Por Flávia Pini, sócia da HiPartners.
Após anos de recesso por causa da crise do coronavírus, em 2022 o varejo começou a se recuperar do tombo. Porém, a inflação mundial, a alta dos combustíveis, a redução de impostos em diversas categorias na economia e as incertezas políticas no Brasil voltam a acender um alerta no segmento.
Dados do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) indicam queda de 1% em novembro em relação ao mesmo mês do ano passado. Para dezembro, as empresas projetam retração de 3,6%, ante a perspectiva de 3,2% no último levantamento. Em janeiro, a receita do setor deve piorar, com queda de 6,4% em comparação ao mesmo período de 2022.
Por outro lado, os empreendedores do setor confirmam sua resiliência, ao passo que apostam em inovação para driblar os desafios. Uma pesquisa realizada pela Cortex, empresa líder em inteligência de vendas B2B na América Latina, revelou que, no Brasil, os setores de varejo e serviços são os que mais investem em tecnologia para auxiliar o crescimento do negócio.
O comércio de vestuário e acessórios, os produtos alimentícios e os produtos farmacêuticos são os que mais se destacaram. O estudo analisou 1,1 milhão de empresas, entre matrizes e filiais. Dessas, 24,9% foram identificadas com alto nível de tecnologia, 65% com médio e 25% com baixo nível de tecnologia.
Os números demonstram uma realidade: o varejo e a tecnologia definitivamente andam em sincronismo. Enquanto o comportamento do consumo se transforma, o outro lado do balcão deve estar com seu aparato de plataformas e integrações a postos. E junto de um legado que por vezes se tornou uma colcha de retalhos devido à celeridade obrigatória no combate aos percalços da pandemia, somado à agenda paralela na adoção de novas soluções, quando a análise do desafio se aprofunda, a complexidade dos problemas aumenta.
Mas, como o nosso sócio Alberto Serrentino gosta de dizer, é em ambientes complexos que se deve pensar simples, porque se o caos interno for maior do que o externo, qualquer negócio se torna insustentável.
Se olharmos pela perspectiva de um CEO de uma empresa de varejo, orquestrar pessoas, processos e tecnologia nunca foi algo tão desafiador mas, ao mesmo tempo, colaborativo. O mindset de todos os times está mais equiparado, a mentalidade de “silo” tem se provado cada vez menos eficiente e já não é preciso investir tanto tempo na defesa e priorização da inovação como a 2, 3 anos atrás. Talvez o maior impasse atual esteja em como encontrar soluções sem cair no paralelismo, ou sem estar enviesado apenas no próprio negócio.
A inovação aberta, por exemplo, promove o desenvolvimento disruptivo e aumento da eficiência por meio da descentralização da mentalidade inovadora – resumindo: é a ruptura cultural corporativa que amplia as possibilidades que serão colocadas à mesa no momento de resolver problemas.
Neste sentido, a busca por por agentes externos para fazer parte do ecossistema de inovação traz diversas vantagens:
- Agnosticismo: Amplia a visão e identifica players que, por vezes, não estariam no radar comum ao considerar soluções apartidárias e independentes;
- Curadoria especializada: Conta com equipe habilitada, com foco exclusivo e acesso tanto para atrair e originar empreendedores quanto para avaliar criteriosamente a geração de valor da solução no cenário real;
- PMF (Product Market Fit) legítimo: Aumenta a velocidade de adoção, com tecnologias que, mesmo emergentes, realmente resolvam dores e mudem ponteiros de gestão e performance;
- Redução de custos: Minimizar a necessidade de criar estruturas internas, contando com a base de pessoas e processos do agente externo.
A indústria de Corporate Venture Capital (CVC) foi uma das respostas encontradas para a alta demanda de inovação em relação à agenda de transformação digital do varejo e no combate aos desafios inerentes do período pós pandêmico. Ainda que os resultados deste modelo venham a longo prazo e podem, de certa forma, enviesar o desenvolvimento da startup, dependendo da relevância do varejista no cap table, alguns grandes players no Brasil criaram suas próprias estruturas.
No caso da HiPartners, um venture capital especializado em varejo, muitos dos investidores são varejistas que, ainda que possuam capacidade para levantar ou até já possuam verticais independentes para acesso à inovação, seja através de CVC ou de labs, desejam usufruir do know-how e expertise do time envolvido, abastecendo-se da comunidade que é criada entre investidores, empreendedores e outros players do varejo. É um ciclo de colaboração que gera valor mútuo entre todos os envolvidos.
Independentemente do caminho, a inovação aberta conjugada com bons parceiros pode trazer imunidade aos desafios iminentes do setor e criar recursos que vão além do core business, dando passos largos para um futuro próximo.