Por Marcio Masso Shimomoto, empresário contábil, presidente da JUCESP e CEO da King Contabilidade.
O setor contábil está vivenciando uma transformação profunda nos últimos anos, impulsionada por inovações tecnológicas e mudanças nas demandas de mercado. A digitalização de processos, o uso crescente de inteligência artificial e a adoção de softwares especializados reformularam o modo como os contadores desempenham suas funções, gerando novas oportunidades, mas também impondo desafios.
A contabilidade no Brasil também teve várias fases. Sem dúvida, a pior fase para a contabilidade foi a da hiperinflação, quando, por conta da alta generalizada dos preços, os números expressos na contabilidade começaram a não fazer mais sentido para uma boa gestão dos negócios. Mesmo com a criatividade dos contadores brasileiros, que criaram a correção monetária do balanço, quando os empreendedores examinavam os relatórios financeiros, eles já não refletiam mais a realidade da empresa. Foi nessa época que a contabilidade perdeu muito da sua função de auxiliar na gestão para se tornar mais uma contabilidade fiscal.
Com a queda da inflação e a melhora na conformidade fiscal, hoje a contabilidade reflete a realidade do negócio, sendo possível usá-la não só para refletir o passado, mas também como base para a construção e planejamento futuro. A qualidade dos números decorre basicamente de melhores ferramentas hoje disponíveis, bem como de profissionais mais bem preparados para usar essas ferramentas e interpretar os resultados.
Hoje também temos as entidades contábeis que possibilitam o networking com vários empresários que se reúnem, discutem, debatem e compartilham melhores práticas e ferramentas para o crescimento dos profissionais contábeis.
A automação de tarefas, como a escrituração contábil e o cálculo de tributos, trouxe maior eficiência e rapidez ao trabalho desses profissionais. No entanto, essa modernização exige uma adaptação contínua, com o domínio de novas ferramentas e tecnologias sendo crucial para o sucesso.
Com a reforma tributária, o papel dos contadores será ainda mais estratégico durante o período de transição. A digitalização das obrigações fiscais permitirá que esses profissionais foquem menos em tarefas operacionais e se concentrem mais em análises aprofundadas e consultorias especializadas, auxiliando diretamente na gestão financeira das empresas.
Importante relatar que a proposta de Regulamentação da Reforma Tributária em tramitação no Congresso Nacional, por meio do Projeto de Lei Complementar nº 68/2024 (PLP nº 68/2024), prevê alterações significativas nas normas de responsabilidade solidária em casos de fraudes tributárias. O PLP nº 68/2024 estipula que serão considerados responsáveis solidários aqueles que, de maneira ativa ou passiva, contribuírem para a ocultação de operações, valores ou para o abuso da personalidade jurídica, caracterizado por desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
O debate em torno da Reforma Tributária tem despertado grande interesse, especialmente no que tange à responsabilidade solidária, um tema intrigante dado que o principal objetivo da reforma é simplificar e desburocratizar o sistema, mantendo a carga tributária estável. Contudo, a atribuição de responsabilidades solidárias a terceiros que prestam serviços, frequentemente sem interferir diretamente na gestão dos negócios de seus clientes, pode resultar em maior burocracia, aumento de riscos e, consequentemente, elevação dos custos desses serviços.
Essas novas diretrizes têm causado preocupação entre os profissionais da contabilidade, especialmente no que se refere ao impacto em suas atividades diárias. É crucial que a nova legislação estabeleça critérios claros e objetivos para a aplicação da responsabilidade solidária, evitando penalizações injustas.
Portanto, os contadores devem exercer suas funções com redobrada atenção e cuidado, sempre guiados pela ética e profissionalismo. Manter-se atualizado sobre as mudanças na legislação tributária e buscar orientação jurídica em caso de dúvidas são práticas essenciais. Mais uma vez, os prestadores de serviços enfrentam penalidades adicionais. Além do aumento do custo tributário para as empresas de serviços, também se eleva o risco associado ao negócio.
Muito além de simples “guardiões dos números”, os contadores são essenciais para a tomada de decisões financeiras, o cumprimento de obrigações fiscais e a sustentação econômica de empresas de todos os portes.
Mesmo com o avanço da tecnologia, o fator humano continua sendo indispensável. A ética, responsabilidade e dedicação dos contadores permanecem inabaláveis, demonstrando que, apesar das inovações, o papel desses profissionais segue essencial em um cenário em constante evolução.
O novo cenário para a classe contábil é promissor, mas também exige adaptação contínua. Os profissionais da contabilidade que estiverem dispostos a abraçar a inovação tecnológica e desenvolver novas habilidades terão a chance de se destacar como verdadeiros consultores estratégicos. E, no Dia do Contador, em 22 de setembro, é o momento ideal para reconhecer o valor e a dedicação desses profissionais essenciais para o sucesso financeiro das empresas.
