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Semana de 6 dias de trabalho na Grécia: será que funciona?

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Foto: Isaque Martins.

Por Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria.

Recentemente, a Grécia implementou a semana de 6 dias, uma decisão que reacendeu debates globais sobre a organização do tempo de trabalho. Esta medida levanta uma série de questões sobre sua origem, os precedentes globais, suas vantagens, desvantagens e como poderia ser adaptada ao contexto brasileiro.

Já se perguntou por que a Grécia escolheu aumentar os dias de trabalho?

A ideia de estender a semana de trabalho frequentemente surge em períodos de crise econômica. A Grécia, enfrentando desafios econômicos persistentes, decidiu adotar esta medida como uma tentativa de aumentar a produtividade e acelerar a recuperação econômica. No entanto, a iniciativa tem suas raízes em contextos históricos nos quais longas jornadas eram a norma, como na era industrial.

No início dessa fase, que começou no final do século XVIII e se estendeu até o século XIX, a jornada de trabalho passou por transformações drásticas. Antes dessa era, as atividades laborais eram principalmente agrícolas e ajustadas às estações do ano e à luz do dia. Com a industrialização, a introdução de fábricas e máquinas a vapor revolucionou a produção, mas trouxe também jornadas de trabalho extenuantes e condições difíceis.

Os trabalhadores, incluindo mulheres e crianças, frequentemente enfrentavam jornadas de 12 a 16 horas por dia, seis dias por semana. A necessidade de maximizar a produção nas fábricas levou a uma demanda incessante por trabalho contínuo, sem consideração pela urgência de descanso dos trabalhadores. As condições nas fábricas eram muitas vezes perigosas, com pouca ventilação, iluminação inadequada e alto risco de acidentes.

Além das longas horas, os salários eram baixos e as condições de trabalho, insalubres. As crianças eram particularmente vulneráveis, sendo empregadas em atividades que exigiam destreza e eram mal remuneradas. A legislação trabalhista começou a surgir gradualmente, com atos como o Factory Act, de 1833, na Inglaterra, que limitou as horas de trabalho para crianças e introduziu inspeções fabris.

Turnos intensos ou redução de jornada?

Outros países já experimentaram formas variadas de organizar a jornada de trabalho. Por exemplo, a China e o Japão possuem culturas de trabalho intensas, com horas semanais frequentemente excedendo o padrão de 40. Recentemente, algumas empresas na China começaram a implementar semanas de 6 dias para enfrentar desafios econômicos e aumentar a produção.

Na China, o esquema de trabalho conhecido como “996” é um dos mais discutidos. Esse modelo sugere que os funcionários trabalhem das 9h às 21h, seis dias por semana, totalizando 72 horas semanais. O “996” tem sido amplamente utilizado em empresas de tecnologia e startups, onde há uma cultura de alta demanda por produtividade e entrega rápida de resultados.

Outro termo associado é o “007”, uma expressão menos comum, mas que se refere a um regime ainda mais intenso, onde os trabalhadores estariam disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana, o que é praticamente insustentável e uma hiperbolização das exigências em alguns setores.

Mas até na China, governo e tribunais têm intervindo ocasionalmente. Em agosto de 2021, a Suprema Corte, junto com o Ministério de Recursos Humanos e Seguridade Social, declarou que o “996” é ilegal, reforçando as leis trabalhistas que limitam a jornada de trabalho a 44 horas semanais e exigem pagamento de horas extras.

Afinal, será mesmo que turnos intensos são sinônimo de produtividade?

Por outro lado, países como Islândia e Espanha têm explorado a semana de 4 dias de trabalho, com resultados bastante positivos. Estudos indicam que a redução da jornada semanal pode levar, justamente, a um aumento na produtividade e na satisfação dos funcionários, sem prejudicar a economia. A experiência da Islândia, por exemplo, mostrou que uma semana de trabalho mais curta pode melhorar a saúde mental e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos trabalhadores​.

Vantagens e desvantagens

A semana de 6 dias pode oferecer algumas vantagens, como o aumento da produção e potencialmente a recuperação econômica em tempos de crise. No entanto, essas vantagens são contrabalançadas por uma série de desvantagens. Estudos indicam que jornadas de trabalho mais longas podem levar a um aumento no estresse e no esgotamento dos trabalhadores, além de reduzir a produtividade a longo prazo​​.

Afinal, como balancear produtividade e saúde mental dos trabalhadores? Implementar uma semana de 6 dias de trabalho exige cuidados específicos. É fundamental garantir que os trabalhadores tenham tempo suficiente para descanso e recuperação. Além disso, deve-se considerar a implementação de medidas de saúde mental e apoio psicológico para evitar o esgotamento e outros problemas de saúde relacionados ao trabalho excessivo.

E como seria trabalhar 6 dias por semana no Brasil?

Nosso país, com sua grande diversidade econômica e social, poderia enfrentar desafios únicos. É crucial considerar a legislação trabalhista existente, a infraestrutura de suporte aos trabalhadores e as possíveis reações dos sindicatos e organizações de trabalhadores.

Independentemente das peculiaridades, essas discussões nos oferecem uma oportunidade para reavaliar como organizamos nosso tempo de trabalho. No contexto brasileiro, qualquer mudança deve ser cuidadosamente planejada e implementada com um foco claro no equilíbrio entre produtividade e qualidade de vida e bem-estar. Concorda?

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