Por Juliana Bertoni, headhunter na Gi Group Holding.
A análise do estudo do IBGE em 2022 traz à tona uma realidade preocupante sobre a desigualdade de gênero no Brasil. Os dados revelam disparidades marcantes entre homens e mulheres em diversas esferas, desde o trabalho doméstico não remunerado até a participação no mercado de trabalho e os salários.
Um dos aspectos mais alarmantes é a sobrecarga de trabalho doméstico enfrentada pelas mulheres. Enquanto os homens dedicam em média apenas 11 horas por semana a essas tarefas, as mulheres investem cerca de 21 horas semanais, quase o dobro. Essa disparidade é ainda mais acentuada entre mulheres negras, que dedicam aproximadamente 2 horas a mais ao trabalho doméstico em comparação com mulheres brancas.
Esses números destacam a persistência de normas de gênero arraigadas na sociedade brasileira, que atribuem às mulheres a responsabilidade primária pelos cuidados domésticos e familiares. Essa carga desproporcional de trabalho não remunerado não apenas impacta negativamente a qualidade de vida das mulheres, mas também perpetua desigualdades econômicas e sociais.
Além disso, é importante considerar o contexto da Agenda 2030 e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). O ODS 5, que trata da Igualdade de Gênero, estabelece metas ambiciosas para promover a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas em todo o mundo. No entanto, o alcance dessas metas pelo Brasil enfrenta desafios significativos, especialmente em um cenário onde as políticas relacionadas à igualdade de gênero estão em colapso.
No mercado de trabalho, a participação feminina é menor, com taxas mais altas de informalidade. Enquanto 53% das mulheres estavam empregadas, essa proporção era de 72% entre os homens. Além disso, 39% das mulheres estão na informalidade, em comparação com 37% dos homens. Entre as mulheres negras, quase metade está na informalidade.
A distribuição de horas de trabalho também é desigual. Cerca de 30% das mulheres ocupadas trabalhavam até 30 horas por semana, enquanto entre os homens esse número era de 14%. Novamente, as disparidades são mais acentuadas entre mulheres pretas e pardas em comparação com mulheres brancas.
Os salários também refletem essa desigualdade, com as mulheres ganhando em média apenas 78% do salário dos homens. Esse número cai ainda mais em áreas como ciências e intelectualidade, onde as mulheres recebem apenas 63% do salário dos homens.
Esses dados evidenciam uma cultura arraigada de desigualdade de gênero, onde as responsabilidades domésticas e a discriminação no mercado de trabalho impactam negativamente as mulheres. Mesmo com avanços na legislação e conscientização sobre questões de gênero, ainda há um longo caminho a percorrer para alcançar a igualdade de oportunidades.
É urgente que medidas sejam adotadas para promover mudanças estruturais e políticas que garantam a igualdade de gênero. Isso inclui desafiar estereótipos de gênero desde cedo, promover políticas de licença parental equitativas e criar ambientes de trabalho inclusivos e igualitários.
Além disso, é fundamental abordar as disparidades salariais por meio de políticas de transparência e equiparação salarial. A Lei da Igualdade Salarial (14.611/2023) é um passo significativo nessa direção, mas é necessário um compromisso contínuo das empresas para garantir a implementação efetiva dessas políticas.
A persistência da desigualdade de gênero não apenas prejudica as mulheres, mas também tem impactos negativos na sociedade e na economia como um todo. Ao promover a igualdade de oportunidades e garantir o pleno empoderamento das mulheres, podemos criar um ambiente mais justo, inclusivo e próspero para todos.