Siga nas redes sociais

Search

Não basta ter crédito: a sobrevivência das PMEs depende da educação financeira

Compartilhe

Foto: divulgação.

Por Elber Laranja, sócio-fundador da fintech Antecipa Fácil.

Muito se fala em empreendedorismo. Somos mais de 20,1 milhões de empresas ativas no país, segundo o Sebrae e apesar disso, a tarefa continua a exigir múltiplas habilidades.

Para sobreviver no mercado, todo empreendedor precisa ser um pouquinho engenheiro, financista, médico, vendedor, provando que a ciência de unir a técnica à prática, não é tarefa fácil. E dentre  essas habilidades, a que exige mais é também a mais rara.

Até hoje não encontrei ninguém nascendo com fortes habilidades gerenciais, não é à toa que o IBGE contabiliza que 48% das empresas brasileiras fecham em até três anos, na grande maioria, pela falta de uma gestão eficiente.

E acredite, não se consegue ser um bom gestor por inspiração. Ser gestor de fato, requer muita transpiração, busca pelo conhecimento, envolvimento em alguns fundamentos da vida do empreendedor, como na área financeira, tributária e contábil. São características essenciais para que um negócio possa funcionar e ter sucesso.

Após anos como consultor financeiro, ouvindo e observando centenas de empresários, principalmente os pequenos e médios, observo que de modo geral a educação financeira não está em pauta na vida empreendedora.

O que é ruim, porque o empresário acaba pagando um preço muito alto por não saber qual é o ponto de equilíbrio financeiro do seu negócio.

Para se ter uma ideia, algo muito comum é quando o gestor registra no seu caixa um saldo positivo e com base nele acha que está tendo lucro. Isso  muitas vezes é um engano.

A situação acontece porque ele não sabe diferenciar a margem de contribuição de lucro, não se dá conta que a operação do mês corrente gera passivos que se realizarão no futuro  e não compreende a diferença da visão de caixa e competência para avaliar o resultado da empresa.

Em decorrência disso, negócios que poderiam prosperar, gerar mais empregos, e principalmente, mais lucro ao empreendedor, não decolam simplesmente pela falta desses fundamentos tão importantes. 

Outro erro comum é confundir recursos de pessoa física   com os da empresa. Na sua pesquisa sobre Hábitos de Uso de Produtos Financeiros, o Sebrae diz que a prática de misturar as finanças pessoais com as corporativas já foi adotada por 60% dos donos de pequenos negócios.

O que revela um cenário pouco otimista sobre a maturidade em termos de gestão financeira do empreendedor brasileiro.

Imagine uma empresa que não calcula seu preço de venda corretamente, o que é muito comum. Ela pode acabar com um furo de caixa, e pior, sem saber o por quê. O empresário poderá até fazer um empréstimo para cobrir, mas isso não resolverá seu problema.

É o famoso saco sem fundo, pois você coloca dinheiro, tem um alento temporário, mas o dinheiro some novamente e assim o empresário começa a se endividar com outras linhas de crédito.

O destino final sabemos bem aonde vai dar: inadimplência, fechamento de postos de trabalho, quebra da empresa, etc. Então, a utilização do crédito tem de ser muito racional e consciente.

Nós somos muito carentes de educação financeira e espero que esse assunto possa ser debatido e que os empreendedores busquem as ferramentas que existem hoje para mudar essa realidade.

Por isso, a solução não é apenas oferecer crédito. É preciso dar crédito sim, mas não simplesmente para quem está precisando, e sim, principalmente, para quem saberá usá-lo. Muitas vezes, quando isso não é respeitado, esse crédito acaba decretando o fim daquela empresa.   

Na direção de uma fintech, preferimos conversar mais com o empreendedor e torná-lo consciente de como usar esse crédito para ter sucesso em sua jornada.

É certo que o cenário atual do país não ajuda. A pandemia, na verdade, agravou uma situação que já era ruim. O Brasil não vive momentos de crise, o Brasil é um permanente estado de crise com espasmos de prosperidade e isso sempre se reflete nas empresas.

Quem é empreendedor sabe disso. Somos pressionados pelos bancos todos os dias. As taxas são altas e a taxa de juros e custo efetivo de uma operação de crédito não são  compostas somente pela Selic.

Trata-se de um dos elementos balizadores para a formação do preço de crédito, mas existem ainda a carga tributária, o custo operacional,  o custo de captação do dinheiro, e principalmente, o prêmio de risco.

Quanto mais o cenário é adverso, com retração econômica e instabilidade jurídica, mais os agentes financeiros estarão expostos e por consequência, terão de precificar de forma majorada o seu prêmio de risco. 

Somado a isso, quando um agente financeiro tem a consciência de que os empreendedores não têm essa educação financeira e o cenário econômico revela um momento de inadimplência ímpar, talvez sem precedentes, o agente financeiro se protegerá aumentando o prêmio de risco e deixando de fazer crédito.

Resultado: muitas empresas que poderiam aproveitar esse crédito para realizar uma boa gestão financeira também acabam prejudicadas. Eu diria que aqui está o momento mais delicado da formação do custo efetivo total do valor de um crédito que o empresário adquire.

A vez da fintechs

Nesse cenário, as fintechs vem revolucionando o mercado, antes dominado pelos grandes bancos, e funcionam como um oásis para o empreendedor que está em busca de qualidade nos serviços financeiros.

Não estou aqui para demonizar os bancos, mas até pouco tempo atrás o fato de termos poucos agentes financeiros para suprir o mercado, fez com que a qualidade do serviço não fosse satisfatória, o que é natural.

As fintechs são uma alternativa interessante, porque trazem uma parte desses serviços, não todos, mas alguns deles e os oferecem de forma mais especializada, com o uso de tecnologia e numa relação mais próxima ao seu cliente e suas necessidades.

Um exemplo muito interessante dessas inovações são as plataformas de crédito que atualizam recebíveis como garantia para se obter recursos para o giro financeiro de curto prazo. 

A antecipação de recebíveis é a única linha de crédito que não endivida o tomador. Porque antecipar um direito creditório é o mesmo que liquidar antecipadamente um ativo que já pertence a sua empresa.

Então você produziu, vendeu, entregou, faturou e tem um ativo de direito creditório, mas você vai recebê-lo só daqui, 30, 90, 120 dias.

O que você pode fazer é antecipar isso, colocando dinheiro no caixa e não se endividando por isso a taxas bem melhores do que outras linhas que não envolvem “garantias reais”. 

Nos aprofundando pelo Direito Creditório, quando você associa uma nota fiscal à entrega de um bem ou serviço, e o seu cliente manifesta que aceitou o que você entregou, ele gerou para ele uma obrigação de pagar e o direito de receber para o vendedor.

A Lei 13.775 de 2018, que é a Lei da Duplicata escritural, no seu artigo 10 diz que são nulas todas as ações que limitam a livre circulação do Direito Creditório em sua forma escritural ou cautelar, ou seja, a lei confere aos vendedores que recebem a prazo, o direito inquestionável de utilizar seus ativos creditícios para fazer operações de crédito a despeito de cláusulas contratuais, constantemente utilizadas por grandes empresas compradores, que vedam essas operações. 

Entre os nossos conhecidos desafios para empreendedores e as possibilidades que se abrem com os avanços tecnológicos e novos modelos de negócios voltados para o mercado financeiro, não dá para deixar de lado a menção à pauta de investimentos no capital humano e produtividade.

Enquanto esses fundamentos não estiverem contemplados pelas políticas públicas e, porque não da iniciativa privada, todos os esforços para melhorar a eficiência das empresas ficarão fadados a um sucesso relativo e pouco perene.

Compartilhe

Leia também

Receba notícias no seu e-mail