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Insegurança alimentar e desperdício no Brasil: um panorama atualizado

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Alcione Pereira, CEO e Fundadora da Connecting Food
Foto: Marcelo S. Camargo

Por Alcione Pereira, fundadora e CEO da Connecting Food.

O paradoxo entre os altíssimos níveis de desperdício na cadeia produtiva e o número de pessoas em insegurança alimentar severa no Brasil, sempre foi um tema muito instigante para nós.

Nos últimos anos, infelizmente, assistimos a um agravamento do quadro da fome no nosso país, por vários motivos, entre eles, as consequências da pandemia; o aumento da desigualdade social; a inflação e alta dos preços dos alimentos; o desemprego e a informalidade; a falta de acesso a políticas públicas; entre outros. Mas recentemente vimos o panorama mudar e é importante ressaltar que é muito bom ver avanços, porém, sabemos que o problema ainda persiste em magnitudes preocupantes.

Por isso, pensamos que seria relevante avaliar o que tem sido feito e o que mais nos falta, para que a situação seja mesmo resolvida.

Um estudo recente feito pelo Instituto Fome Zero revelou que os índices de insegurança alimentar melhoraram muito, com cerca de 65% a menos de pessoas passando fome no país em 2023, comparando com o início de 2022. Também o IBGE divulgou, há poucos dias, os resultados da pesquisa utilizando a escala EBIA (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar), em que vemos que, no último trimestre de 2023, cerca de 9 milhões de brasileiros se encontravam no pior nível da escala, enquanto esse número era superior a 33 milhões em 2022.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, as iniciativas que vêm contribuindo para a melhoria são, especialmente, decorrentes do amplo conjunto de políticas e programas sociais reunidos no Plano Brasil Sem Fome (como o Auxílio Brasil, o programa Auxílio Gás, a compra direta da agricultura familiar etc.).

Também podemos destacar a retomada do crescimento da economia, com geração de emprego e renda, a valorização do salário mínimo, os programas de educação alimentar e nutricional, e as diversas iniciativas lideradas pela sociedade civil, para garantir o mínimo acesso a alimentos ao maior número possível de cidadãos.

Mas, por outro lado, temos o desperdício de alimentos, que continua sendo alarmante. Uma pesquisa recente do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), divulgada no último 27 de março, mostrou que o desperdício, apenas em nível doméstico, é estimado em 94 kg per capita ao ano. Porém, o consumidor é apenas a ponta final da cadeia.

Por isso, continua sendo imprescindível que os produtores, as indústrias e o varejo também apostem todas as fichas na estratégia ESG para mitigar as origens das perdas. E, quando não for possível evitá-las, que ao menos a parte apta ao consumo humano possa ser direcionada, como doação, a quem mais precisa.

Além das doações dos excedentes, muitas outras iniciativas envolvendo os vários atores desse ecossistema são necessárias e urgentes. Entre esses recursos, podemos citar o maior uso da tecnologia para identificar pontos que precisam ser reestruturados durante o processo produtivo; campanhas de conscientização para os trabalhadores e consumidores; incentivo ao consumo consciente; combate à desigualdade social; implementação de mais políticas públicas.

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