Por Rafael Duarte, CEO da RD Medicine.
O cenário da medicina tem passado por transformações significativas nas últimas décadas, impulsionando muitos profissionais a se tornarem donos de seus próprios negócios.
Os médicos que são treinados a investirem em suas formações e a trabalharem em algumas instituições ou consultórios estão cada vez mais empreendendo em busca de ganhos mais atraentes e vivências independentes.
Entretanto, essa transição não ocorre sem obstáculos e os desafios enfrentados podem impactar diretamente a saúde mental.
Tempo, marketing e vendas
O primeiro e talvez principal entrave é a gestão do tempo. Dedicados à prática clínica, esses profissionais se veem diante da necessidade de equilibrar a carga assistencial com as demandas do empreendedorismo. A ilusão de que sempre há espaço para mais uma tarefa é, muitas vezes, um fator limitante, resultando em má gestão e frustração.
Outro desafio crucial está relacionado ao marketing digital e ao uso eficaz das redes sociais. Embora a presença on-line seja cada vez mais vital, compreender a maneira certa de se posicionar profissionalmente é essencial. Uma abordagem equilibrada, humanizada e estratégica é necessária para transformar seguidores em clientes, evitando a armadilha de se tornar apenas uma “loja on-line”.
Além disso, a resistência à ideia de “vender” é um empecilho comum entre os médicos empreendedores. A habilidade de dominar pessoalmente as técnicas de vendas é destacada como uma das mais poderosas, sendo fundamental para o crescimento sustentável do negócio. Portanto, é necessário desmistificar preconceitos e promover ações proativas nesse sentido.
Saúde mental
A carreira médica, por si só, já é emocionalmente exigente e desgastante. A dedicação desde os primeiros anos de estudo, a pressão durante a faculdade, a busca por especialização e a competitividade no mercado contribuem para um ambiente de trabalho desafiador.
Quando os esforços não resultam nos benefícios esperados, ou a tão desejada qualidade de vida não se materializa, a frustração pode levar a problemas de saúde mental, como depressão e burnout.
Para se ter ideia, segundo pesquisa recente do Research Center da Afya, intitulada Saúde Mental do Médico, 62% dos profissionais brasileiros têm ou tiveram sintomas de síndrome de burnout ou receberam o diagnóstico do distúrbio. Outros 47% têm ou já tiveram diagnóstico de transtorno de ansiedade e, 46%, de depressão. Portanto, o empreendedorismo, quando incorporado à carreira médica, merece ainda mais atenção.
Como vencer os obstáculos?
Para superar esses e outros desafios e preservar a saúde como um todo, o médico empreendedor deve criar um plano claro de transição. Equilibrar a carga horária entre a prática clínica e o empreendedorismo, sem medo de se dedicar exclusivamente ao negócio, quando necessário, é fundamental.
A gestão de tempo eficaz e a compreensão dos propósitos pessoais são ainda as chaves para manter a mente equilibrada.
Em última análise, o médico empreendedor deve entender seus limites, administrar a rotina de maneira consciente e valorizar o empreendimento no qual acredita. Somente assim, poderá alcançar o crescimento desejado sem comprometer sua qualidade de vida.