Por Leonardo Micussi, profissional de educação física especializado na preparação física de atletas de alto desempenho.
Quando o gongo soa, o mundo inteiro assiste com expectativa. Mas o que poucos sabem é que a vitória começa muito antes do octógono, no trabalho árduo dos bastidores. Como preparador físico, sei que atletas que competem em eventos globais, como o UFC, enfrentam demandas extremas, desde resistência cardiovascular até força explosiva e flexibilidade.
Nós, preparadores físicos, temos um papel importante que vai muito além de criar treinos; somos responsáveis por desenvolver estratégias que potencializem o desempenho desses lutadores dentro do octógono, garantindo que estejam preparados para superar qualquer adversário.
Quando começo a trabalhar com um atleta, minha abordagem é totalmente personalizada. Analiso o estilo, o histórico de lesões e as características físicas e mentais do lutador. Cada plano de treinamento é pensado para atender às necessidades individuais e aos desafios do campeonato. Para mim, a preparação física é uma combinação de ciência, experiência e atenção aos detalhes. O trabalho começa muito antes de o atleta entrar na arena, na verdade, ele começa antes mesmo de a luta ser anunciada.
No MMA, força explosiva e resistência andam lado a lado. Golpes potentes e movimentos ágeis exigem um trabalho específico de força, mas é a resistência que sustenta o ritmo durante os rounds. É necessário buscar um equilíbrio entre essas duas capacidades, incorporando exercícios que aumentem a força, mas que também preparem o lutador para suportar longos períodos de esforço intenso. A recuperação é igualmente importante; atletas de alto desempenho precisam se recuperar rapidamente para manter o desempenho em treinos e competições.
Lesões são inevitáveis em um esporte tão intenso, por isso, a prevenção é o melhor remédio. Durante os treinos, dou atenção especial ao fortalecimento articular, à mobilidade e à flexibilidade. Esses aspectos não só ajudam a evitar lesões como também prolongam a carreira do atleta. Sempre digo: prevenir uma lesão é tão importante quanto ganhar, porque um acidente pode significar meses longe do octógono.
Recentemente, um exemplo claro de como as lesões podem impactar a preparação foi o caso de Charles do Bronx, um dos maiores campeões brasileiros do UFC. Ele precisou tratar alguns problemas no joelho para garantir que estivesse em condições físicas adequadas para competir, já que em meados de outubro, sofreu uma entorse no joelho direito durante uma atividade de preparação. Esse contratempo exigiu um cuidado redobrado, com a atenção voltada para a recuperação e a reabilitação, garantindo que o lutador pudesse voltar aos treinos e à sua rotina de competições o mais rápido possível.
Ao longo da minha carreira, percebi como um treinamento bem planejado pode transformar um atleta. Trabalhei com lutadores que evoluíram de iniciantes a competidores de alto nível, graças a um programa estruturado e consistente. Novas tecnologias, como inteligência artificial e dispositivos de monitoramento, já fazem parte do nosso dia a dia. Acredito que o futuro da minha profissão envolve integrar essas ferramentas com o conhecimento tradicional, criando treinamentos ainda mais eficientes e personalizados.
Meu grande desafio e minha maior recompensa é levar cada atleta ao seu melhor. Sei que cada vitória no octógono é fruto de um trabalho árduo e de uma dedicação que começa muito antes do gongo soar. Para mim, é uma honra fazer parte dessa jornada, ajudando a moldar campeões dentro e fora do octógono. Cada gota de suor derramada antes do combate é recompensada com a glória de um braço erguido no final. É essa jornada que me move a moldar campeões.