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Startups e empreendedorismo jovem: as dicas da Monnaliza Medeiros, da Dealist

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Sebrae, o perfil do empreendedor brasileiro é jovem, entre 18 e 30 anos. A pesquisa aponta que 14% dos MEIs têm até 29 anos. As razões para empreender são as mais diversas possíveis, mas dentre os principais motivos, estão: sonho do negócio próprio, independência, flexibilidade e necessidade de renda. E o que podemos esperar  do empreendedorismo jovem e do universo das startups neste ano?

Para responder esta e outras questões do mercado, o Economia SP Drops conversou com Monnaliza Medeiros, sócia e gestora de portfólio de startups da Dealist. Ela também é autora do GPS News, o primeiro guia de gestão de portfólio de startups do Brasil e acumula mais de 20 prêmios e reconhecimentos, incluindo cinco indicações consecutivas como uma das pessoas que mais contribuíram para o ecossistema brasileiro de startups, além de ter sido premiada como Heroína do Ano pelo Startup Awards. Confira abaixo:

O que a inspirou a entrar no mundo do empreendedorismo e venture capital? 

Monnaliza: Minha jornada empreendedora começou aos 8 anos, influenciada pela história de luta de minha família contra a fome e a seca no Nordeste. Cresci em Natal/RN, onde tive acesso às oportunidades que meus pais não tiveram. Eles sempre destacaram a importância dos estudos e do trabalho em minha formação, o que motivou em mim a curiosidade e visão sobre negócios desde a infância. Sempre vi o empreendedorismo como uma oportunidade de transformação para mim e aqueles ao meu redor. Aos 14 anos, ingressei no ensino médio técnico integrado em administração de empresas, no Instituto Federal do Rio Grande do Norte, onde tive a oportunidade de realizar o meu primeiro estágio profissional em uma incubadora de empresas e de lançar minha própria startup, ainda aos 16. De 2018 a 2020, transformei a comunidade local de startups, Jerimum Valley, que tinha apenas 80 membros, em um grupo vibrante com mais de 900 membros, sendo reconhecida no top 3 nacional entre Heroínas do Ano, no Startup Awards, em 2019. O convite para ser Community Manager na Bossanova Investimentos, o maior portfólio de startups da América Latina, veio após esse reconhecimento e trouxe consigo uma reviravolta para a minha carreira. Ao longo de três anos que estive na Bossa, evolui de um papel focado em relacionamentos para liderar um time técnico de Mercado e Portfólio, desenvolvendo habilidades valiosas. Atuar como Head de Mercado & Portfólio em um fundo tão diverso me abriu os olhos para as oportunidades desse universo que até então nunca teria cogitado para minha carreira, principalmente por ter vindo de um contexto mais humilde. Em 2024, celebrando quatro anos no mundo do Venture Capital, sou agora sócia e gestora de portfólio de startups na Dealist, Corporate Venture Capital localizada na famosa Avenida Faria Lima, em São Paulo. Minha missão é conectar corporações a oportunidades de negócios e investimentos em todo o Brasil. Uma jornada repleta de desafios, conquistas e uma paixão intensa pelo empreendedorismo que guia cada passo meu.

Quais são as tendências que você observa no cenário de startups atualmente?

Monnaliza: Inteligência Artificial, Web3, Metaverso… esses foram alguns termos e tecnologias que estiveram bastante em alta no último ano. No entanto, o mercado está vivendo um momento de muitos ajustes e aprendizados. Os empreendedores que seguiam um certo lifestyle business ou modelo de crescimento muito agressivo, com intensa queima de caixa em ações que traziam mais status do que resultados financeiros, estão tendo que se adaptar ao contexto do mercado que pede muito mais cautela e estratégia. Então, desenvolver um produto legal com uma tecnologia do momento não é o suficiente para construir um negócio de sucesso. Mais do que nunca, é preciso focar em modelos de negócios sustentáveis e os investidores estão atentos a isso. O estágio de maturidade e momento de mercado pede por empreendedores com mais habilidades de gestão.

Que conselhos você daria a jovens empreendedores que estão começando suas próprias startups?

Monnaliza: Muito provavelmente, a sua primeira startup te proporcionará muito mais aprendizados do que resultados financeiros, mas esse aprendizado só virá se você fizer as coisas com intensidade e intencionalidade. Não espere glamour dessa jornada, foque em aprender a fazer o feijão com arroz, o básico, bem feito. Essa é a base mais importante que você precisará para tocar um segundo negócio de sucesso ou até mesmo conseguir um emprego em posição mais privilegiada no futuro. O mindset, ferramentas, pensar entrega de valor  e construção de produto possui um valor inestimável para o mercado e será cada vez mais requerido. Construa relacionamentos e se coloque na posição de aprendiz. A sua primeira vez é um momento importante para ouvir mais do que falar, não ache que terá todas as respostas certas. Essa é a oportunidade perfeita para se aproximar de pessoas referências do mercado e aprender com a experiência de quem já fez. Uma pessoa mentora, com no mínimo  o dobro da sua experiência de vida, pode ser uma grande aliada nesse processo! 

Como avalia o papel dos VCs no crescimento e desenvolvimento de startups?

Monnaliza: Além de fornecer capital financeiro importante para startups, eles trazem consigo uma riqueza de experiência, redes de contatos e uma visão estratégica que muitas vezes ultrapassa o valor financeiro do investimento. Gosto sempre de falar que captar investimento em smart money é também captar tempo. Com a experiência de quem já fez acontecer ao seu lado, é possível ter acesso rápido a tomadores de decisão e clientes estratégicos. Além disso, as orientações podem economizar algumas dores de cabeça. Em resumo, acelera-se o ganho de mercado da empresa e a jornada de amadurecimento dos fundadores em visão empresarial, estratégica e ganho de mercado. Por isso, ao considerar captar recursos no mercado, é de extrema importância analisar quais são os fatores estratégicos a mais que os investidores podem trazer à mesa.

Como você vê o futuro do empreendedorismo jovem no Brasil e na América Latina?

Monnaliza: O avanço tecnológico e a aceleração da transformação digital estão contribuindo cada vez mais para a democratização do empreendedorismo. Hoje, não é preciso de muitos recursos para iniciar um negócio. O que antes demandava bastante investimento financeiro, planejamento e estrutura logística, hoje já existem muitos suportes “plug and play” que permitem que novos negócios já nasçam com um atendimento de qualidade. As startups são um excelente exemplo disso. Quando criança e ao ingressar no ensino médio-técnico, eu estava investindo na minha formação empreendedora, mas imaginaria que apenas aos 30 ou 40 anos eu conseguiria ter o meu primeiro negócio, mas seguindo o modelo de startups consegui iniciar ainda aos 16. Além disso, existem uma série de novas profissões autônomas, como as de influenciadores digitais e prestadores de serviço de estratégia digital que estão surgindo nesse novo mercado. Os jovens de agora possuem uma vantagem em relação às gerações passadas: eles já nasceram nesse meio e são nativos digitais. Essa fluência nas tendências possui um valor inestimável. Agora, é preciso unir a visão à estratégia e isso só é possível adquirir com experiência sênior. Por isso, reforço a necessidade de sempre se manter estudando e se conectando com profissionais mais experientes no mercado.

Qual é o seu próximo grande objetivo ou projeto na área de empreendedorismo e venture capital?

Monnaliza: Agora, como sócia e gestora de portfólio da Dealist, meu propósito é contribuir para a profissionalização e democratização do cenário de Corporate Venture Capital no Brasil.  Este é um setor relativamente novo em nosso país, testemunhamos a maioria dos veículos de investimento corporativos surgindo nos últimos 5 anos, concentrando-se principalmente em startups de estágios mais avançados, como o Series A. O desafio de ingressar nessa fase de desenvolvimento é que os investimentos realizados são substancialmente maiores e destinados a um número reduzido de empresas. Simultaneamente, o tempo de retorno e o risco operacional devido a baixa diversificação de portfólio também são prolongados. Enquanto isso, as empresas já estão buscando atualizações no curto e retornos no médio prazo. Uma abordagem que identificamos para integrar as corporações nesse modelo, reduzindo os riscos e proporcionando valiosas aprendizagens ao longo do processo, é por meio de veículos de investimento estruturados especificamente para dar velocidade nos investimentos, atendendo  os estágios de anjo à seed. 

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