Por Diego Silva, terapeuta integrativo e fundador da Inner Health.
O estresse e o burnout tornaram-se companheiros indesejados de muitos trabalhadores ao redor do mundo. Cerca de 42% da força de trabalho global relata sintomas de burnout, segundo um estudo da McKinsey. No Brasil, os números são ainda mais alarmantes: 30% dos trabalhadores sofrem com essa síndrome, de acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt).
Essa epidemia não afeta apenas os indivíduos, mas também as economias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que transtornos mentais, incluindo o burnout, resultam em uma perda de produtividade global superior a US$ 1 trilhão por ano. No país, o impacto é perceptível, com 421 trabalhadores afastados por burnout em 2023 – o maior número registrado na última década, conforme dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Setores como saúde e educação são os mais atingidos, devido às demandas emocionais e físicas impostas pelas profissões. No entanto, o problema não se restringe a esses segmentos — ele está enraizado na cultura corporativa predominante.
O custo oculto de uma cultura insustentável
O modelo corporativo atual, que glorifica jornadas longas e metas inalcançáveis, está na raiz dessa crise. Embora muitas empresas já tenham reconhecido o problema e adotado práticas como palestras motivacionais ou sessões de yoga, essas soluções são apenas paliativas. Elas não atacam a origem do burnout: a sobrecarga estrutural.
Funcionários exaustos tendem a cometer mais erros, faltar ao trabalho e apresentar queda de produtividade. Esse ciclo não apenas afeta a saúde dos profissionais, mas também os resultados das organizações. O afastamento de um funcionário, por exemplo, gera custos com substituições, perda de expertise e impacto na equipe. É uma conta que, no final, nenhuma empresa quer pagar.
Ao mesmo tempo, muitos líderes empresariais ainda subestimam a profundidade do problema. Há uma crença equivocada de que o burnout é uma fraqueza individual, quando na verdade é uma consequência de sistemas disfuncionais. Enquanto esse tipo de pensamento for majoritário, será possível fazer bem poucos avanços.
Mudanças estruturais: inovar faz bem para todos
Resolver a crise do estresse e do burnout exige um compromisso profundo com mudanças que ultrapassem os pequenos ajustes operacionais. Isso começa por repensar a cultura corporativa como um todo, dando prioridade para o bem-estar dos colaboradores e os enxergando como seres integrais, completos e com necessidades específicas.
Políticas que promovam flexibilidade no trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e um ambiente psicologicamente seguro são o primeiro passo. Além disso, integrar essa mentalidade em todos os processos do negócio, garantindo que os profissionais façam pausas e reconheçam a importância do descanso, pode ajudar a reduzir essa sensação. Discursos como “pecar pelo excesso” e “tudo é prioridade” devem ser repensados.
Esse tipo de alteração pode parecer gigante e inalcançável, a princípio, mas, depois de inserir essa prioridade como parte da cultura corporativa, o desafio se tornará processos mais fluídos e resultados mais satisfatórios. Empresas que cuidam da saúde mental dos colaboradores reduzem custos, aumentam a produtividade e constroem times mais resilientes.
A crise silenciosa entre os profissionais deve ser revertida com um grito de urgência e estratégias bem direcionadas. Nesse sentido, os trabalhadores, a organização e o mercado de trabalho poderão se beneficiar de equipes mais engajadas e uma mudança positiva substancial na própria economia.