Por Alby Azevedo, CEO da Alby Foundation.
A cultura geek, há décadas vista como um nicho isolado, transformou-se em um dos motores mais influentes da economia global.
No Brasil, esse impacto é especialmente perceptível no mercado de games. Somente em 2021, o mercado geek faturou, mundialmente, US$ 300 bilhões, afirma o levantamento da Brandar Consulting.
Por outro lado, o Brasil sozinho, em 2022, foi responsável por US$ 5,9 bilhões, a oitava posição no ranking mundial de faturamento do setor, de acordo com a Global Licensing Industry Study. Esses números mostram que o que antes era um hobby de nicho agora movimenta bilhões e molda comportamentos de consumo e estratégias de negócios.
A transformação reflete uma tendência global em que a estética, a mentalidade e as tecnologias da cultura geek permeiam diversos setores. O conceito de gamificação, por exemplo, saiu das telas para invadir ambientes corporativos e plataformas financeiras, transformando tarefas tediosas em desafios motivadores. Da mesma forma, os NFTs e o metaverso criaram novos canais de monetização para marcas e artistas, oferecendo experiências imersivas que vão além do consumo tradicional.
Em relação ao mercado internacional, as empresas estão explorando o potencial da web3, termo dado a tecnologias focadas na descentralização da internet. Jogos blockchain, ativos digitais e protocolos descentralizados estão criando uma economia paralela robusta, na qual a propriedade digital torna-se um ativo tangível.
Jogos baseados neste conceito, como Axie Infinity, abriram caminho para modelos de play-to-earn ou “jogar para ganhar”, em tradução livre, onde jogadores não apenas consomem conteúdo, mas também geram valor ao participarem ativamente da economia virtual.
No Brasil, projetos locais estão emergindo nesse espaço, conectando desenvolvedores e empreendedores a um mercado global que valoriza criatividade e inovação.
De acordo com a Grand View Research, o segmento de Web 3.0 foi avaliado em US$ 2,25 bilhões em 2023, sendo que o mercado regional norte-americano tem uma participação global de 37,3% nesta receita.
O Brasil, com uma base de jogadores engajada, também pode se espelhar neste investimento intenso de outros países para mostrar que, por meio da inovação, comunidades geek podem impulsionar ecossistemas financeiros inteiros. Esses grupos consomem, produzem conteúdo, influenciam comportamentos e promovem inovação, o que se reflete na busca por experiências imersivas e na aquisição de produtos.
A Associação Brasileira de Licenciamento de Marcas e Personagens (Abral) afirma que, em 2022, o Brasil faturou R$ 22,1 bilhões com o varejo de itens geek (bonecos colecionáveis, roupas, acessórios, jogos de videogame e mangás).
Essa vertente tem inspirado desde fintechs que replicam economias virtuais de jogos até marcas que investem em realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) para oferecer atividades de compra feitas de maneira inédita. No varejo e no setor imobiliário, por exemplo, essas tecnologias permitem simulações que facilitam decisões de consumo, ampliando o impacto da inovação geek para além do entretenimento.
A ascensão da comunidade geek também mudou o design de produtos e estratégias de marketing. O apelo, que combina nostalgia e futurismo, é agora uma ferramenta poderosa para conectar marcas a públicos jovens e amantes da tecnologia. Isso é evidente nas parcerias com criadores de conteúdo e no uso de linguagem autêntica em campanhas digitais, refletindo que o ethos de autenticidade é um pilar dessa cultura.
O futuro, especialmente no mercado de games e na adoção de tecnologias web3, é uma extensão de uma revolução. Empresas que desejam prosperar precisam não apenas beber desta fonte, mas incorporá-la de maneira estratégica. Ignorar esse impacto significa perder conexão com uma geração que valoriza inovação, criatividade e autenticidade, e que deve ser majoritária muito em breve.