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Agentic IA: o desafio da implementação de IA autônoma

Paulo-Watanave
Foto: divulgação

Por Paulo Watanave, diretor de operações de Data & AI na Nava Technology for
Business.

A presença da inteligência artificial (IA) já é uma realidade no mundo corporativo.
Nos últimos dois anos, foi possível observar de perto a evolução desta ferramenta,
que tem otimizado o trabalho e automatizado tarefas simples. Uma pesquisa da
Microsoft revelou que 74% das micro, pequenas e médias empresas do Brasil já
utilizam algum tipo de IA, demonstrando a realidade no país. Os sistemas
conhecidos como LLMs (Large Language Models), tais como o GPT ou LLaMA,
revolucionaram a interação humano-máquina pela capacidade de gerar conteúdos.
No entanto, ainda são limitados pela dependência do aprendizado baseado em
informações passadas, restringindo sua inovação autônoma.

Por isso, surge uma inovação chamada “Agentic IA”, que se diferencia dos sistemas
tradicionais ao integrar análise, decisão e ação automatizada de forma interligada.
Na prática, a Agentic IA pode responder e agir com base em análises contínuas,
ajustando suas ações por meio de um ciclo retroalimentado. O termo, derivado de
uma expressão em inglês que sugere a ideia de algo que é simultaneamente
produto e produtor, reflete claramente o princípio que sustenta sua funcionalidade.

Quando for amplamente adotado, esse sistema terá um grande impacto em diversos
setores. Um exemplo prático seria um chatbot bancário que, além de responder
perguntas, toma decisões autônomas, como ao solicitar o encerramento de uma
conta, ele questiona os motivos, analisa as respostas, encerra a conta e executa a
ação, sem intervenção humana. Este é um exemplo tangível da Agentic IA, que
também pode ser aplicada em outros segmentos. Esse avanço pode ser
considerado uma transformação no campo da IA.

Há um longo caminho a ser percorrido até que a Agentic IA se torne uma realidade
na maioria dos negócios. O mercado de trabalho enfrenta a falta de profissionais
especializados, um problema crescente, conforme aponta o relatório do Google for

Startups de 2023, que prevê um déficit de 530 mil profissionais de TI até 2025, no
Brasil.

Para alcançar a maturidade digital e avançar para a implementação da Agentic IA,
as empresas precisam capacitar suas equipes, incorporando especialistas em IA e
ciência de dados, capazes de integrar essas soluções de maneira ágil. Além disso,
investir em plataformas que simplifiquem a experimentação e implementação de
tecnologias emergentes é fundamental.

Há ainda preocupações importantes a serem solucionadas. A principal delas é a
questão ética relacionada aos sistemas capazes de tomar decisões de forma
autônoma. O ritmo acelerado do avanço tecnológico ultrapassa a capacidade de
empresas e governos de regulamentar essas inovações de maneira eficaz.
Enquanto a Europa já desenvolve regulamentos para promover a ética e reduzir os
vieses, no Brasil o debate ainda se concentra em projetos de lei que tratam de
questões como transparência e responsabilidade em sistemas de IA. No entanto,
essa legislação se concentra principalmente em sistemas mais simples, deixando
lacunas importantes para tecnologias mais avançadas.

A popularização da IA com capacidade de tomada de decisão intensifica o temor de
desemprego em massa, especialmente em funções repetitivas, e gera
preocupações sobre o tempo dessa mudança. A história das revoluções industriais
anteriores mostra que houve tempo para a adaptação da força de trabalho. Hoje, no
entanto, a rapidez com que a IA avança deixa pouca margem para transição,
criando incertezas sobre o futuro.

Diante desse cenário, é essencial dar atenção à educação e à regulamentação para
garantir uma aplicação sustentável da IA, alinhada à realidade brasileira. A
conscientização sobre o uso responsável da tecnologia e sua integração no
cotidiano devem ser uma prioridade para governos e empresas. Ao terceirizar para
a IA atividades que estimulam a criatividade e o raciocínio crítico, surge o risco de
diminuir habilidades humanas essenciais para o trabalho e o desenvolvimento
social.

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