Por Cláudia Gusukuma, gerente de recursos humanos da Eletronet.
Fatores como a evolução da medicina, a adoção de hábitos saudáveis e a busca por melhor qualidade de vida, entre outros, aumentaram a longevidade e o tempo produtivo das populações ao redor do planeta. No Brasil, o senso de 2022 aponta que o índice de envelhecimento alcançou 55,2 pessoas com idade a partir de 65 anos para cada 100 crianças de 0 a 14 anos. Em comparação com 2010, a estatística era 30,7. Somado a isso, houve uma queda do índice de natalidade caindo em uma média de seis filhos por mulher na década de 1960, para 1,65 filho em 2020, o que demonstra que o mundo está envelhecendo.
Outro ponto relevante foi a Reforma da Previdência em 2019, que adiou os planos de aposentadoria de muita gente e, automaticamente, a população 50+ segue ativa no mercado de trabalho, somando forças com as novas gerações. Ainda, estudos da consultoria Ernest Young indicam que até 2040, seis em cada dez trabalhadores brasileiros terão mais de 45 anos de idade. Já os números do IBGE mostram que, em 17 milhões de famílias brasileiras, o sustento econômico fica por conta de pessoas com mais de 60 anos, e isso vem sendo um desafio para gestores que precisam estar preparados para lidar com profissionais de várias faixas etárias.
De acordo com o relatório “Tendências de Gestão de Pessoas”, do Ecossistema Great People & GPTW, divulgado no início deste ano, 51,6% dos gestores têm dificuldades para lidar com equipes com muitas diferenças de idade. Apesar desses dados refletirem o pensamento da maioria dos profissionais de RH, eu não observo “choque de gerações” no meu dia a dia, pois, a convivência é surpreendentemente saudável entre Boomers (1945-1964), Gen X (1964-1980), Millenials (1980-1995) e Gen Z, em um intervalo intergeracional que cobre 50 anos.
Num ambiente que foca o engajamento e a colaboração das equipes, em modelos de trabalho que se modificaram de presencial para híbrido, especialmente após a pandemia da Covid 19, o desafio para lidar com profissionais de diversos perfis e faixas etárias inclui utilizar canais de comunicação assertivos, que deem vazão à voz de todos e promovam a interação entre esses públicos.
Medidas como considerar a plataforma de comunicação que melhor atende cada grupo de trabalho (e-mail, WhatsApp etc.) fazem toda a diferença. Por experiência própria, posso afirmar que abrir o leque nos formatos de comunicação com os times facilita o alinhamento das gerações e permite transformar diferenças em aliadas para o sucesso do negócio, otimizando o desempenho operacional.
O valor do onboarding como estratégia de engajamento
Acredito muito na etapa do onboarding (integração um novo profissional à companhia) como recurso-chave para apresentar as regras de engajamento da empresa, assim como os propósitos e o próprio “jeitão” de ser da companhia.
Como gestora de Recursos Humanos de uma empresa de perfil técnico, entendo que o onboarding um pouco mais longo, com apresentações dos aspectos técnicos e das políticas corporativas, em imersão que pode demorar até duas semanas, principalmente para aqueles que são de fora da capital paulista (onde está a sede da companhia), vem funcionando bem para promover e impulsionar o pertencimento, o alinhamento das expectativas e o engajamento.
É nesse momento de imersão, por exemplo, que os novos integrantes têm a oportunidade de interagir com nossos colaboradores mais antigos, aqueles que estão presentes na empresa desde a fundação, dispostos a compartilhar conhecimento técnico e histórias dos primórdios da internet no Brasil. Eles são nossa história viva, patrimônio intangível da nossa corporação.
Hoje, avalio que a soma de diferentes gerações profissionais é um de nossos maiores ativos. Atualmente, contamos com pouco mais de 120 colaboradores de várias faixas etárias: 14% entre 19-29 anos, 27% entre 30-40 anos, 38% entre 41-50 anos, 15% entre 51-60 anos e 6% acima de 60 anos. Nosso caçula tem 20 e o mais velho 75 anos de idade, e nosso critério de avaliação de resultados é igual para todos, com base em performance e qualidade das entregas, que devem estar adequadas a cada função e área de atuação.
Percebi, ao longo da minha jornada como gestora de pessoas, que a comunicação aberta, franca e direta da empresa com profissionais de todos os níveis hierárquicos é um dos principais recursos para incentivar a interação entre as diferentes faixas etárias, assim como promover a troca de ideias e experiências, em que os mais jovens também têm muito a ensinar, e que todos devem se reinventar quase que diariamente, devido ao core business da empresa estar 100% relacionado à tecnologia.
Conciliar os diferentes perfis de colaboradores não é tarefa fácil e a comunicação fluída não é uma ferramenta mágica, mas aponto que procedimentos básicos, como promover um onbording completo, estruturar canais de comunicação eficazes e implementar oportunidades de encontros e trocas, podem trazer ótimos resultados para o engajamento das gerações dentro da empresa.