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Retorno ao trabalho presencial e o impacto na saúde mental

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Caue Stefani da Vittudeo
Foto: divulgação

Por Cauê Stefani, CTO da Vittude.

Essa semana, conversando com diversos colegas profissionais de tech, me surpreendi com uma notícia inusitada.

Líderes e suas equipes estão sendo notificados pelas empresas de que terão de voltar 100% ao trabalho presencial caso queiram manter o contrato de trabalho.

Para muitos, isso implica voltar a morar na cidade de São Paulo, já que o home office permitiu a saída dos grandes centros urbanos em busca de mais qualidade de vida nas pequenas cidades, o que inclui ambientes com menos poluição, trânsito, violência.

Essas empresas estão seguindo o modelo radical (e autoritário) de Elon Musk (Twitter), Bob Iger (CEO da Disney) e Tim Cook (CEO da Apple) de abolir o trabalho remoto ou forçar a presença dos funcionários no escritório por pelo menos 4 vezes na semana.

Só que esqueceram de perguntar aos funcionários e a decisão está indo na contramão do que eles querem. Uma pesquisa de abril/maio de 2023, conduzida pela Infojobs, que ouviu mais de mil trabalhadores no Brasil, revelou que 85% dos profissionais trocariam de trabalho por mais dias de home office.

O mesmo cenário se repete nos Estados Unidos: uma pesquisa da Owl Labs mostrou que se a possibilidade de trabalhar de casa fosse abolida, 66% dos trabalhadores procurariam imediatamente por outro emprego que lhes ofereça flexibilidade, com 39% pedindo demissão.

Some-se a isso a dificuldade de encontrar talentos na área tech, há uma defasagem de profissionais no setor que mostra que, até 2030, 85 milhões de empregos não serão preenchidos devido à falta de qualificação, segundo a Korn Ferry.

Para falar sobre as vantagens do home office, trouxe uma pesquisa da PwC Brasil e do PageGroup, que ouviu 289 executivos e 633 colaboradores no início de 2023 para investigar as expectativas das pessoas em relação ao trabalho presencial. O resultado do estudo mostrou que, quanto mais jovem a geração, maior a preferência pelo home office.

Um alerta para os que insistem em manter antigos modelos de trabalho: 64% da Geração Z ouvida na pesquisa prefere o trabalho home office. Detalhe importante: essa geração representa os profissionais do futuro e eles não estão nada contentes com o 100% presencial.

Para ilustrar o resultado da pesquisa, vou dar meu exemplo pessoal, trabalhando atualmente de forma 100% remota. Tenho certeza de que muitos de vocês vão se identificar com minha rotina:

No trabalho presencial, gastava mais de duas horas diárias no trânsito para ir e voltar ao escritório. Hoje uso esse tempo para dormir até mais tarde e ainda me exercitar no início do dia e no final do expediente.

Já nos momentos de pausa, ou na hora do almoço, tenho tempo de qualidade com a família. O almoço caseiro é mais saudável e feito com menor custo. E ainda saio super energizado para o expediente da tarde. Com isso, minha produtividade aumentou, tenho mais foco e menos dispersão.

E do ponto de vista de liderança? Quais as percepções do home office?

Hoje meu time é composto por talentos de diferentes estados do país, algo impossível de acontecer se trabalhássemos de forma presencial. Muitas empresas contratam profissionais de tech de outros países. Como profissionais de tech, podemos fazer uso do trabalho assíncrono, quando necessário.

Consigo estabelecer uma relação de confiança baseada na entrega e o time está comprometido com os resultados. Dessa forma, o trabalho remoto permite uma redução de custos para a empresa, do ponto de vista de investimento em infraestrutura física. Quando necessário um encontro presencial, é possível recorrer aos espaços de coworking.

Então, por que as empresas têm resistência ao remoto?

Na minha visão são dois os motivos principais. Um modelo antigo de gestão, baseado no comando e controle, que para mim reflete a extrema inabilidade dos líderes em confiar e empoderar seus funcionários ou em descobrir novas formas de liderar equipes de forma remota.

E o segundo é a falta de visão de que os colaboradores são as peças mais importantes da organização e que uma gestão que prioriza a saúde mental é a que estabelece melhor relação ganha-ganha para todos.

Com mais qualidade de vida e uma saúde mental equilibrada, há um aumento do engajamento, do comprometimento, da produtividade e da inovação.

O mundo está passando por grandes mudanças e esse é o momento de repensar as antigas relações de trabalho e modelos de gestão que não levavam em conta o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e a saúde mental das pessoas.

Precisamos pensar juntos programas estratégicos que revisem essa lógica que reinou por anos nas organizações, da produtividade a qualquer custo.

Investir em saúde mental passa por entender quais são as prioridades das pessoas, o que as faz mais felizes, produtivas e engajadas. Isso claramente passa pelos modelos de trabalho home office e flexíveis. Para mim, essa é uma tendência sem volta, em especial para as próximas gerações.

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