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IA realista: como a AIOps pode ampliar a competitividade das operadoras?

Foto: divulgação.
Foto: divulgação.

Por Hermano Pinto, diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital.

Hoje, muita gente tem a sensação de que a Inteligência Artificial (IA) está em tudo. E ela está mesmo! É inegável que a IA vem causando uma revolução por ser uma tecnologia que amplia o alcance da automação e dá suporte para toda a cadeia econômica ao acelerar atividades que antes levavam muito tempo para serem feitas por pessoas. Estamos no caminho da evolução para uma sociedade mais inclusiva e eficiente, impulsionada pela digitalização. Esse movimento não tem volta.

A demonstração mais concreta de sua aplicabilidade na vida das pessoas está relacionada à jornada do consumidor e foi profundamente debatida no início do ano durante o MWC Barcelona 2024, evento internacional de tendências globais de inovação e conectividade: o uso da IA no atendimento a clientes, na interatividade do e-commerce e no desenvolvimento de produtos e serviços personalizados que atendam às necessidades das pessoas.

Sem querer entrar na seara política, por ser árida e não compatível com o tema aqui apresentado, preocupam as restrições em debate sobre um provável Marco Regulatório, que podem fazer sentido nesta vertente de interação com o consumidor (e o eleitor), podendo ser, entretanto, altamente prejudicial para a adoção extensiva da IA como ferramenta de eficiência e competitividade operacional para os negócios e para a economia brasileira.

AIOps (Inteligência Artificial para Operações de Tecnologia)
Cada vez mais imersos em um mundo de dados e informações, as operações de sistemas complexos, de uma indústria a um porto, de uma rede de telecomunicações a uma petroquímica, ganham um salto quântico ao adotarem ferramentas baseadas em IA, com uma enorme capacidade de processamento e contextualização deste universo de dados coletados e disponibilizados para a análise e tomada de decisão para a automação do trabalho operacional, considerando modelos preditivos e preventivos.

Dado o seu impacto econômico-financeiro sobre operações de alta complexidade, como as redes de telecomunicações, a AIOps (Inteligência Artificial para Operações de Tecnologia) foi tema amplamente debatido e divulgado nos estandes e painéis de gigantes de tecnologia, como a Nokia e Huawei, no MWC Barcelona 2024, mas sem tanto destaque na mídia tradicional por ser mais relacionada às áreas técnicas. A AIOps além potencializar diretamente a produtividade e o retorno sobre o investimento das operadoras, permite oferecer soluções de atendimento a clientes específicos com arquiteturas de redes inovadoras, dedicadas e monitoradas com altíssima segurança.

Trata-se de uma revolução tecnológica, de forte impacto sobre os processos e na quebra de paradigmas de atendimento às demandas de mercado, permitindo a oferta de novos serviços de inteligência incorporada, robustez e flexibilidade. E, não se trata de ficção científica ou de uso exclusivo para empresas com gigantescos investimentos em tecnologia.

Tomemos um caso de uma startup brasileira, a “loopt”, cuja solução de inteligência artificial já se encontra presente em diversos portos brasileiros, como no caso da Movecta/Localfrio em Santos. Trata-se de uma solução que permite aos terminais portuários e retroportuários automatizarem o posicionamento de contêineres com visibilidade sobre o tempo de estadia futuro para reduzir movimentações improdutivas, visando aumentar a eficiência da organização do pátio e reduzir em mais de 30% as movimentações improdutivas e os custos da operação.

Voltando ao uso de IA em telecomunicações, os algoritmos que habilitam o uso multiespectral nas antenas MIMO nos padrões hoje definidos como 5.5G são formas iniciais de IA. Em futuro muito próximo, as operadoras poderão identificar padrões nos dados e nos comportamentos estratificados dos clientes, permitindo identificar e prever anomalias na rede, para que possam atuar de forma proativa antes que os clientes venham a ser impactados negativamente. Isso se traduz em satisfação na jornada do cliente, eficiência operacional, manutenção reduzida e inovação no planejamento de soluções de rede.

Por seu potencial de impacto na governança de engenharia das empresas, a formação de profissionais deverá ter na AIOps uma grande aliada, para que algoritmos mais abrangentes em termos de redes físicas, espectro, dispositivos conectados possam ser desenvolvidos, treinados e testados.

Por toda ampla gama de aplicações, a IA tende a se desenvolver cada vez mais como disciplina na educação em tecnologia e nas especializações em Engenharia. Um instrumento tão eficaz e poderoso, que impõe a necessidade por profissionais preparados para operá-la em suas diversas dimensões, como um assistente copiloto de alta relevância. Problemas repetitivos ou de solução a partir do tratamento de grandes volumes de dados tornam a IA insubstituível, porém em questões quem demandem um raciocínio mais criativo ou mesmo crítico, envolvendo qualificações morais e sentimentais, a estratégia de resolução de problemas será uma só: a ação humana, tendo a IA como ferramenta de trabalho. Uma “mega calculadora” de opções e probabilidades, capaz de executar ações ultrarrápidas de interação em suas redes neurais artificiais, porém sob a tutela humana especializada.

Por fim, há outro aspecto fundamental a ser considerado no processo de adoção de sistemas baseados em IA: o crescimento exponencial de componentes, semicondutores e servidores, cuja estrutura, além de consumir energia e estruturas de conectividade, irão demandar serviços de manutenção e de missão crítica ampliada por forças das dependências que se criarão.

A opção pelo uso da IA na prática deve ponderar fatores ambientais e energéticos, uma vez que as diretrizes de ESG são cada vez mais exigentes e presentes na realidade das companhias que querem ter certificação internacional. O gasto energético elevado tem um fator que precisa ser ponderado: o consumo de energia pode ser 10 vezes maior que uma busca convencional, de acordo com cálculos do blog internacional especializado em tecnologia SemiAnalysis: em apenas um treinamento do ChatGPT, que opera em 10 mil placas de vídeo NVIDIA, o uso de energia chegou a 1.287 MW/hora, suficiente para alimentar 121 casas por um ano.

Uma visão mais realista da IA é fundamental para que a trilha para o futuro seja rápida, eficiente, mas também segura para todos. Lembre-se: a Inteligência Artificial é seu copiloto. Nessa jornada, o piloto continua sendo você.

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