Por Frederike Mette, diretora acadêmica de Negócios e Tecnologia e coordenadora do curso de Administração da ESPM.
É assim que podemos interpretar algumas ações e estratégias que estão acontecendo, e outras que estão por vir.
Resultados percebidos como a redução da taxa de juros, a desoneração de impostos de alguns produtos da cesta básica e o programa Desenrola vêm com a esperança de mais recursos na mão da população.
Todas essas ações buscam reduzir taxas de endividamento imediatas assim como um aumento da liquidez por parte das instituições a fim de gerar mais dinheiro na mão das pessoas.
Entretanto, talvez já tenhamos visto esse “filme” antes, com o mesmo enredo, porém diferentes atores.
Dados recentes, como o levantamento de junho de 2023, realizado pela Serasa, indica uma queda de 450 mil inadimplentes em relação ao mês anterior, contando com 71,45 milhões de brasileiros em situação de inadimplência.
As faixas etárias com as maiores fatias da população com nome restrito são de 41 a 60 anos, representando 34,8%, e 26 a 40 anos, correspondendo a 34,7% do total de inadimplentes. A faixa etária acima de 60 anos representa 18,1%.
Já o nível de endividamento do brasileiro caiu pela primeira vez em 7 meses e chegou a 78,1% das famílias em julho. Em janeiro deste ano essa taxa era de 79,1%.
Para se ter uma ideia, no ano passado (2022), o número de famílias com dívidas em atraso atingiu o maior patamar desde março de 2010, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
O estudo mostrou que 76,6% das famílias relataram dívidas a vencer, ou seja, estão endividadas. Em 2021, a proporção de endividados era de 66,7%.
Percebe-se, claramente, melhorias nestes indicadores. Desde o ano passado tais índices já estavam perdendo o fôlego e reduzindo a aceleração, visto melhorias macroeconômicas que estava acontecendo na época, como o mercado de trabalho e políticas de transferência de renda.
Entretanto, desde julho, já são perceptíveis mais avanços positivos na redução de endividamento e inadimplência, prováveis reflexos do início do Programa Desenrola e redução da taxa básica de juros.
A redução da taxa Selic para 13,25% ao ano no início de agosto, mostra que a economia começa a caminhar.
Portanto, percebe-se que há um reposicionamento econômico por parte do governo em todos os sentidos, que busca aumentar o poder de compra dos indivíduos com menos juros, menos impostos sobre alimentos e recuo de endividamento.
Tal movimento e estratégias utilizadas não são novidades em Brasil, uma vez que tais direcionamentos ocorreram em 2017 e 2018.
A esperança de melhoria econômica aos brasileiros está aí e traz retomada de consumo. Mas fica a reflexão, quais os impactos dessa retomada?
Ou seja, será que estas não tendem a piorar o endividamento, sendo que incentiva a compra em pró da economia?
Me parece muito mais uma saída para que indicadores macroeconômicos voltem a ser positivos e satisfatórios, independentemente de como resolver. Uma estratégia de curto prazo que pode agravar o endividamento e a inadimplência de longo prazo.
Novamente, instituições e órgãos insistem em auxiliar os endividados somente de modo a remediar, com negociações de crédito e gerando mais recursos para aumentar o poder de compra.
Em contrapartida, pouco se fala sobre prevenir, criar programas de auxílio em busca de um bom comportamento financeiro e, estas sim, seriam ótimas estratégias para um bom crescimento econômico, com foco no bem-estar individual.
Portanto, fica o questionamento, quanto tempo será que irá durar esse novo suspiro econômico aos brasileiros?