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O que as mulheres querem é uma justiça de gênero transformativa

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

Por Carine Roos, CEO e fundadora da Newa.

Entramos mais um ano no mês internacional das mulheres e o cenário pouco mudou: historicamente a participação feminina no mercado de trabalho é menor, quando não é totalmente excluída de certos setores e funções, o preconceito de gênero ainda impera, mesmo com o trabalho híbrido ainda falta flexibilidade no ambiente de trabalho e as empresas não dão as condições minimamente ideais para que se possa ter uma vida com mais qualidade. 

Pesquisas seguem mostrando que mulheres ganham menos do que homens em cargos semelhantes. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre a importância da legislação de transparência salarial apontou que, globalmente, as mulheres ganham salários, em média, 20% menores do que os homens. 

No Relatório Mulheres Brasileiras, da Opinion Box, segundo as mulheres entrevistadas, 50% das empresas têm menos mulheres em cargos de liderança e 51% já se sentiram prejudicadas na sua trajetória profissional por serem mulheres. Com relação ao mercado de trabalho, 71% acreditam que têm piores condições e oportunidades que os homens.

Embora observamos pequenos avanços, o que ainda impera é o conceito de smart economics, isto é, a suposição de que as mulheres sempre trabalharão mais e serão mais produtivas do que seus colegas do gênero masculino. 

Além disso, elas usarão a renda adicional de forma mais produtiva do que os homens. Assim, o smart economics defende que uma maior ‘igualdade’ de gênero, entendida como um aumento da participação das mulheres nos mercados de trabalho, terá um impacto significativo no crescimento económico.

Para remar contra o pensamento neoliberal, precisamos criar estratégias, recursos e práticas que nos levem em direção a uma justiça de gênero genuína. P

ara que isto aconteça, é necessário atacar o problema pela raiz, promovendo uma transformação das relações de poder dentro das organizações e uma redistribuição de recursos mais equitativa. Lembrando que a mudança efetiva só acontece no coletivo.

Desde o período das grandes navegações e o processo de colonização que formou as estruturas sociais, econômicas e de gênero vigentes, o trabalho remunerado articulado era dirigido apenas e tão somente ao homem branco europeu.

Como resultado, o que temos visto é uma estrutura hierarquizada em raça, classe, gênero e sexo nas organizações, a aceitação como natural da heteronormatividade, a misoginia e uma ditadura sobre os nossos corpos.

No aspecto humano, a racionalidade tem sido um fator determinante na construção da masculinidade tóxica, fazendo com que os homens reprimam seus sentimentos e evitem demonstrar sua vulnerabilidade.

Além do redesenho das organizações para uma cultura mais inclusiva de gênero, precisamos de lideranças mais empáticas e compassivas que busquem promover uma maior segurança psicológica saindo de uma mentalidade de comando-controle para uma liderança humanizada que tem como premissa o resgate do afeto nas relações.  

Ainda, promover uma cultura de sororidade e união entre nós mulheres, abrindo caminhos e influenciando positivamente nesta agenda a fim de dar espaço a outras mulheres tornando os processos de seleção mais abertos, oferecendo mentorias, criando grupos de afinidades, montando uma rede de suporte e proteção.

A escritora feminista Audre Lorde lembra que “como mulheres, fomos ensinadas a ignorar nossas diferenças ou a vê-las como causas de separação e suspeita, e não como forças de mudança. Sem comunidade, não há libertação”.

Ela toca em um ponto muito importante: o da interseccionalidade. Esse movimento de união deve contemplar as diferenças entre as mulheres negras, lésbicas, trans, com deficiência, marginalizadas e pobres.

Tornar-se consciente do poder e dos privilégios que temos, homens e mulheres, é a chave para a equidade e para uma distribuição de recursos em prol de uma justiça de gênero.

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