Por Eduarda Camargo, Chief Growth Officer e responsável pela aquisição e receita de novos clientes na fintech Portão 3.
Inserida no dinâmico universo das startups e empresas financeiras, enxergo uma realidade preocupante: a academia, tradicionalmente o berço do conhecimento e da inovação, não tem conseguido acompanhar o ritmo acelerado do setor tecnológico. Vivemos em uma era onde a experimentação, o erro rápido e a adaptação contínua são imperativos. No entanto, a academia ainda funciona com uma mentalidade que, em muitos casos, parece estar defasada em pelo menos uma década, deixando seus métodos e abordagens distantes das demandas atuais do mercado.
Para os pequenos negócios, especialmente os da área tech, não há moldes ou fórmulas pré-estabelecidas. A base de qualquer inovação é o teste contínuo, a disposição de errar e aprender com os erros, para, então, iterar rapidamente e tentar novamente. Não à toa, essa revolução é prioridade para 83% dos executivos ouvidos por um levantamento realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) e o universo tech destaca esse tema como prioritário dentro da tecnologia (98%).
O modelo de crescimento (também conhecido como growth) não é algo que possa ser ensinado em uma sala de aula tradicional. Ele é sobre perseguir uma hipótese, uma ideia que, na maioria das vezes, ainda não foi comprovada. E, no processo, surgem inúmeras descobertas — algumas revolucionárias, outras nem tanto. Mas todas são essenciais para o avanço de uma organização.
Contraste isso com a academia, onde o tempo necessário para validar uma ideia, através de publicações e revisões por pares, é extremamente longo. Enquanto o rigor científico é, sem dúvida, fundamental, o mundo real não tem o luxo de esperar. As startups operam em um ambiente onde o atraso pode significar a perda de uma oportunidade única no mercado. E nesse cenário, a agilidade supera a precisão em muitas vezes.
Ao insistir em métodos tradicionais e cronogramas rígidos, pode estar preparando seus estudantes para um mundo que já não existe. Muitos currículos ainda se baseiam em teorias e práticas que, no contexto atual, estão desatualizadas. Enquanto isso, as empresas de tecnologia precisam de profissionais capazes de pensar de forma ágil, de tomar decisões baseadas em dados incompletos e de se adaptar rapidamente a mudanças.
Essa desconexão tem um impacto direto na inovação. Os negócios que lideram o mercado hoje em dia não esperam a validação acadêmica para experimentar novas abordagens. Elas testam, falham, aprendem e, eventualmente, acertam. É um ciclo rápido e incessante que a academia, com suas estruturas atuais, simplesmente não consegue acompanhar.
Não se trata de uma crítica à importância da pesquisa e do rigor acadêmico, mas sim de um chamado à reflexão. A academia precisa se reinventar, encontrar maneiras de se alinhar mais estreitamente com o ritmo do mercado. Isso pode significar uma integração maior com as startups, a inclusão de métodos ágeis no currículo ou a promoção de uma cultura de experimentação.
Estamos vivendo em um mundo que se move em uma velocidade nunca antes vista, e a academia, para permanecer relevante, deve encontrar formas de acelerar seu passo. Caso contrário, corremos o risco de formar profissionais para um mercado que já se foi, enquanto as startups e empresas de tecnologia continuarão a seguir adiante, criando o futuro sem esperar que a academia os acompanhe.