Por Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para a América do Sul.
Com tantas mudanças e adversidades no clima enfrentadas pelo mundo nos últimos anos, devemos refletir um pouco sobre o uso dos recursos energéticos e sua importância para o futuro do nosso planeta. Incentivar práticas mais conscientes de consumo, especialmente no setor industrial, é essencial para promover economia de energia e mitigar impactos ambientais.
É fato que a energia é o motor do desenvolvimento, mas seu desperdício e a dependência de fontes não renováveis agravam continuamente a crise climática. No Brasil, o consumo energético registrou um crescimento de 5,6% em agosto, segundo levantamento da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). E a indústria foi a principal responsável por esse incremento no índice.
A transição para uma matriz energética mais otimizada e limpa vem sendo adotada por um número crescente de organizações em todo o mundo, e o Brasil, com sua matriz energética diversificada, não é exceção. A América do Sul se destaca nesse cenário, uma vez que os países da região estão entre os mais comprometidos com a transição energética global.
De acordo com a Statistical Review of World Energy, o continente apresenta atualmente mais de 30% de energias renováveis em sua matriz primária, refletindo a participação desse recurso obtido diretamente da natureza no consumo total. Quando analisamos a matriz de geração de eletricidade, esse percentual sobe significativamente para cerca de 70%.
Entretanto, ainda há alguns obstáculos para maximizar sua eficiência energética – escolha essa que deve ser priorizada por todas as indústrias. Como exemplo, um estudo do Conselho Americano para uma Economia de Energia Eficiente (ACEEE) aponta que o Brasil ocupa apenas a 19ª posição entre as nações com maior rendimento energético. Estamos falando de um país com dimensões continentais que é uma potência em geração de fontes limpas, como hidrelétricas e solares, mas que não sabe utilizar da melhor forma esses recursos e expõe altos números de desperdício em perdas e baixa eficácia.
É uma constatação que alerta para a necessidade de modernizar, com urgência, a nossa infraestrutura energética. A conscientização sobre o impacto ambiental e a necessidade de discutir as mudanças do clima têm levado os países sul-americanos a definir medidas para diversificar suas fontes e limitar a dependência dos combustíveis fósseis.
A implementação de tecnologias mais capacitadas e aptas para o uso da energia é, além de um benefício ambiental, uma vantagem competitiva para as empresas, que podem economizar milhões de reais com a otimização dos seus processos produtivos e operacionais. Não à toa, a revolução digital está mudando fortemente a maneira como gerenciamos a energia.
Nesse contexto, a Eletricidade 4.0 representa uma inovação fundamental para uma virada do setor energético, pois une a digitalização às fontes renováveis para transformar a maneira como geramos e consumimos energia. Isso abrange métodos sustentáveis que reduzem consideravelmente as emissões de carbono e eliminam desperdícios, agregando um uso mais inteligente dos recursos.
A digitalização permite às empresas monitorar em tempo real a utilização de energia em edifícios, indústrias e na infraestrutura, proporcionando uma gestão mais aprimorada e funcional. A automação de processos produtivos, por sua vez, torna as operações industriais menos intensivas na aplicação desse recurso, contribuindo diretamente para a queda das emissões de carbono.
Mais do que promover economia de energia, essas inovações oferecem uma gestão de riscos energéticos e operacionais, consolidando dados sobre sustentabilidade e governança em plataformas digitais. Essa capacidade de integrar fontes renováveis à infraestrutura elétrica já existente é um grande avanço na transição para uma economia de baixo carbono.
Um dos maiores entraves, contudo, é o equilíbrio entre a necessidade de resultados de curto prazo e os compromissos de longo prazo com a sustentabilidade. Muitos governos e empresas hesitam em investir em tecnologias de eficiência energética devido ao alto custo inicial, mesmo sabendo das economias significativas que podem ser obtidas no decorrer do tempo.
Outro desafio é a infraestrutura: quando há um enorme potencial para o desenvolvimento de fontes renováveis, como a solar e a eólica, mas, sem uma base e equipamentos qualificados, esse potencial permanece subutilizado. Investimentos contínuos em modernização e digitalização são, portanto, cruciais para que o país possa liderar a transformação energética global.
Já as oportunidades são incontáveis. Soluções como o monitoramento inteligente do uso energético e a automação de processos produtivos podem resultar em economias substanciais tanto para organizações privadas quanto para o setor público. Diversos casos de sucesso demonstram que a aplicação dessas tecnologias em larga escala já é viável – e rentável.
No fim das contas, o compromisso com a economia de energia deve ser encarado como parte de uma estratégia mais ampla de neutralidade de carbono. Países e empresas em todo o mundo estão estabelecendo metas de descarbonização para 2050 que dependem fortemente da capacidade de diminuir o consumo energético e aumentar a eficiência. Nesse aspecto, ainda tem muito trabalho a ser feito pela frente.