Por Simone de Azevedo, sócia e diretora comercial na Mobensani.
Quando paramos para analisar com atenção o ambiente de negócios nacional, não restam dúvidas sobre o quão relevante é o papel das empresas familiares para a economia brasileira, representando um verdadeiro motor para o mercado do país, tanto em termos de geração de emprego quanto na produção de riquezas, renda e inovação.
Para quantificarmos melhor esse cenário vale citar que, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nada menos que 90% das organizações abertas pelo país têm perfil familiar, as quais respondem por 65% do Produto Interno Bruto e por 75% dos empregos gerados no Brasil, de acordo com relatório da Fundação Dom Cabral.
Diante de indicadores tão significativos, é possível afirmar que os negócios familiares são, de fato, um alicerce essencial para o crescimento do Brasil. Mas quais fatores influenciam tamanho sucesso e que pontos de atenção precisam ser observados?
Essa é uma reflexão relevante, sobretudo quando consideramos que o bom desempenho das empresas familiares envolve, antes de mais nada, uma realidade global, haja vista só entre as 500 maiores empresas com essa estrutura no mundo, a receita total de 2023 superou US$ 8 trilhões (alta de 10% em relação a 2022), conforme índice da E&Y.
Acompanhando esse mercado há mais de três décadas, um ponto evidente que me surge diz respeito à cultura organizacional única, a qual é transmitida ao longo das gerações e que se caracteriza como um ativo intangível determinante dentro de um mercado extremamente competitivo.
Isso porque, ao refletir os valores de suas lideranças, as empresas familiares saem na frente na hora de estruturar equipes alinhadas com princípios já claros, sólidos e difundidos no ecossistema humano de uma organização.
Diferentemente das empresas que enfrentam movimentos muitas vezes abruptos de mudanças de rota e de ciclos gerenciais, os negócios familiares, via de regra, se veem sustentados em uma visão de longo prazo, fato que otimiza, dentre outros pontos, a tomada de decisões estratégicas de modo mais alinhado internamente.
O grande desafio – e oportunidade – nesse sentido, é fazer com que esses valores sólidos dialoguem com as transformações do mercado e abram espaço para o desenvolvimento de novas lideranças, talentos e inovações. Com essa combinação, os princípios consistentes de uma empresa familiar se somam a um olhar inovador para o futuro.
Inovação que, aliás, pode ser impulsionada neste modelo de negócio, uma vez que a proximidade entre líderes, gestores e colaboradores se coloca como mais um diferencial para rotinas menos burocráticas e uma estrutura flexível que abre espaço para uma maior iniciativa e proatividade em prol do desenvolvimento de produtos, estratégias comerciais, de marketing e novas soluções para as “dores” que se apresentam no mercado.
Essa proximidade, por sua vez, tende a contribuir para um senso de pertencimento entre colaboradores e empresa – outro trunfo decisivo e próprio de uma cultura forte que favorece ambientes com clima positivo, em que a saúde mental e a inclusão são fortalecidas, e onde impera um maior engajamento e lealdade dos funcionários.
Há ainda um senso de propósito, de contribuição para um legado que pode trazer resultados expressivos na retenção de talentos e, consequentemente, em uma menor taxa de rotatividade em tempos de altos índices de turnover no mercado.
Naturalmente, há questões importantes que precisam ser mensuradas para que essa cultura organizacional se coloque, de fato, como um norte para o crescimento das empresas familiares. O estabelecimento, por exemplo, de políticas de governança consistentes que definam limites objetivos para as relações familiares e de negócio são indispensáveis para a gestão de eventuais crises e para que o olhar estratégico seja o pilar que direciona as decisões e rumos da organização.
Planejamento sucessório, é um pilar essencial neste tipo de empresa, pois há uma ligação umbilical que não pode ser desconsiderada, que por exemplo, se a empresa vai mal, ela pode refletir e fazer a Família ir mal em suas relações também, e vice versa, mesmo em empresas bem estruturadas com suas governanças, portanto este planejamento é tão importante, inclusive e o supracitado equilíbrio entre inovação e valores bem definidos são outros pontos que precisam ser levados em conta para que as organizações prosperem ao longo dos anos, trazendo tantos resultados positivos para a economia brasileira.
Diante de todo esse contexto, é importante que não se perca, por fim, a atenção com a cultura organizacional, sem dúvidas, a principal credencial de sucesso e o maior diferencial de uma empresa familiar, capaz que é de apontar os caminhos para negócios que seguirão fazendo a diferença no presente e no futuro.