Por Eduardo Gomes, presidente do conselho da Board Academy.
Uma empresa familiar, como o próprio nome sugere, é aquela em que a propriedade, a gestão ou ambas estão sob o controle de uma ou mais famílias. É caracterizada pela participação significativa de seus membros na tomada de decisões, na liderança ou no controle acionário da empresa com a intenção de repassá-la aos futuros gestores.
No Brasil, elas geram 65% do Produto Interno Bruto (PIB), e 75% dos empregos formais, segundo pesquisa recente do IBGE/SEBRAE. Porém, o índice de mortalidade dessas empresas é elevado, especialmente na transição entre primeira e segunda gerações, quando 70% delas encerram as atividades, de acordo com a pesquisa. O desenvolvimento de uma sucessão estruturada pode ser a chave para reverter esse cenário e garantir a prosperidade das próximas lideranças
A importância do aconselhamento profissional
O aconselhamento profissional surge como ferramenta essencial para apoiar a estruturação de processos sucessórios em empresas familiares. Pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral revelou que o apoio de conselheiros independentes, além de contribuir para uma governança mais robusta, fomenta a inovação e facilita a transição de liderança entre gerações.
Em 2023, um estudo da KPMG com essas organizações, de diferentes portes no Brasil, mostrou que 81% delas possuem Conselhos de Administração ou Consultivos, e que 85% desses conselhos contam com conselheiros independentes.
A presença de conselheiros externos permite que as companhias contem com uma visão estratégica mais ampla, essencial para antecipar e responder às novas exigências do mercado. A orientação especializada também ajuda no alinhamento com práticas ESG (ambientais, sociais e de governança), uma vez que os consumidores e investidores estão cada vez mais atentos aos compromissos éticos e de sustentabilidade.
Superando o conservadorismo para garantir a longevidade
O processo sucessório muitas vezes encontra resistência em razão do conservadorismo nas lideranças mais antigas, que tendem a manter o modelo de gestão tradicional. No entanto, para que a empresa familiar prospere e se mantenha competitiva, é essencial que ela se adapte às mudanças de mercado e às demandas da sociedade. Com o apoio de conselhos estratégicos, muitas companhias têm conseguido superar essas barreiras.
Trata-se de uma transformação facilitada por uma governança que estabelece regras claras de participação dos membros da família no negócio. Instrumentos como o Protocolo Familiar e o Acordo de Acionistas ajudam a regular as relações internas, permitindo que o legado seja preservado, mas sem impedir a adaptação à realidade do mercado.
Adaptando a cultura organizacional às novas lideranças
Uma cultura forte e adaptável pode facilitar a transição. Em tempos de rápida transformação econômica, as organizações que conseguem equilibrar tradição e inovação têm maior chance de sobreviver e prosperar. No entanto, a transição não ocorre de forma automática, ela exige planejamento e preparo de todos os envolvidos.
O aconselhamento profissional é especialmente útil nesse processo, ao ajudar no desenvolvimento da cultura organizacional que respeite o propósito original da família fundadora, mas que também seja resiliente e aberta a mudanças. A consultoria especializada pode orientar na constituição e gestão de conselhos estratégicos, adaptados às necessidades específicas de cada negócio.
Estruturar a sucessão dos negócios familiares é uma atividade complexa, que exige não apenas planejamento cuidadoso, mas também a adaptação da cultura organizacional e o apoio de especialistas externos.
Assim, o aconselhamento profissional tem se mostrado um recurso valioso para assegurar que o processo ocorra de forma harmoniosa e eficiente. À medida que essas organizações adotam uma governança mais estruturada e respondem às novas demandas de transparência e sustentabilidade, elas fortalecem seu potencial para garantir a continuidade e o sucesso em longo prazo.