, claro que existem pessoas que vão buscar recolocação em outras empresas, mas existem pessoas que vão aproveitar essa oportunidade para abrir seu próprio negócio ou trabalhar de forma autônoma, o que gera novas oportunidades e novos desafios.
Ou seja, essa também pode ser a oportunidade, ou pelo menos um momento para repensar na carreira, de pensar em uma transição ou no empreendedorismo. Os contratantes devem enxergar como uma oportunidade de aprendizado, sendo mais eficientes e antecipando que isso não aconteça.
Certamente estão mudando os líderes e os liderados. Só quem passou por uma demissão em massa ou teve que fazer uma sabe e não deseja passar por isso novamente. Eu mesma tive que fazer uma demissão em massa e logo em seguida resolvi largar o mundo das startups e empreender no formato bootstrapping, o crescimento é menos acelerado mas é saudável e não deixa rastros negativos na vida dos colaboradores.
Acredito fortemente que líderes que passaram por isso estão mais atentos aos sinais de imprudência dos founders quando dizem “faça qualquer coisa mas não pare de contratar” e liderados estão mais atentos para estudar bem mais as propostas irrecusáveis antes de aceitar.
Importância de uma liderança
O fundamental para este momento é focar no desenvolvimento, especialmente em líderes de operações de crescimento. Capacitar esses líderes a utilizar as melhores práticas e modelos de gestão operacional e liderança de equipe para alcançar o equilíbrio saudável das operações, unindo gestão eficiente e desenvolvimento de uma equipe de alta performance.
Sendo assim, o fundamental é ter uma base para ajudar nessa nova fase das empresas e das carreiras dos seus profissionais em vários sentidos. Por exemplo, para os líderes que estão em Startups em crescimento acelerado, a contratação rápida de bons profissionais é uma pauta diária e saber fazer uma contratação de alta performance para o time de vendas tem que ser uma prioridade.
As operações que estão em aceleração precisam de líderes comerciais com uma visão de como criar uma máquina de geração de demanda em parceria com líder de marketing, garantido a saúde do resultado comercial e a previsibilidade das entregas.
E para líderes que estão em empresas com baixa eficiência operacional, saber sobre gestão em vendas vai ajudar a ter uma visão clara dos gargalos para corrigir previamente e evitar uma possível demissão em massa ocasionada pela pressão por resultados agressivos e a baixa performance dos vendedores.
Essa transição do mercado exige que os líderes de vendas sejam ainda mais eficientes para conseguir entregar resultados extremamente agressivos com uma quantidade menor de colaboradores. Antes com altos investimentos e um crescimento desordenado, os líderes acabavam focando em trazer resultado independente da eficiência operacional, da saúde financeira da operação comercial e, em alguns casos, até independente do bem-estar da equipe.
Com as novas configurações políticas e financeiras do mercado, o líder de uma operação de crescimento passa a ter um papel fundamental de manter o crescimento da operação de forma mais saudável, agora com menos recursos ou equipe.