Publicada em 2019 pela International Organization for Standardization (ISO), a ISO 56002, chamada de ISO de Inovação, é uma norma que fornece diretrizes para a gestão da inovação em organizações de todos os tipos e portes, oferecendo um conjunto de ferramentas e princípios para auxiliar as empresas a gerenciar seus processos de inovação de forma mais eficaz e eficiente.
A norma se baseia em princípios fundamentais da gestão da inovação, como liderança, cultura, foco no cliente, processo, melhoria contínua e receptividade a novas ideias. Estima-se que mais de 400 companhias já adotaram o modelo, sendo mais de 10 apenas no Brasil.
A certificação ISO 56002 não é necessariamente fácil, mas pode ser alcançada com planejamento, recursos e compromisso. O Economia SP Drops conversou com Alexandre Pierro, sócio-fundador da PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação na América Latina, para saber mais sobre os desafios e benefícios que o ecossistema latinoamericano tem ao buscar o selo. Confira:
Como surgiu a ideia de fundar a PALAS e qual é a sua visão para a disseminação da ISO de inovação na América Latina?
Alexandre: A PALAS nasceu com a ideia de ser uma empresa de melhoria de processos e governanças tradicionais, tais como de meio ambiente, compliance, etc. Uma das sócias já tinha o costume de realizar muitos trabalhos de inovação, e tinha dificuldade de ajudar os clientes a tirarem suas ideias do papel – podiam ser realmente boas, sem custo, mas não conseguiam torná-los realidade. Sendo especialista, vi que, sem processos, não há como garantir a sistemática de tirar ideias do papel, para que as pessoas façam que coisas aconteçam. Pensando nisso, entrei em contato com um grupo de estudo da ISO para ver se tinha algo sendo estudado sobre inovação, e vi que tinha uma norma focada em descobrir as melhores práticas de inovação. Apesar de ser uma norma, é importante esclarecer que ela é um de boas práticas, e não algo a ser seguido de forma burocrática. Desde então, estamos fazendo trabalho intenso para difundir isso no Brasil e em outros países – inclusive, já com iniciativas da ISO na Colômbia, Chile, Peru e Argentina. Entendemos que, agora, estamos diante de uma enorme oportunidade no mercado para inovação, pois sempre depois de uma crise humanitária (guerras, pandemia) presenciamos diversas que geram grandes inovações – como agora, após a pandemia. As empresas estão buscando usar as melhores metodologias para isso. Na Europa, a França, Itália e Inglaterra são líderes desse termo de inovação e metodologias.
Quais são os principais benefícios que as empresas podem obter ao adotar a metodologia internacional de governança para a inovação?
Alexandre: – Tirar ideias do papel, criar resultados, fazendo que aconteçam.
– Criar legados de inovação, com métricas que permitam que as coisas aconteçam de forma orgânica
– No Brasil, a ISO conversa muito com os critérios da Lei do Bem para conquistar a restituição de boa parte do que foi investido nos programas de inovação – em um processo que estará de acordo com o que o MCTI pede
– Atendimento às ODs’s – ISO é a primeira norma a atender 14 das 17 ODS. Então, se a empresa quer ser ESG, ela consegue através da ISO.
– Melhoria de cultura, engajamento das pessoas (serão ouvidas sobre suas ideias)
Quais são os maiores desafios enfrentados pelas empresas latino-americanas ao adotar uma abordagem mais estruturada para a inovação?
Alexandre: – Entender que a inovação é um processo. Por mais que ela precise ser dinâmica e criativa, ainda é um processo. Muitas empresas acreditam que isso é burocrático e faz com que fique rígido, mas a ideia não é essa.
– Capacitação da liderança – inovação é dinâmica, uma vez que as coisas mudam constantemente. O ciclo de aprendizado contínuo não está acontecendo, as empresas demoram para aprender e, nesse gap, muita oportunidade de inovação passa.
Quais são os critérios-chave para uma empresa determinar se está pronta para implementar a ISO de inovação?
Alexandre: Nenhum. A qualquer momento que a empresa entenda que a inovação é algo importante em seu planejamento estratégico, ela pode implementar a ISO. Ela pode ser usada, inclusive, para desenhar um departamento de inovação na empresa.
Qual é a sua visão para o futuro da inovação empresarial na América Latina?
Alexandre: Acredito que a inovação será o que a qualidade foi na década de 80 para o setor automotivo, analogicamente. Ela irá separar as empresas que irão sobreviver e prosperar em mundo cada vez mais caótico, incerto e com muitos parâmetros acontecendo. Ainda, permitirá que possam seguir em frente, com novos produtos e serviços para setores diferentes do mercado e, com isso, alavancar seu nome no segmento. Boas inovações precisam de tempo de maturação, adoção e de desenvolvimento. Se esperarem para fazer isso apenas quando o mercado solicitar, perderão espaço frente aos concorrentes.