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O que acontece com as empresas após pedido de recuperação judicial?

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Marcello Marin
Foto: divulgação

Por Marcello Marin, contador, administrador, mestre em Governança Corporativa e especialista em Recuperação Judicial.

A recuperação judicial é uma ferramenta à qual empresas impactadas por grandes dívidas muitas vezes acabam recorrendo para poder sanar essas dívidas. Neste cenário, as companhias devem se reinventar, tanto operacional quanto financeiramente, uma vez que terá que cortar custos, fazer melhorias de processos e buscar eficiência para que gaste menos do que ganha.

Quando bem conduzido e assistido, o processo de recuperação judicial se transforma em uma chance de renegociação no longo prazo, pois também traz uma melhora operacional e de fluxo de caixa da empresa. É preciso ter em mente, porém, que um pedido de recuperação judicial abala, e muito, a reputação do negócio.

Isso se dá porque a maioria dos fornecedores ficará com medo de continuar fornecendo e não receber e os clientes terão medo de comprar e não ter o produto, entre outras consequências. Dessa maneira, o processo de retomar a reputação empresarial é lento e deve ser buscado com atitudes que demonstram que os tempos de dificuldade passaram e que agora a empresa está sendo bem gerida.

Entendendo os tempos de crise

De acordo com dados levantados pela Serasa Experian, em 2023, quase 400 empresas no Brasil entraram com pedido de recuperação judicial. Chama a atenção que muitas delas são gigantes no setor de varejo e prestação de serviços, como Americanas, Oi, Light e o Grupo Petrópolis.

Para efeitos de comparação, em 2022, 275 companhias haviam entrado com o requerimento nos quatro primeiros meses, enquanto em 2023, foram 382 no mesmo período. Esse número do ano passado representa um aumento de 39%.

No período de recuperação judicial, o maior desafio é mostrar que a empresa está mudando. Para isso, é preciso garantir a fornecedores e clientes que os erros do passado não acontecerão novamente, isso pode ser feito por meio de uma governança corporativa de qualidade, com pessoas profissionais e éticas; demonstrando que a transparência e o respeito pela saúde financeira prevalecerão dentro da empresa.

  1. Estruturar uma empresa é essencial para que ela volte a ser rentável e bem-vista no mercado. Pensando em estrutura de governança corporativa, a companhia terá que se utilizar dos pilares (transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa) para impor regras que devem ser seguidas, a fim de que a empresa tenha uma estrutura de defesa de seus negócios e sempre trabalhe buscando a autonomia e crescimento contínuo.
  2. As empresas que estão no processo de recuperação judicial devem responder ao Administrador Judicial durante todo o processo. Esse administrador é o responsável por mostrar ao juiz e credores como está o processo; este, após aprovado, dura em média dois anos, podendo ser encerrado antes desse período ou estendido, caso necessário, a depender do juiz e das solicitações da empresa.
  3. Uma empresa em recuperação judicial, na maioria das vezes, não terá crédito no mercado. Isso faz com que o dinheiro dela custe mais que o das outras companhias, sendo que o custo do dinheiro é o que pode acabar por matar uma empresa, algo que, por si só, já é um grande complicador.

Em paralelo, somam-se a isso os credores que devem ser pagos e, principalmente, as ações trabalhistas (quando houver), elementos que podem impactar em bloqueios de contas e ativos da empresa.

  1. Para se reerguer após uma recuperação judicial, a empresa deve focar em uma boa gestão profissional. Será graças a essa sobra de caixa que o negócio conseguirá se restabelecer novamente. Procurar “sócios” também pode ser uma alternativa para que se tenha uma injeção de dinheiro na companhia e, dessa maneira, facilitar a vida da e na empresa.

Em suma, em cenário de recuperação judicial, o famoso ditado “viver mais com menos” vira regra.

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