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“Mais do que empreendedoras, mulheres são protagonistas de transformações culturais”, diz Patricia Travassos

Foto: divulgação.

Em 2012, Patricia Travassos fundou a Prosa Press com o propósito de contar histórias por meio de narrativas envolventes e que tivessem a inovação como pilar centralizador. Desde então, a documentarista sempre buscou trazer esse olhar para as suas produções autorais. O primeiro projeto desenvolvido pela documentarista foi o reality Mães S/A, veiculado no Fantástico, da Rede Globo.

Especialista em inovação, ela é graduada em jornalismo e propaganda e marketing. Ao longo da trajetória profissional, foi colunista de inovação na GloboNews e na CNN. Trabalhou na TV Bandeirantes, na TV Cultura e no SBT. Especializou-se em coberturas culturais e cobriu festivais de cinema, dança e teatro de norte a sul do país e também no exterior (Espanha e Estados Unidos).

Com obras autorais que investigam o impacto das novas tecnologias no comportamento das pessoas, nas relações humanas e nas decisões que tomamos em todas as fases da vida, a profissional já dirigiu diversos documentários. Neste ano, lançou também a plataforma Inovar é um Parto, cujo objetivo é contar a história e os desafios de mulheres empreendedoras. Confira o Economia SP Drops:

Como você decidiu se tornar empreendedora e qual foi a motivação por trás disso?

Patrícia: Para ser sincera, me tornei empreendedora por acaso. Em 2010, depois de quase 15 anos de experiência como repórter e apresentadora de TV, eu tinha criado um projeto sobre Empreendedorismo Materno. Era a ideia de uma série para a televisão. Participei de um pitch no GNT, mas não me classifiquei na última fase. Mais de um ano depois, melhorei o projeto, ofereci para o Fantástico e assinei uma coprodução que estreou em 2012. Nascia assim a minha produtora independente. 

Como você vê o papel das mulheres no mundo dos negócios e como isso evoluiu ao longo do tempo?

Patrícia: Como meu primeiro projeto envolvia empreendedorismo feminino, venho acompanhando esse movimento há mais de 10 anos e percebo conquistas importantes. Quando uma mulher está no comando, dificilmente o lucro é a única meta a ser alcançada. Em geral, há um propósito envolvido e aí, mais do que empreendedoras, as mulheres se tornam ativistas de causas sociais e protagonistas de verdadeiras transformações culturais. 

Qual é a importância do networking e do apoio entre empreendedoras para o sucesso nos negócios?

Patrícia: Fundamental. Quando escrevi meu livro “Minha mãe é um negócio”, em 2013, as mães empreendedoras, sem tempo de frequentar happy hours, começavam a trocar experiências pela internet. Na época, eram comunidades no Orkut, depois no Facebook… hoje, são mega grupos no Whatsapp que compartilham indicações, dúvidas e oportunidades de negócios e investimento. Tem briga? Tem, mas tem também muita mão estendida para levantar o astral umas das outras. Empreender é uma jornada cheia de altos e baixos. E a sensação de solidão, muitas vezes, desanima. Mas, hoje é fácil encontrar hubs que “abraçam” mulheres empreendedoras não só em São Paulo como em todo o Brasil.

Quais são os principais obstáculos que as mulheres empreendedoras ainda enfrentam atualmente?

Patrícia: Estou tentando fugir da resposta óbvia que coloca a mulher como a responsável pelo cuidado com os filhos e, depois de uma certa idade, com a geração anterior também. Mas, é inegável que ainda é cultural e isso promove “soluços” na jornada empreendedora dessa mulher. Estamos aprendendo a pedir ajuda, a procurar uma rede de apoio, na medida em que estamos mais confiantes das nossas capacidades. Não é de hoje que somos maioria nas universidades, estamos avançando no mercado com conhecimento e consistência.  As transformações culturais levam tempo para mudar e se tornarem visíveis. Mas, se compararmos a jovem que se forma hoje com a realidade das suas avós ou bisavós, eu diria que nos últimos 40 ou 50 anos, realizamos uma verdadeira revolução.

Como você vê a representatividade das mulheres em posições de liderança e como isso influencia o empreendedorismo feminino?

Patrícia: Tenho pesquisado bastante os ecossistemas de inovação que promovem o desenvolvimento de startups ao redor do Brasil. Esse é o tema do meu mais recente documentário chamado “Ecossistemas de inovação”. Sem medo de errar eu diria que, de norte a sul, todos ainda são muito masculinos e brancos. Mas, as mulheres estão se envolvendo cada vez mais na gestão de entidades importantes e conquistando espaços.  A ANPROTEC, por exemplo, pela primeira vez elegeu uma Presidente mulher: a Adriana Ferreira de Faria tem uma longa história ligada à inovação como diretora do Parque Tecnológico de Viçosa. Outro exemplo é a Abstartups, que também é presidida por um empreendedora que realizou o sonho da maioria dos startupeiros que eu conheço e vendeu a fintech dela por 120 milhões de reais! A Ingrid Barth hoje participa até do Conselhão da República, liderando Grupos de trabalho relacionados aos temas de tecnologia, inovação e empreendedorismo, além de crédito e investimento. Bacana que minha filha, que tem 8 anos, possa crescer com exemplos concretos de mulheres que estão fazendo tanta diferença.

Quais são suas fontes de inspiração no mundo dos negócios?

Patrícia: Meu trabalho é pesquisar histórias e ouvir pessoas. Adoro conhecer jornadas reais e acabo aprendendo demais com elas. Não precisa ser apenas no mundo dos negócios. Me inspiro com a abstração dos artistas, com a estratégia dos esportistas, e com a complexidade da natureza. Sempre que tenho tempo, estou ouvindo um podcast, vendo um filme, assistindo a um bom jogo de tênis. Veja o que a Bia Haddad empreendeu em sua trajetória como esportista até conquistar um ranking nunca antes alcançado por nenhuma brasileira! Veja as experiências que a navegadora Tamara Klink tem realizado em suas travessias e invernagens oceânicas. A narrativa poética do filme “Ecossistemas de inovação” apresenta a acrobata Erika Sedlacek, que se equilibra sobre uma fita com 2,5 cm de largura a 114 metros de altura para atravessar uma distância de 510 metros, batendo o recorde latino-americano de highline urbano. No filme, ela representa a coragem que precisamos ter para inovar e empreender. Como ela conseguiu? Não existe uma fórmula única. 

Quais são seus próximos planos e objetivos? 

Patrícia: Na Prosa Press, temos o propósito de refletir sobre a inovação com foco nas pessoas. E para isso, colocamos nossos holofotes em exemplos inspiradores.  Ainda nesse ano, vamos lançar o documentário “Singulares”. É um filme sobre diversidade, que reúne artistas que rompem barreiras sociais, culturais e usam o próprio corpo para se expressar. Eles não cabem em rótulos. Transbordam autenticidade em busca de liberdade. E em 2024, seguimos nosso olhar sobre a complexidade humana no documentário Plurais, que deve ser lançado a partir de março.

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