Por Wagner Moraes, CEO da A&S Partners.
Quando falamos em concentração bancária, também falamos de uma economia desigual e prejudicial ao consumidor final que se vê envolto em uma bolha econômica dominadora e que o deixa sem opções. Ter boa parte do dinheiro de uma nação nas mãos de poucos é ruim em qualquer país, no nosso caso é mais ainda em função de termos uma concentração de, aproximadamente, 80% das transações financeiras passando nas mãos de apenas cinco principais Bancos: Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e CEF.
Esta concentração bancária, diminui muito a oferta de crédito para expansão, investimentos e capital de giro para suportar as operações das empresas. Isso porque os Bancos podem ser mais seletivos ao “apertar” ou “afrouxar” a oferta de novas linhas de crédito. O custo do dinheiro, por consequência, também é elevado em função da baixa disponibilidade de linhas, bem como controle dos 5 Bancos no balizamento do custo do dinheiro. A qualidade do serviço bancário cai na mesma proporção, pois os cinco maiores Bancos ainda estão bastante acomodados e não se preocupam com a qualidade dos serviços.
Vou dar um exemplo: se uma pessoa física, ou uma pequena empresa, precisar resolver um problema referente a sua conta corrente, a sua situação se torna uma verdadeira “via crucis”. Esta pessoa ou empresa vê que um problema que poderia ser solucionado em poucos minutos, acaba se estendendo por horas, dias ou até meses. Quem nunca passou ou viu alguém passar por isso com um determinado Banco?
O estímulo à concorrência é bom para qualquer setor econômico. Com ele, aumentam as possibilidades de negócios, diminui a força dos grandes grupos e oligarquias no tabelamento de preços e qualidade dos serviços, ainda mais no setor bancário cujo preço que se paga para fazer transações é muito caro, com tarifas ainda fora da realidade e possibilidade de margens de lucro de até 15.000% em determinados serviços prestados. Sem contar a oferta de crédito a preços justos que é fundamental para colocar o país novamente na rota do crescimento.
Existe um indicador que se chama NPS – Net Promoteur Score que mede a qualidade do serviço de diversas empresas e setores. Na atividade bancária esse indicador dos grandes Bancos está beirando a zero, enquanto o dos Neobancos está bem acima, evidenciando a péssima qualidade de serviços prestados pelos grandes Bancos. Outro ponto importante a destacar é que a concentração bancária também abre espaço para a cobrança de tarifas cada vez mais elevadas para a manutenção da conta corrente, bem como transações bancárias. Isso é muito ruim para a economia com um todo.
O Brasil possui a 2ª maior concentração bancária do mundo, só perde para a Holanda, o qual é um caso à parte, pois equivale afirmar que praticamente só tem 2 bancos na Holanda, além de levarmos em conta a dimensão geográfica e populacional. Nos EUA existem mais de 14.000 instituições financeiras, enquanto no Brasil esse número fica por volta de 170 I.F.´s, conforme dados da Febraban, ainda falta muito. Pelos estudos da A&S Partners, a Alemanha possui concentração bancária de 35% entre os 10 maiores bancos, USA apresenta 43%, dentre vários outros países mais saudáveis.
O impacto da descentralização para o consumidor final é extremamente positivo, podemos ter acesso a mais linhas de crédito com preços bem menores, além de prazos mais longos. Para se aprovar um financiamento em um Banco tradicional, por exemplo, é um processo muito prolongado, custoso e pode levar meses.
Com a descentralização, também pode haver uma redução nas tarifas cobradas sobre as transações bancárias. Hoje, enquanto os Bancos tradicionais ainda cobram preços absurdos, muitas fintechs e Bancos Digitais nem cobram tarifas sobre movimentações financeiras, sem falar na qualidade do atendimento, pois os digitais conseguem resolver a grande maioria dos seus problemas com apenas um clique no seu aplicativo e no conforto da sua casa. Tendo destacado estes pontos importantes, reafirmo que a descentralização bancária é fundamental para tornar o mercado mais saudável, mais competitivo e com consumidores finais mais valorizados e felizes.