Por Patrícia Cavalcanti, diretora de Digital Energy e Power Products na Schneider Electric para a América do Sul.
A sustentabilidade na engenharia civil tem sido cada vez mais imprescindível. Não à toa, a construção e operação de edifícios representam hoje uma parcela significativa das emissões de carbono – cerca de 30% delas ocorrem na fase de construção e todo o restante durante a operação. Por conta disso, é um setor que tem sido bastante debatido nas discussões globais sobre mitigação climática e a busca por soluções mais eficientes e sustentáveis.
Governos e organizações de todo o mundo têm impulsionado políticas de incentivo para práticas sustentáveis desde o início dos projetos de construção, como a implementação de sistemas de gestão de energia (BMS), que possibilitam o controle otimizado dos recursos energéticos, contribuindo para a redução das emissões.
Entretanto, mesmo com essas iniciativas, a construção sustentável ainda enfrenta grandes desafios. Compensações de carbono, a propósito, são alternativas adotadas frequentemente pelas organizações para mitigar as emissões inevitáveis dessa etapa, embora seja na operação dos edifícios que o potencial de transformação se amplie, com a eficiência energética se destacando como a principal solução.
Na fase de operação de um edifício, já é possível diminuir as emissões de carbono. 90% delas podem ser eliminadas por meio de tecnologias avançadas de automação predial, modernização de sistemas de climatização e uso de fontes de energia renovável, como a solar e a eólica. Isso nos mostra como a eletrificação e a digitalização são capazes de criar uma operação mais eficiente e sustentável.
Outro elemento fundamental é o uso de sensores e da automação para aprimorar o consumo energético conforme a ocupação e o uso dos espaços. Esses dispositivos ajustam automaticamente a iluminação e a climatização com base no número de pessoas em uma sala, melhorando a eficiência dos edifícios e colaborando diretamente para a sustentabilidade no longo prazo.
No Brasil, ainda enfrentamos obstáculos específicos quando falamos de construção sustentável. Embora muitas novas construções – especialmente em grandes centros como São Paulo – busquem certificações de sustentabilidade, como o LEED, a modernização dos edifícios mais antigos permanece uma barreira significativa.
Boa parte desses prédios foi construída com tecnologias obsoletas e pouco eficientes em termos energéticos, porém essa modernização é viável e indispensável. Esse processo, inclusive, pode começar com a implementação de sistemas de automação e a substituição de tecnologias desatualizadas.
Uma solução promissora para a sustentabilidade na operação dos edifícios é o uso de microrredes (microgrids), que permitem a geração local de energia limpa. Além de reduzir as emissões de carbono, essa tecnologia traz maior independência energética para os edifícios e propicia que o excedente de energia seja reintegrado à rede elétrica, gerando créditos aos proprietários dos edifícios.
A sustentabilidade na construção civil não deve ser encarada apenas como uma tendência, e sim como uma necessidade que está diretamente conectada com o futuro do planeta. Organizações e governos estão cada vez mais conscientes de que, somada aos benefícios ambientais, a eficiência energética proporciona vantagens econômicas significativas.
No Brasil, baixar custos é uma prioridade, e a eficiência energética se provou uma das maneiras mais eficazes de alcançar essa meta – por mais que ainda exista muito trabalho a ser feito nesse sentido. Para que essa transformação ocorra de forma mais rápida e efetiva, é essencial que as políticas públicas acompanhem essa evolução da tecnologia.
Certificações de eficiência energética para edifícios, que já são obrigatórias em diversos países da Europa, precisam ser fortalecidas também no Brasil, incentivando a automação predial e o uso de energias renováveis. A matriz energética predominantemente hidrelétrica do Brasil já oferece uma base favorável, mas é importante que novos projetos e modernizações sigam um caminho claro em direção à sustentabilidade.