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Inovação e mobilidade coletiva: o impacto do design de produto na indústria de ônibus

Foto: divulgação.

Por João Paulo Cunha Melo, designer industrial.

Quando se pensa em criação de veículos, a mente automaticamente associa o conceito às marcas de automóveis. E essa caracterização é completamente normal, uma vez que o Brasil é um dos centros de desenvolvimento que fabrica e comercializa veículos para diversos países. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos, as exportações subiram 51,7% com comparação entre setembro de 2023 e 2024.

Grande parte do sucesso dessas vendas se dá pelo trabalho dos designers brasileiros, que se destacam pela habilidade de adaptação e entrega de soluções que vão além do solicitado no briefing (do inglês, instrução) do produto. E toda a capacidade criativa desses profissionais também está presente nos centros de criação das encarroçadoras de ônibus no Brasil.

Apesar de o protagonismo da área ser um longo caminho, as organizações estão evoluindo. Infelizmente, muitas delas ainda se consideram apenas “empresas de engenharia”, com o desenvolvimento de produtos alocado dentro desse departamento. Mas a verdade é que o design de produtos caminha lado a lado com a engenharia, desenvolvendo soluções cada vez mais disruptivas para as vias brasileiras.

E quais são as fases no desenvolvimento de um novo ônibus?

1. O tema visual de um novo produto baseia-se no DNA da marca. É preciso criar veículos que expressem um propósito e ofereçam uma assinatura estética exclusiva. Esse processo começa com uma demanda da área comercial, seja para uma nova geração de veículos, um facelift (do inglês, reestilização) ou melhorias pontuais. Com isso, é iniciada a projeção com desenhos em 2D, feitos à mão ou digitalmente, e, após a escolha do tema, evolui-se à modelagem 3D.

2. A definição de cores e acabamentos é imprescindível. Nessa fase, são escolhidos os materiais para tecidos e espumas das poltronas que, inclusive, favoreçam os usuários do ônibus, buscando oferecer conforto e durabilidade. No posto do motorista, o foco está em melhorar a ergonomia e a usabilidade, com comandos de fácil acesso e poltronas confortáveis. A criação vai além da forma e da estética; trata-se de proporcionar uma experiência superior ao usuário final.

3. A tecnologia é uma grande aliada da prevenção e da comunicação. Durante o desenvolvimento de um veículo, a área de realidade virtual gera renderizações fotorrealísticas que permitem avaliar materiais, formas e possíveis interferências com os componentes de engenharia, além de antecipar materiais de marketing e possibilitar que os clientes visualizem o produto antes mesmo da produção.

4. Todo projeto pode levar anos para ser concluído. O conceito aprovado no início deve ser pensado para se manter atual por um ciclo de 4 a 6 anos, até a próxima atualização. Então, após meses de trabalho colaborativo com a engenharia, o modelo é “congelado” e passa para a fase de prototipagem real, onde grandes peças são usinadas em MDF e recebem acabamento para simular o futuro veículo, permitindo avaliar formas e proporções.

Portanto, embora nem todas as encarroçadoras valorizem a criação como deveriam, o mercado já demonstra que as empresas que investem em uma visão moderna e estratégica conquistam um diferencial competitivo – e o mesmo funciona com os ônibus. Isso porque o design de produtos não se trata apenas de torná-los visualmente atraentes, mas sim de resolver problemas de forma criativa, melhorar a experiência dos usuários e agregar valor à marca.

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