Por Samir Iásbeck, CEO e fundador do Qranio.
Vivemos na era da tecnologia em meio a um paradoxo: somos de fato produtivos ou é apenas uma ilusão? O fenômeno da falsa produtividade está cada vez mais presente nas organizações: foco exagerado em tarefas sem relevância, além do acúmulo de horas trabalhadas e a ocupação vista como sinônimo de eficiência. Esse comportamento não contribui para o desenvolvimento de carreira, tampouco para a qualidade de vida – gera exaustão, desmotivação e baixa performance a médio e longo prazos.
Muitas vezes os vilões da falsa produtividade são invisíveis. Primeiro de tudo, é a falta de definição de prioridades. Assim como na história clássica de Alice no País das Maravilhas, o Mestre Gato disse à menina que se não sabe para onde vai, qualquer caminho serve. O mesmo podemos dizer em relação às empresas, porque em ambientes corporativos que não possuem clareza de objetivos, os colaboradores desperdiçam energia em tarefas de baixo impacto ou em projetos que não agregam à organização.
Um outro ponto bastante crítico é a má gestão do tempo. Reuniões excessivas que poderiam ser e-mails, os e-mails que são intermináveis e interrupções constantes infelizmente se tornaram parte do cotidiano corporativo. Ao invés de promoverem a colaboração, esses fatores fragmentam o foco dos colaboradores, dificultando a execução de atividades e reduzindo a produtividade real.
Além disso, a cultura do “trabalhar até cair” ou “trabalhe enquanto eles dormem” é extremamente prejudicial. Em muitas empresas, a quantidade de horas trabalhadas ainda é vista como sinônimo de comprometimento. Porém, o que se observa é o oposto: jornadas exaustivas levam ao esgotamento físico e mental, prejudicando a criatividade, capacidade de resolução de problemas e o engajamento. Não por acaso a Síndrome de Burnout está na lista da OMS (Organização Mundial da Saúde) como doença exclusivamente ligada ao trabalho.
Por último, e não menos importante, a falta do desenvolvimento contínuo é um outro grande vilão. A falsa produtividade rouba o tempo que poderia ser investido em treinamentos, mentorias e programas de capacitação, que são essenciais para o desenvolvimento profissional e a adaptação ao mercado em constante evolução. Os treinamentos ajudam as equipes a desenvolverem habilidades de gestão de tempo, comunicação e foco em resultados, além de promoverem a reflexão sobre a importância do bem-estar no ambiente de trabalho.
A meu ver, para combatermos a falsa produtividade é a hora de pararmos de confundir ocupação com resultados e começarmos a construir ambientes de trabalho mais produtivos, onde o desenvolvimento de carreira e qualidade de vida caminhem em equilíbrio, porque essa mudança não é benéfica apenas para os colaboradores, mas também para as empresas. Afinal, a produtividade real começa quando passamos a entender que o menos pode ser mais, desde que bem-feito e de forma eficiente.