Por Alberto Azevedo, especialista em investimentos e CEO da Alby Foundation.
Decifrar as etapas de uma startup é, acima de tudo, compreender que o caminho do empreendedorismo é tão desafiador quanto recompensador. Desde a concepção de uma ideia até a transformação em um negócio escalável, cada etapa exige decisões estratégicas, ajustes contínuos e resiliência diante de cenários incertos.
O grande problema, no entanto, é que muitos empreendedores acabam caindo em armadilhas previsíveis, como a obsessão por soluções perfeitas ou a busca por mercados amplos sem um entendimento profundo das nuances envolvidas nele.
Segundo levantamento do Distrito, mais de 8 mil startups quebraram na última década. Entre janeiro de 2015 e setembro de 2024, 8.258 startups brasileiras deixaram de existir, segundo a Distrito, quase metade das 16.936 startups que estão ativas atualmente no país.
O ponto de partida de qualquer negócio deve ser o problema a ser resolvido. Muitas vezes, empreendedores se encantam com ideias tecnológicas ou modelos inovadores, mas esquecem de perguntar quem realmente precisa disso.
O mercado já está saturado de soluções que não encontram demanda, e esse erro básico poderia ser evitado com uma pesquisa aprofundada sobre a dor do cliente. Antes de construir, é fundamental validar. Isso significa sair do escritório, ouvir o público-alvo e ajustar constantemente com base no feedback.
Ao superar a fase inicial de validação, as startups entram no desafio de transformar ideias em produtos concretos. Aqui, a prototipagem rápida e a execução ágil ganham destaque. No entanto, ser ágil não simboliza desorganização. Muitos fundadores caem na tentação de lançar funcionalidades ou expandir mercados sem o devido planejamento estratégico.
As startups bem-sucedidas sabem focar em um mercado nichado inicialmente, dominá-lo e só depois pensar em escalabilidade.
De acordo com a pesquisa apresentada pelo Investopedia, uma taxa de crescimento saudável para uma startup em fase inicial é de 5% a 7% por semana. A clareza de objetivos é o que separa negócios promissores daqueles que apenas consomem tempo e capital sem entregar resultados significativos.
Outro aspecto crítico é a escolha da equipe. O capital humano é o ativo mais valioso de uma startup. Pessoas certas podem transformar desafios em oportunidades, enquanto a equipe errada pode comprometer até mesmo as ideias mais brilhantes.
O equilíbrio entre habilidades técnicas, visão estratégica e um alinhamento cultural sólido é o que constrói um time resiliente. Nesse contexto, os fundadores precisam adotar uma liderança que inspire, mas que também saiba tomar decisões difíceis, como substituir membros que não estejam alinhados com os objetivos do negócio.
Os desafios financeiros também não podem ser ignorados. O chamado “inverno das startups”, como o ocorrido em 2022, mostrou que ciclos de aperto de capital são inevitáveis e, em muitos casos, necessários para amadurecer o ecossistema. Investidores estão mais criteriosos, priorizando negócios com fundamentos e propostas de valor claras.
Isso força a eficiência, a priorização, a construção de resiliência e o foco em evoluções reais. Ainda que o investimento esteja mais seletivo, ele continua fluindo para projetos que demonstram impacto e inovação tangíveis.
Superar as etapas de uma startup exige mais do que paixão e trabalho duro. É necessário combinar visão estratégica com execução prática, sempre mantendo o foco no cliente e na sustentabilidade do negócio. O mundo das startups é sedutor pela promessa de impacto, mas também é implacável com aqueles que não conseguem se adaptar.
Empreender é, essencialmente, um exercício constante de aprendizado, onde cada etapa vencida traz novos desafios, mas também abre portas para oportunidades transformadoras.