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Como essa healthtech tem atuado para democratizar a telemedicina no Brasil

Foto: Izabela Salvador.

A ascensão da telemedicina tem sido um catalisador fundamental na transformação do setor de saúde brasileiro. De acordo com um levantamento realizado pelo Distrito Healthtechs Report no ano passado, as projeções globais do setor devem chegar a US$ 857,2 bilhões até 2030, representando um crescimento anual de 18,8%.

O estudo revela também que a telemedicina tem sido amplamente adotada, com uma taxa de adesão de 87% nas primeiras consultas virtuais. Além disso, 93% dos pacientes afirmaram utilizar a telemedicina para gerenciar suas prescrições, o que demonstra a aceitação e os benefícios dessa modalidade, como o acesso facilitado à saúde, economia de tempo e custos, além da melhoria na qualidade de vida. Este cenário reflete não apenas uma mudança nas preferências dos pacientes, mas também uma resposta à necessidade de soluções acessíveis e eficientes no sistema de saúde.

Para saber mais sobre o setor e os caminhos que devem ser seguidos neste movimento, o Economia SP Drops conversou com Mauren Souza, CEO e um dos fundadores da Doutor Ao Vivo. A healthtech, por meio da telemedicina, estabelece uma conexão inovadora e humanizada entre médicos, organizações e pacientes, resultando uma transformação nas rotinas, reduzindo tempo e custos. 

Atualmente, a startup, que já recebeu mais de R$ 1,7 milhão em aporte e figura na lista das 20 startups mais promissoras da AEVO e Fundação Dom Cabral, conta com mais de 200 clientes.

Confira a entrevista na íntegra abaixo:

Como a tecnologia tem atuado para a melhoria do acesso dos pacientes à saúde?

Mauren: A tecnologia tem se mostrado uma aliada poderosa na melhoria do acesso dos pacientes aos cuidados de saúde, principalmente com a expansão da telemedicina. As plataformas de telemedicina desempenham um papel crucial ao possibilitar que pacientes sejam atendidos por médicos e profissionais de saúde à distância. Este progresso resultou na superação de barreiras geográficas, permitindo que indivíduos em áreas remotas ou de difícil acesso recebam atendimento médico de alta qualidade. Ademais, a telemedicina tem auxiliado na diminuição do tempo de espera por consultas, tornando o processo de atendimento mais ágil. Esta eficiência aumentada beneficia diretamente os pacientes e também gera economia indireta ao reduzir os custos com deslocamentos e o tempo perdido em filas de espera.

Quais são os principais desafios que você identifica no avanço da telemedicina no Brasil?

Mauren: Os desafios principais para o avanço da telemedicina no Brasil são multifacetados e abrangem uma variedade de aspectos. Primeiramente, a novidade e a recenticidade da telemedicina como uma prática amplamente adotada no país constituem um desafio. Embora as discussões sobre o assunto tenham se intensificado no final de 2018, foi apenas no início de 2020, com o surgimento da pandemia, que a telemedicina foi provisoriamente liberada no Brasil. Portanto, levando em conta esse contexto, podemos afirmar que o modelo atual de telemedicina tem apenas cerca de quatro anos de presença no mercado brasileiro, um período relativamente curto comparado ao tempo necessário para a completa maturação de novos produtos e serviços, especialmente considerando a vasta extensão territorial do país. Além disso, outro desafio significativo reside na definição de um marco regulatório claro e abrangente. A necessidade de diretrizes sólidas é crucial para assegurar a segurança e a qualidade dos serviços prestados. É essencial entender que a telemedicina vai além de simples videoconferências e não deve ser confundida com o uso de aplicativos de mensagens. A prática efetiva da telemedicina requer uma plataforma robusta, que forneça ao médico uma interface completa para a gestão de prontuários, prescrição, análise de exames e acesso ao histórico completo do paciente. Por último, os desafios de infraestrutura representam uma barreira significativa. Existem ainda vastas áreas do país sem acesso à internet, e a conectividade é essencial para a eficiente realização do teleatendimento. Sem uma infraestrutura adequada, muitos pacientes ficam excluídos dos benefícios da telemedicina, o que reforça a importância de investimentos e políticas públicas voltadas para a ampliação do acesso à internet em todo o território nacional.

Quais são os principais benefícios que a telemedicina traz para os pacientes e para os profissionais de saúde?

Mauren: Para os pacientes, a telemedicina representa um aumento significativo no acesso aos cuidados de saúde. Isso possibilita que pacientes em áreas remotas ou com escassez de profissionais médicos recebam atendimento de forma conveniente e acessível. Além disso, a telemedicina diminui custos associados a deslocamentos e tempo gasto em salas de espera, promovendo maior equidade no acesso aos serviços de saúde. Outro benefício relevante é o telemonitoramento, que permite que pacientes crônicos, idosos ou com dificuldades de locomoção recebam monitoramento regular e acompanhamento médico em suas próprias casas, contribuindo para um gerenciamento mais eficaz de sua saúde e qualidade de vida. Para os profissionais de saúde, a telemedicina proporciona eficiência e flexibilidade no atendimento. Os médicos podem administrar suas agendas de maneira mais flexível, otimizando o tempo e evitando deslocamentos desnecessários. Além disso, a teleinterconsulta facilita o acesso a especialistas, permitindo que um segundo profissional participe do atendimento para fornecer uma opinião especializada, beneficiando tanto os pacientes quanto os médicos. A fidelização dos pacientes também é facilitada pela telemedicina, pois, independentemente da localização do paciente e do médico, é possível manter um cuidado contínuo e um histórico consistente de acompanhamento, o que contribui para uma melhor qualidade de atendimento e uma relação mais próxima entre médico e paciente.

Como a Doutor Ao Vivo está aproveitando a telemedicina para superar as barreiras geográficas na prestação de serviços de saúde?

Mauren: A Doutor ao Vivo está rompendo as barreiras geográficas na prestação de serviços de saúde por meio da telemedicina, reconhecendo os desafios significativos que o Brasil enfrenta devido à sua vasta extensão territorial e à distribuição desigual de médicos. Com 68% dos municípios apresentando uma proporção de médicos 14 vezes menor do que nas capitais e 62% dos médicos concentrados em apenas 1% dos municípios, existem grandes lacunas na assistência médica em todo o país. Isso obriga muitas pessoas a viajarem em busca de cuidados médicos, resultando em altos custos indiretos, como despesas com alimentação e ausências no trabalho. A abordagem da Doutor ao Vivo é baseada no uso da tecnologia digital para otimizar e compartilhar recursos de saúde. A plataforma foi projetada para proporcionar a melhor experiência possível ao paciente, garantindo que o atendimento médico seja prestado sem complicações. Para superar essas barreiras geográficas, a tecnologia se torna a principal aliada. Atualmente, as consultas realizadas na plataforma da Doutor ao Vivo alcançam mais de 3 mil cidades no Brasil e em mais de 90 países. Em média, a distância entre o paciente e o médico em cada consulta realizada no Brasil é de 600 km, destacando a importância vital da telemedicina no contexto nacional. Essa capacidade de alcance só foi possível graças à escalabilidade da plataforma da startup Doutor ao Vivo, que foi cuidadosamente projetada para lidar com um volume significativo de consultas e pacientes de forma eficiente e sem comprometer a qualidade do atendimento. Essa abordagem inovadora está ajudando a preencher as lacunas na assistência médica e a democratizar o acesso aos cuidados de saúde em todo o país, independentemente da localização geográfica.

Com mais de 1,5 milhão de consultas virtuais realizadas, quais são os principais insights ou tendências que vocês têm observado sobre o comportamento dos pacientes e dos médicos nesse ambiente digital?

Mauren: Observamos inicialmente um aumento significativo no uso da tecnologia por parte dos pacientes. Como é típico com inovações, houve uma fase inicial de adoção por um grupo menor de pessoas, que contribuíram para validar e disseminar os benefícios da telemedicina. No entanto, à medida que a tecnologia se torna mais familiar e os benefícios se tornam evidentes, notamos uma adesão mais ampla por parte da população. Atualmente, entendemos que estamos na segunda fase da telemedicina no Brasil. Inicialmente, durante a pandemia, houve um uso massivo do teleatendimento, impulsionado pela necessidade de garantir a segurança sanitária. No entanto, após o término da pandemia, algumas empresas que adotaram a telemedicina sem um plano de negócios de longo prazo reduziram sua utilização. Atualmente, percebemos uma mudança de paradigma em relação a esse mercado. As empresas estão se estruturando e começando a ver a telemedicina como um novo canal de negócios, permitindo a expansão da jornada de cuidados em saúde. A teleconsulta não é mais vista como uma solução temporária, mas sim como uma forma permanente e complementar de cuidado médico. Nessa linha de pensamento, observamos um número crescente de projetos que visam não apenas ampliar o acesso aos serviços de saúde, mas também focar na fidelização do paciente e na exploração de novos mercados. A telemedicina está se consolidando como uma ferramenta fundamental para a transformação do setor de saúde, possibilitando uma abordagem mais abrangente e centrada no paciente.

Quais os próximos passos da empresa?

Mauren: Estamos concentrando nossos esforços para expandir ainda mais a jornada da telemedicina e recentemente lançamos um totem de teleconsulta. Este totem permite que os pacientes realizem quatro medições essenciais (temperatura, pressão arterial, batimentos cardíacos e oximetria) antes de iniciar a consulta. Isso fornece ao paciente e ao médico um conjunto mais completo de informações sobre o estado de saúde do paciente, enriquecendo a experiência da consulta. Com o totem, podemos ampliar ainda mais o acesso aos cuidados de saúde, estabelecendo salas em locais remotos e de difícil acesso, onde os serviços médicos tradicionais podem ser limitados. Outra área em que estamos focados é a implementação da inteligência artificial (IA). Estamos explorando formas de integrar a IA na triagem de pacientes, utilizando a coleta de dados por voz e a estruturação de sintomas para fornecer suporte ao diagnóstico médico. Reconhecemos que a IA é uma ferramenta poderosa que pode servir como assistente para os profissionais de saúde, enriquecendo sua base de conhecimento, aumentando a precisão diagnóstica e melhorando a resolução dos casos. Estamos comprometidos em aproveitar ao máximo essas tecnologias inovadoras para oferecer um atendimento ainda mais eficiente e personalizado aos nossos pacientes.

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