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Na sua empresa o lay off tem cor?

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

Por Deives Rezende Filho, CEO e fundador da Condurú Consultoria.

A pergunta, em tom de provocação, que uso para dar título a este artigo me chamou atenção em um post que vi publicado na página do LinkedIn do Instituto Identidades do Brasil. Esse é um questionamento extremamente importante e oportuno para debater o cenário que tomou conta do mundo corporativo após o assassinato do afro-americano George Floyd e da ascensão do movimento Black Lives Matter em todo o mundo, em contraponto com a realidade atual marcada pela onda de demissões em massa.

A repercussão do caso fez as empresas acordarem para a questão da diversidade e inclusão dos chamados grupos minorizados, protagonizando um verdadeiro boom de programas voltados para D&I. Mas o que estamos vendo hoje, apenas dois anos após esse boom acontecer, é uma derrocada desses programas e de todo investimento feito em contratações ‘afirmativas’ sob o pretexto dos estragos na economia provocados pela pandemia.

Sim, as empresas – especialmente as voltadas para a inovação e tecnologia – apostaram alto num aquecimento de mercado que acabou arrefecendo com a crise e o jeito de ‘consertar’ o estrago foi ‘surfar’ na onda dos lay offs. O problema é que, nesse mar agitado e incerto, as vagas preenchidas por negros, mulheres e LGBTQIAP+ foram as primeiras a ‘afundar’. Uma reportagem do “The Washington Post” mostra que mulheres representavam cerca de 39% dos trabalhadores no setor de tecnologia, mas somam 46% do total de  demissões desde setembro de 2022. Além disso, o artigo diz que profissionais de origem hispânica também têm mais chances de estar entre os demitidos do que entre os funcionários mantidos.

Para especialistas, o corte desproporcional de mulheres e pessoas não-brancas tem a ver com o nível dos cargos ocupados: houve mais demissões nos níveis iniciantes, onde há mais diversidade, do que nos níveis seniores. Mesmo assim, a pergunta que não quer calar é: em meio aos lay offs que vemos, quais empresas são (de verdade!) aliadas da D&I?  Será que essas empresas, incluindo aí as big techs, só pensaram no lucro ou, realmente, queriam apostar em Diversidade & Inclusão quando focaram seus programas na área?           

O fato concreto por trás desse questionamento é que as últimas demissões em massa nas maiores empresas de tecnologia do mundo têm deixado uma – perigosa! – lacuna de diversidade no setor. Só para se ter uma ideia, segundo levantamento divulgado pela Textio, empresa que trabalha com a criação de anúncios de emprego imparciais, as ofertas de vagas ‘afirmativas’ caíram 19% no ano passado, em comparação com 2021. De acordo com a pesquisa, apenas cargos em Engenharia de Software e Ciência de Dados tiveram declínios maiores, de 24% e 27%, respectivamente.

Não se pode negar que essas demissões colocam em risco os esforços, dentro do universo corporativo, para se alcançar a equidade e a maior representatividade de todos os grupos que compõem uma sociedade nos quadros das empresas, inclusive nos cargos de liderança. Mesmo diante de um momento tão difícil, o compromisso com a Diversidade & Inclusão deve ser mantido. Caso contrário, as empresas podem comprometer – e muito – sua capacidade de inovação.

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