Por Roberta Saragiotto, diretora de People & Strategy na Start Carreiras.
Em um cenário onde grandes corporações globais recuam em suas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), é importante refletirmos sobre o impacto dessas decisões, especialmente na geração Z, que está entrando no mercado de trabalho.
Nascidos entre meados dos anos 1990 e início dos anos 2010, os jovens dessa geração são os primeiros nativos digitais — ou seja, cresceram expostos celulares, computadores e demais dispositivos tecnológicos. Esse contexto fez com que eles fossem mais expostos a outras culturas e expectativas, inclusive em relação ao ambiente de trabalho. Para eles, um local que celebra as diferenças não é apenas desejável, mas esperado.
Dados recentes corroboram essa visão: 66,8% dos entrevistados em uma pesquisa do Great Place to Work (GPTW) consideram DEI uma prioridade estratégica nas empresas. Um estudo da Monster revela que para 83% dos candidatos da geração Z, o compromisso de uma empresa com diversidade e inclusão é importante na escolha de uma vaga.
O início de 2025 foi marcado por anúncios de grandes empresas globais sobre o cancelamento ou redução de suas iniciativas de DEI, a exemplo de companhias como McDonald’s, Meta, Walmart, John Deere e Harley-Davidson.
O recuo nas ações de DEI pode ter consequências no longo prazo. O movimento vai na contramão das expectativas da nova geração de profissionais, em especial a gen Z, que em breve constituirá uma parcela expressiva da força de trabalho. Na visão deles, um ambiente inclusivo e igualitário tem a mesma importância que benefícios e salário.
Empresas que não atendam essas expectativas podem enfrentar dificuldades tanto na atração e retenção de talentos como nos resultados de negócios. Um relatório da McKinsey & Company de 2023 revelou que empresas com políticas fortes em diversidade de gênero em equipes executivas têm 25% mais chance de conseguir uma lucratividade acima da média. Quando há reforço na diversidade étnica e cultural, esse número sobe para 36%.
Além disso, uma pesquisa da Boston Consulting Group mostrou que companhias com equipes de gestão mais diversas relataram receitas 19% maiores devido a uma capacidade maior de inovar. Os dados reforçam que a diversidade não é apenas uma questão ética, mas um fator-chave para o sucesso e a competitividade das empresas no mercado global.
No Brasil, algumas empresas estão nadando contra a maré global. A Natura, por exemplo, reafirmou publicamente seu compromisso com a agenda DEI. Na Start Carreiras, continuamos focados em manter e expandir nossas ações afirmativas, inclusive capacitando empresas parceiras para que a diversidade permaneça na agenda corporativa.
Ao fortalecer as políticas de diversidade, equidade e inclusão, as empresas estarão melhor posicionadas para atrair, reter e desenvolver os talentos da nova geração. Enquanto líderes e profissionais no setor de RH, acredito que temos a responsabilidade de criar ambientes de trabalho que não apenas aceitem, mas celebrem as diferenças. Só assim poderemos construir um futuro profissional verdadeiramente inclusivo e equitativo.