Trabalhar com quem dividimos o sobrenome envolve é um eterno equilíbrio entre desafios típicos da vida corporativa, com elementos que são muito próprios das relações familiares. Por mais que o esforço seja para que a dinâmica do escritório se assemelhe a uma reunião de negócios o máximo possível, existem, sim momentos em que o clima lembra o de um encontro de família.
Esse é o fascínio — e a complexidade — de atuar em empresas familiares, algo que faz parte da minha rotina há muito tempo e que tenho estudado com cada vez mais afinco. No meu caso, essa experiência moldou não apenas minha carreira, mas também a minha identidade.
Trabalhar ao lado do meu pai, alguém que admiro profundamente, foi uma oportunidade e um desafio na mesma medida. Comecei cedo e desde o início aprendi lições que me moldaram como profissional e pessoa. Uma delas é a necessidade de encontrar o equilíbrio entre as expectativas da família e a própria trajetória individual.
No começo, me via constantemente tentando “superar” a figura paterna ou em repetir formas de atuação que eram mais dele do que minhas. O peso do legado traz essa pressão. Mas, com o tempo, percebi que a força de construir um negócio familiar não é encontrada na busca por superar quem veio antes, mas quando cada um domina a sua própria potência.
A complexidade das relações e o papel do autoconhecimento
A relação profissional com um familiar não é algo que se desliga ao final do expediente. Quando há conflitos, eles podem transbordar para a esfera pessoal. O mesmo acontece no caminho inverso: um desentendimento dentro de casa pode afetar o clima no escritório.
Por isso, o autoconhecimento é uma ferramenta fundamental para o sucesso nesse tipo de ambiente. Foi ao entender melhor meus próprios gatilhos emocionais que consegui adotar uma abordagem mais equilibrada e construtiva, separando as emoções do momento das decisões estratégicas que precisavam ser tomadas.
Ao longo dos anos, precisei me desprender da ideia de dar continuidade a algo, mas ir além e construir junto e me permitir sonhar meus próprios sonhos.
Isso não foi fácil e exige alinhamento afinado.
Mas, no final, isso traz inovação e sustentabilidade ao negócio.
Conflitos são inevitáveis — mas podem ser produtivos
A ideia de que uma empresa deve ser harmoniosa o tempo todo é um mito. Se é assim em um negócio tradicional, imagine em um familiar. Conflitos existem e, na verdade, podem ser saudáveis quando bem gerenciados. Lembro-me de ocasiões em que precisei persuadir meu pai sobre determinada decisão. E claro que na minha trajetória, sempre busco opiniões imparciais e eventualmente de terceiros sobre o que penso e faço. Negociação e persuasão estão entre as principais ferramentas de um empreendedor e ter a visão de alguém de fora ajuda a manter o equilíbrio nas relações.
As vantagens de uma rede de apoio única
Se, por um lado, a empresa familiar tem desafios muito próprios, por outro, oferece algo raro no mundo corporativo: um nível de lealdade, comprometimento e generosidade. Minha curva de aprendizado foi acelerada porque tive acesso a mentores dentro e fora da família que me permitiram errar e aprender, sem medo de represálias. O apoio emocional, principalmente em momentos críticos, é algo que poucos negócios conseguem replicar.
De empresa familiar a empresa profissional
O grande desafio para muitas organizações familiares é profissionalizar a gestão sem perder a essência que as tornam únicas. A governança corporativa desempenhou um papel central na Droom, ao nos ajudar a criar regras claras e alinhar expectativas.
Quando uma organização não depende mais exclusivamente da intuição de seus fundadores, mas sim de processos sólidos, ela se torna mais resiliente e sustentável.
A combinação entre autoconhecimento, por parte dos empreendedores, e governança na gestão do negócio ajudam tanto a família quanto a empresa para que mantenham os laços sólidos para alcançar os seus resultados e atingir o propósito.