Por Strauss Nasar, Sócio do escritório Fortes Nasar Advogados
O ambiente de startups criou raízes e tornou-se uma febre empreender com foco em escala, buscar oportunidades de investimento que tenham a possibilidade de um dia figurar com o título de unicórnio e o medo de ficar de fora das tendências alimentou toda essa atmosfera. Os empreendedores, muitas vezes de palco, focaram suas atenções na preparação de apresentações ricamente ilustradas, recheadas de expressões em inglês que fazem alarde de um mercado, em sua maioria, nunca sequer visitado.
Minhas escusas a quem não é do ramo e também a quem não faz parte do time que pode ser ilustrado pelas características do parágrafo anterior, mas precisamos falar desta realidade para entrar no assunto, ou no mito, de que a startup em early stage (fundamentada em um Power Point) tenha um valuation tão inflado quanto o ego dos empreendedores. Essa dinâmica acabou criando algumas ilusões, as quais tentamos, neste artigo, alertar os curiosos no mercado de startups e orientar os profissionais da área de como as coisas realmente acontecem.
Inclusive, vale salientar que nos últimos anos as rodadas tiveram uma queda de volume considerável e os números estratosféricos passaram a entrar em uma lógica mais coerente, uma verdadeira baixada na bola.
O mercado deixou de ser interessante? Não! O ambiente tem muito palco e pouco resultado? Também não. Acontece que as oportunidades, sejam de economia real ou de startups, precisam ser devidamente analisadas, pois coerência funciona para qualquer que seja a realidade.
Dito isto, quanto custa uma oportunidade? Quanto custa uma porta aberta? Quanto custa um insight? A verdade é que o detalhe pode custar o sucesso. Outra verdade é que timing é essencial. Sabe o que pode custar muito também? A vaidade.
É como uma balança invisível. Quanto maior for a oportunidade, maior o risco (via de regra). Quanto melhor for o histórico do time e a multidisciplinaridade, mais assertivo deverá ser o negócio. As minúcias comportamentais e as habilidades de gerar oportunidades e administrar crises permeiam e garantem o que pode ser lindo no papel, mas que na prática carecem de atenção e de trato nas relações interpessoais.
São tantas as variáveis que a experiência de quem já acompanhou essa trilha pesa. Não garante sucesso, pois sucesso não se transfere ou se terceiriza, mas é alicerce sólido para que o restante das habilidades negociais fortifique e construa o encaixar de fatores necessários ao tão almejado patamar dos punches de apresentação que tiram o fôlego dos investidores lá no início da jornada com a promessa de sucesso.
Ter um conselheiro, um mentor, um profissional especializado, um sócio ou um incentivador, seja ele remunerado por uma futura participação ou não, é o peso que pode fazer a diferença. E se você deseja saber quanto é o valor de 100% de nada, a conta é fácil. É nada.
Não entender ou não visualizar as oportunidades, coerentes com o que você desenhou para o seu negócio muitas vezes é a chave do fracasso. A sanha por capital, o tão visado investimento, paralisa muitos empreendedores e afeta o desenvolvimento das atividades. Não existe receita, que fique claro! Porém, o capital certamente será mais bem aproveitado quando o negócio estiver validado e orientado para o uso responsável e adequado dos recursos.
Planejar, além de projetar as necessidades de caixa e respectivas captações, pressupõe a organização das rodadas que venham a ser necessárias ao desenvolvimento dos negócios. Equacionar a necessidade de caixa, a velocidade de crescimento e a disponibilidade de capital social devem vir à mesa com a serenidade e contratos responsáveis que traduzam a possibilidade de retorno de um job for Equity. Cautela nunca é veneno e prever os cenários e gatilhos contratuais mitigam as diferenças entre a expectativa de alavancagem e a participação no capital.
Assim, a receita é não ter receita, mas bom senso, boa fé e boa vontade. A tradução de sucesso vem de organização, programação, planejamento, boas relações e empenho.