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O que seria uma governança feminista inclusiva?

Foto: divulgação.

Por Ana Addobbati, CEO e fundadora da Livre de Assédio.

Em tempos de discussão sobre Governança e tudo que esse termo engloba como processos, transparência, matriz decisória calcada em valores e riscos, entre outros fatores, surge a proposição de se discutir o que seria uma governança feminista inclusiva. De forma protagonista, a Fair Share of Women Leaders, organização fundada na Alemanha que já aplica diversos mecanismos de report para a sociedade sobre a equidade de gênero em organizações da sociedade civil pelo mundo, convidou um grupo de mulheres de diversos países para discutir como podemos estruturar uma governança para que as organizações reflitam de forma tangível esses valores no cotidiano de suas ações e decisões.

Essa movimentação, tem como objetivo honrar os valores da inclusão não só em números de mulheres contratadas ou em posições de liderança, mas que existam estruturas propícias para que vivamos os valores do feminismo: horizontalidade, sororidade, interseccionalidade, coletividade versus individualidade, colaboração versus competição, olhar decolonial sobre as relações.

Se partimos da premissa que o termo Liderança Feminina já está popularizado e, de certa forma, mais tangível na construção simbólica da mulher que ocupa os espaços aos quais a sociedade não lhes direcionava como a posição de poder em suas comunidades, lugar de fala exercido e respeitado, direcionamento para ações que incluem mais que excluem, respeito às companheiras por mais que haja discordância e vocação para inclusão, não significa que essa liderança consiga mudar macroestruturas. Uma liderança em posição de CEO, fundadora ou gerente, não necessariamente consegue sozinha mudar culturas estruturalmente, pode influenciar, mas dificilmente realiza mudanças sem grandes atritos e fricções.

Porque vivemos em um mundo calcado no masculino, na competição, no individualismo e isso se reflete inclusive no que chamamos de feminismo branco: aquele que os valores da equidade se aplicam apenas às iguais em raça e privilégio.

Discutir, portanto, como um processo decisório no cotidiano de comunidades, organizações, instituições podem ser governado por valores feministas é romper com uma ideia fluida de que basta apenas exercer sua individualidade feminista para termos macrossistemas orientados aos valores da coletividade que incluem e promove mulheres de forma transversal e não em setores, bolhas ou vinculado à temporalidade de uma liderança. Ou seja, é deixar um lastro que realiza a equidade de forma quase automática, sem grandes entraves contra um grupo de poder, que insiste em manter o status quo e cede sob pressão de leis, regulamentações e punições pecuniárias de acionistas ou financiadores.

É uma mudança estrutural. Para isso, estive em Berlim, ao lado de especialistas do mundo inteiro para discutir como conceituar, explicar e fornecer ferramentas para que a governança feminista inclusiva seja algo tão disseminado como é o termo liderança de mulheres. Tecer frameworks, fluxos, definir estruturas será parte de um trabalho a ser realizado até outubro no Hub Feminista, iniciativa organizada pela organização alemã supracitada e One Future Collective, da Índia.

Ao longo desses meses, iremos nos debruçar sobre conteúdo e formato para tentar facilitar o acesso a esse conceito de gestão e liderança àqueles que se incomodam inclusive como os termos liderança feminista e feminismo foram esvaziados e reconceituados à mercê de interesses que desprezam a coletividade e a justiça social. E, como brasileira, não pude deixar de inserir na galeria de recursos o livro “Lugar de Fala”, da Djamila Ribeiro, porque, como brasileira, não posso conceber governança sem considerar a urgência de discutir gênero e raça como direcionadores de um mundo mais justo.

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