Por Ana Letícia Lucca, CRO da Escola da Nuvem.
O mercado de trabalho está cada vez mais dinâmico e competitivo, e as empresas têm enfrentado desafios constantes para formar um time qualificado, capacitado e que acompanhe os avanços tecnológicos. Uma análise, feita pelo International Data Corporation (IDC), trouxe uma estimativa de crescimento de 13% este ano sobre as tendências do setor de Tecnologia em 2025. Em continuidade ao progresso iniciado no ano passado, em que a TI B2B expandiu 9% no cenário brasileiro, enxergo nesta crescente demanda uma oportunidade para investimento em profissionais locais. Ao observar essa onda que poderá alavancar a área de Tecnologia, encontramos vantagens expressivas para ambos os lados – empresas em busca de profissionais preparados e talentos desperdiçados de maneira descentralizada.
Quando uma empresa decide investir em profissionais locais, uma série de benefícios pode ser captada de maneira estratégica. Um deles é a adaptação cultural – a vivência em determinados espaços nos oferece melhor adaptabilidade à medida que o ambiente organizacional da empresa exige valores e experiências semelhantes entre os colaboradores. Ao viabilizar oportunidades para pessoas situadas na região, o engajamento social traduz-se em maior produtividade e, consequentemente, redução de rotatividade dentro da organização.
Outro ponto interessante que deve ser levado em conta é a redução de custos – ao contratar talentos locais, além de agilizar a recolocação sem prejudicar a equipe com sobrecarga devido à falta de um profissional, custos adicionais podem ser evitados no trajeto de deslocamento, uma vez que a pessoa terá o gasto, seja no modelo presencial ou híbrido, do deslocamento diário para o local de trabalho. Além disso, acredito muito na potencialidade do trabalho remoto para valorizarmos ainda mais os talentos de todas as regiões do país.
A priorização de talentos locais, nesse sentido, permite reduzir um possível motivo de desmotivação ou dificuldade de adaptação à nova rotina desgastante e prolongada. Uma empresa que aposta no fortalecimento da economia bairrista é vista com mais admiração e ganha maior apoio da comunidade. Esse olhar atencioso pode gerar um destaque positivo dentro da concorrência e competitividade mercadológica. Ao analisar dados do YouGov Global Profiles, observei uma porcentagem interessante: 60% dos consumidores brasileiros dizem que se esforçam para apoiar empresas locais, número que está 1% acima da média internacional. Portanto, ter uma equipe local pode fortalecer a imagem da empresa e até impulsioná-la devido a identificação natural das pessoas.
Ao apostar na diversidade de perspectivas e pontos de vista que os talentos locais podem representar e agregar dentro da cultura organizacional, a estratégia está em saber aproveitar o crescimento do setor de TI no Brasil. É necessário romper padrões tradicionais ou ultrapassados de como deve ser feita uma seleção de candidatos, quais critérios devem ser atendidos, qual perfil se encaixa melhor na vaga e como driblar os desafios de retenção devido à falta de qualificação. Podemos explorar novas maneiras de colaboração e inovação a partir de novas abordagens e percepções, além de fortalecer equipes com soluções criativas adaptadas à realidade inclusiva que os cerca e os uniu enquanto empresa.
Um ditado popular diz que a oportunidade não bate à nossa porta, mas será que todas as pessoas conseguem ir atrás da porta em que ela se encontra? A verdade é que nem todos contam com recursos favoráveis na busca por um emprego e é exatamente aí que as empresas precisam repensar como o investimento local pode ser uma forma de promover mais representatividade, igualdade e viabilizar novos caminhos para aqueles que não tem acesso a determinados ‘centros’ onde estão oportunidades segmentadas.
Atuo como CRO na Escola da Nuvem, uma organização social sem fins lucrativos que busca a inserção socioeconômica de pessoas em vulnerabilidade social e grupos sub-representados no mercado nacional. Por meio de cursos de treinamento online e presenciais gratuitos, para capacitação técnica e comportamental na área de computação em nuvem ou outras tecnologias, acompanhamos os alunos a fim de empregá-los depois da finalização dos estudos. Ao longo dos meus anos de experiência na área da Tecnologia e no relacionamento com organizações contratantes, tenho notado que a decisão leva em consideração uma análise de longo prazo como: natureza do trabalho, urgência das necessidades do projeto, orçamento disponível e a cultura organizacional, ou seja, elas buscam um equilíbrio entre o custo inicial e o retorno que será obtido ao longo do tempo a partir desse investimento.
Dessa forma, vantagens como início agilizado devido à proximidade da localização, fortalecimento da marca devido à procura e retenção de talentos locais, redução de custos com deslocamento e identificação dos colaboradores com a cultura organizacional e equipe, refletem na relevância que um investimento assertivo e bem avaliado pode impactar dentro da organização em termos de entrega, resultado, performance e até receita. Os desafios constantes enfrentados pelas organizações para contratar pessoas capacitadas e treinadas podem ser contornados assim que elas se abrirem para enxergar o potencial que está mais próximo do que imaginam.
Este pode ser o momento de começarmos a fazer justamente o inverso do que estamos acostumados, conectando empresas que carecem de mão de obra especializada e seguem abrindo novas vagas na área da Tecnologia à profissionais competentes, dedicados e estudados que estão esperando a primeira oportunidade. Temos como solucionar a problemática da falta de qualificação aproximando o olhar estratégico do potencial que os talentos locais revelam. Empresas que compreenderem esses benefícios de reciprocidade em ofertar e atrair bons profissionais, além de evitar disputa em grandes centros, estarão preparadas para os desafios do futuro, especialmente em um mundo onde a diversidade, inovação, adaptação e sustentabilidade são essenciais para conquistar o sucesso efetivo, e então desenvolver comunidades impulsionando a economia.