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Como Mariana Dias, CEO da Gupy, quer evidenciar mais mulheres empreendedoras no país

Foto: Divulgação

Muitas vezes, o papel de uma empreendedora não está “apenas” em fundar um negócio, mas de inspirar, promover e ajudar outras mulheres a alcançarem um lugar ao sol no mundo do empreendedorismo.

Mariana Dias, cofundadora e CEO da Gupy, é empreendedora nata. Começou a inovar e a fazer negócios ainda na escola. Depois da criação da Gupy, ao lado de Bruna Guimarães, paralelamente, ela viu uma área de atuação: a de tirar mulheres empreendedoras das sombras e impulsionar todo o potencial que essas mulheres têm.

Conheça mais dessa missão no em mais um Economia SP Drops da série especial Empreendedorismo Feminino:

Como você decidiu se tornar empreendedora e qual foi a motivação por trás disso?

Mariana: Até me tornar uma, nunca tinha pensado em ser empreendedora, apesar de sempre ter amado criar e inovar. Por exemplo, no ensino médio eu vendia bijuterias e esmaltes no colégio e, durante a faculdade, quando morei nos Estados Unidos, montei um grupo de dança para ensinar as norte americanas a sambarem. Porém, quando iniciei minha jornada profissional, meu foco era a carreira corporativa. Também nunca pensei em ir para a área de RH, mas sim para o marketing ou vendas. Foi enquanto trabalhava na Ambev que recebi a proposta de ir para o RH, com a promessa de que poderia voltar atrás caso não gostasse. Encarei a experiência e entendi o setor como uma mega área de negócios. Foi lá que conheci Bruna Guimarães, COO e cofundadora da Gupy. Trabalhamos juntas em vários projetos e, tentando resolver os desafios do processo de Recrutamento para torná-lo mais simples e assertivo, tive a ideia da Gupy. Viajamos juntas para um treinamento em Salvador e rascunhei o que se tornou o primeiro produto da Gupy nessa viagem. Cheguei no hotel, liguei para a família e falei que ia pedir demissão para colocar minha ideia em prática. 

Como você vê o papel das mulheres no mundo dos negócios e como isso evoluiu ao longo do tempo?

Mariana: Partindo da minha vivência como empreendedora e mentora de outras Fundadoras, vejo que a maioria das mulheres têm uma postura mais pé no chão na forma como apresentam os seus negócios para investidores, e isso às vezes pode ser entendido como falta de ambição, medo ou ter seus negócios interpretados como algo de menor potencial. Mas, na minha visão, é o oposto. Há muitos negócios super interessantes liderados por mulheres, com tamanhos de mercado enormes, sendo tracionados de forma brilhante. Porém, dada a falta de exemplo feminino de outras CEOs mulheres, elas ainda enfrentam muitos desafios de captação de recursos. Fundos tendem a lidar e questionar essas empreendedoras de formas diferentes dos homens, e isso se reflete nos menos de 2% de investimentos que são direcionados para startups lideradas por CEOe e fundadoras mulheres. Assim, a Bruna (COO e co-fundadora da Gupy) e eu vimos que poderíamos ajudar ainda mais essas empreendedoras não só por meio do nosso exemplo e mentorias individuais, mas também atuando de forma mais ativa sobre essa frente. Com isso, há 3 anos nos tornamos investidoras de startups fundadas por mulheres e também criamos o Máfia do Moscatel, que surgiu de um café da manhã na nossa casa, para o qual convidamos 20 Empreendedoras para compartilhamos aprendizados sobre a última rodada de investimento que levantamos em 2022, de 500 milhões de reais. Esse encontro foi um sucesso, e hoje o grupo reúne mais de 60 Fundadoras de startups em tração, que se encontram recorrentemente com o objetivo de estimular um ambiente seguro para trocas, networking, mentorias e compartilhamento de conhecimentos para impulsionar todo o potencial que essas mulheres têm. Costumo dizer que ainda somos poucas Fundadoras de startups no Brasil, mas não estamos sozinhas, e é de arrepiar ver como esse grupo tem um potencial enorme para criar os próximos grandes negócios do nosso país. 

Qual é a importância do networking e do apoio entre empreendedoras para o sucesso nos negócios?

Mariana: Fundamental. Eu tenho certeza que a minha trajetória enquanto empreendedora e, consequentemente, a história da Gupy, teria sido muito diferente sem a rede de apoio que temos aqui. Essa troca é essencial por vários motivos, como para aprendermos com a experiência de outras pessoas e, assim, evitarmos os mesmo erros ou copiarmos o que deu certo, e também nos manter perto de pessoas referência que podem, de alguma forma, nos ajudar com os desafios que temos no dia a dia. Isso tanto nos ajuda em momentos difíceis, por termos com quem compartilhar e nos apoiar, quanto nos desafia a ir além quando vemos que tem muita gente e empresa boa no mercado fazendo a diferença, o que nos inspira a fazer também. No Máfia do Moscatel, por exemplo, promovemos esse networking poderoso entre Empreendedoras que sofrem com os mesmo desafios e que podem ajudar umas às outras compartilhando aprendizados, conexões, erros e conquistas.

Quais são os principais obstáculos que as mulheres empreendedoras ainda enfrentam atualmente?

Mariana: O principal desafio para as mulheres é a falta de exemplo. Como CEO mulher, vivi e vivo até hoje momentos em que sou a minoria em uma sala cheia de executivos, e também vivi e vivo até hoje falas preconceituosas e excludentes. Isso afeta as mulheres e é importante termos essa consciência para enxergarmos as diferenças e, com isso, atuarmos para que um dia elas não existam mais. Quando uma empreendedora não tem exemplos ou sofre algum preconceito, isso afeta sua auto estima, aumenta sua síndrome de impostura e pode a tornar menos propensa a sonhar grande e correr riscos, tudo que é necessário para empreender e escalar um negócio de alto impacto. Então, sim, ainda temos muito o que fazer no ecossistema empreendedor para criar um ambiente mais igualitário e propício para essas fundadoras e CEOs mulheres.

Como você vê a representatividade das mulheres em posições de liderança e como isso influencia o empreendedorismo feminino?

Mariana: Na Gupy, temos eu como CEO, uma COO e uma CTO mulheres. Este já é um passo importante para termos exemplos femininos dentro da nossa empresa. Além disso, em todos os níveis hierárquicos, temos mais de 50% dos cargos ocupados por mulheres. Isso não foi por acaso, foi intencional e exige esforço. Estamos construindo uma cultura na Gupy em que as mulheres possam sentir que podem requerer uma promoção, podem pedir um aumento ou podem manifestar a vontade de se tornarem sócias, coisas que não são comuns vermos no mercado como um todo. Essas atitudes vêm mais naturalmente para homens, sobretudo nas empresas que não têm mulheres em cargos de alta liderança e não há exemplos de altas lideranças femininas. Há diversas pesquisas que apontam que as mulheres se arriscam menos neste sentido, e por isso temos que ser mais intencionais até que as diferenças diminuam. Como disse, não acho que essa diversidade na Gupy se dê só pelo fato de eu e a Bruna sermos mulheres, e sim porque somos realmente diversos desde a origem: somos quatro pessoas fundadoras, sendo 2 mulheres, 3 pessoas LGBTQIAP+ e um homem hétero cisgênero. Entendemos que Diversidade & Inclusão não é um projeto, mas sim uma estratégia de negócio, com metas e ações claras sobre essa frente, pois, além do impacto social, já é comprovado que diversidade gera mais inovação, produtividade e resultados para a empresa. 

Quais são suas fontes de inspiração no mundo dos negócios?

Mariana: Não tenho uma fonte de inspiração específica, eu me inspiro com diversas fontes diariamente ao ouvir exemplos de sucesso e de fracasso de outros empreendedores e empreendedoras em podcasts, eventos, redes das quais participo e outros espaços de conteúdo. Leio, pelo menos, um livro por mês, e sempre me puxo para ter um olhar atento e aprender com outras pessoas que convivem comigo na Gupy, além de me inspirar muito também nos valores dos meus pais.

Quais são seus próximos planos e objetivos? 

Mariana: Como CEO da Gupy, meus próximos passos envolvem continuar evoluindo a nossa estrutura para que o time possa sempre se reinventar, se desafiar e sonhar alto, acreditando que é possível melhorar cada vez mais a forma como as empresas fazem gestão de pessoas e impulsionam os seus talentos. Para isso, há 3 anos expandimos a Gupy para atuar em todo o ciclo de gente e gestão dos negócios, ao entregar uma plataforma completa para líderes e RHs fazerem contratações, admissões, treinamentos, engajamento e avaliação de performance das suas equipes. Seguimos firmes na missão de continuar liderando este mercado, para entregar cada vez mais melhorias e inovação. Como empreendedora e investidora, Bruna e eu queremos continuar expandindo o impacto do Máfia do Moscatel para ajudar a termos cada vez mais exemplos de fundadoras de ótimos negócios no nosso país.

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