O Brasil está entre os 10 países que mais desperdiçam alimentos no mundo, de acordo com a ONU. Nos mercados, mais de R$ 1,3 bilhão em frutas, legumes e verduras vão das prateleiras para o lixo todos os anos, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA).
Quando adquiridos e próprios para o consumo, os alimentos também acabam no lixo: De acordo com a ABIA, cada brasileiro descarta em média 60 quilos de alimentos próprios para o consumo todos os anos.
Ao todo, as perdas e desperdícios no Brasil são estimados em cerca de 30% de toda a produção alimentar, sendo causados por fatores como danos na produção, armazenamento inadequado e problemas no transporte, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Com mais de 1,5 milhão de estabelecimentos espalhados pelo país e um movimento estimado em mais de R$ 220 bilhões por ano, o setor de food service é vital para a economia brasileira, mas também é campeão em desperdícios, segundo a ABIA.
De acordo com Otávio Pimentel, Country Manager da Frubana, foodtech que utiliza tecnologia para conectar pequenos produtores a restaurantes de acordo com a oferta e demanda, eliminando intermediários e evitando o desperdício de alimentos nas prateleiras de mercados e centros atacadistas, “o desafio desses estabelecimentos está na eficiência logística para o abastecimento dos estoques.
Com o uso de tecnologia nossa operação reduz o desperdício de 30% para apenas 0,8%. Conseguimos isso por meio de uma operação logística que entrega os alimentos direto para os estabelecimentos, agregando valor para o produtor e agilidade operacional para restaurantes” explica o executivo.
No setor de supermercados não é diferente: de acordo com dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a operação dos supermercados no Brasil em 2023 descartou cerca de R$ 7,9 bilhões em alimentos que estavam dentro da validade.
Entre os alimentos que mais foram desperdiçados estão frutas, legumes e verduras (38,3%), seguido de carnes (25,4%) e laticínios (17,8%).
Operando um aplicativo de mercado sob demanda com entregas em minutos ou agendadas, a Daki desenvolveu uma seção especial com ofertas de produtos que estão próximos ao vencimento.
De acordo com o diretor de retail da Daki, Ricardo Costa, “a partir dessa estratégia, conseguimos atuar em duas frentes: de um lado disponibilizamos produtos que ainda estão próprios para o consumo, a preços mais acessíveis. Por outro lado, evitamos que eles parem no lixo”, destaca.
Além disso, a empresa atua também com uma parceria com a Associação Prato Cheio, ONG que arrecada e distribui alimentos para entidades assistenciais.
A ação que começou em junho de 2023 com a doação de hortifruti, já impactou quase 8 mil pessoas com a doação de cerca de 44 toneladas de alimentos, proporcionando a produção de refeições e contribuindo para o combate à fome.
“Como nosso padrão de qualidade de venda do hortifruti é alto, identificamos uma quantia considerável de perdas dessa categoria diariamente. Com a intenção de auditar processos, começamos a retornar as perdas para o nosso Centro de Distribuição e percebendo que mais de 90% dos produtos que retornavam ainda estavam aptos para o consumo, vimos a oportunidade de aproveitar esses alimentos para outros fins. Então, uma das várias ideias que tivemos, foi a doação desses produtos”.
Neste mesmo sentido, uma estimativa da b4waste, foodtech que conecta os supermercados com produtos perto da data de vencimento a consumidores que pretendem consumi-los dentro do prazo e buscam preços acessíveis, o não descarte desses alimentos beneficia a redução da emissão de carbono.
Após três anos de operação, a empresa calcula que já foi capaz de evitar o desperdício de mais de duas mil toneladas de produtos, o que representa a prevenção da emissão de 1.7 toneladas de CO2 na atmosfera.
Para os negócios, a estratégia também ameniza os prejuízos que o lixo causa anualmente no faturamento das varejistas. De acordo com a b4waste, ao disponibilizar os produtos, com descontos a partir de 50% do valor convencional, os comércios são capazes de cortar as perdas pela metade.
“O descarte de produtos não vendidos causa um impacto enorme nos caixas dos supermercados. Para se ter uma ideia, a média de 2% de perdas nas redes representa aproximadamente R$7,9 bilhões anuais”, explica Luciano Kleiman, CEO da b4waste.