As práticas ESG têm ganhado cada vez mais relevância no mercado global, impulsionadas pela crescente demanda por investimentos sustentáveis e soluções que promovam um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade.
No Brasil, o cenário é promissor, de acordo com a pesquisa “Panorama ESG 2024”, realizada em 2024 pela Amcham Brasil. O estudo revelou que 71% das 687 empresas brasileiras participantes indicam estar no estágio de implementação de práticas ESG.
Os principais motivadores para a adoção são o impacto ambiental e social positivo (78%). As organizações, no entanto, atribuem importância equilibrada aos pilares ESG, com destaque para o social (72%), seguido por governança (68%) e meio ambiente (66%).
Diante desse panorama, 5 líderes compartilham as principais tendências ESG que devem estar no radar:
Adoção da bioeconomia circular
Ubiratan Sá, CEO da Mush, startup que fornece materiais que podem substituir polímeros sintéticos em aplicações como embalagem secundária, construção civil e arquitetura, acredita que a bioeconomia circular vem ganhando força e mudando a forma como empresas e indústrias realizam seus processos, indicando uma tendência no mercado.
“Diferente do modo tradicional de extrair, produzir e descartar, esse modelo de negócio promove a utilização de materiais anteriormente descartados, como matéria-prima de um novo ciclo produtivo e a redução de resíduos, configurando um ciclo de aproveitamento contínuo, minimizando o desperdício. Com materiais biológicos, esses processos imitam a Natureza e seus ecossistemas. Em 2025, o papel da biotecnologia nesse processo será fundamental para contribuir no desenvolvimento de soluções que transformam resíduos agrícolas em matéria-prima para novos produtos, gerando eficiência e sustentabilidade para as operações empresariais”.
Produção de alimentos mais sustentável
Paulo Ibri, CEO da Typcal, primeira foodtech da América Latina a trabalhar com fermentação de micélios, reforça que a adoção de práticas ambientais sustentáveis na produção de alimentos ganha cada vez mais relevância, sendo uma tendência em potencial para esse ano.
“Reduzir o desperdício de água, minimizar a emissão de gases de efeito estufa e investir em processos regenerativos são medidas essenciais para empresas que buscam estar alinhadas à responsabilidade ambiental. Processos de produção inovadores, que combinam biotecnologia e fermentação, estão ganhando espaço para atender à crescente demanda por alternativas mais sustentáveis. Essas soluções reduzem o impacto ambiental e aumentam a eficiência na cadeia produtiva”.
Produção e consumo consciente na moda
Antonio Carlos de Francisco, CEO da Muush, startup de biotecnologia 100% brasileira que transforma os resíduos agroindustriais em biotecidos sustentáveis de micélio, destaca que a crescente consciência ambiental dos consumidores e empresas impulsiona a busca por inovações sustentáveis, especialmente na moda.
“O biotecido de micélio, parte vegetativa de um fungo composta por um conjunto de hifas (filamentos finos), tem se tornado uma tendência no setor por ser uma alternativa ecológica ao couro e ao courino. Com produção de baixo impacto, ele reduz o consumo de água, a emissão de carbono e elimina químicos pesados. Ao imitar textura e resistência do couro, pode ser usado em bolsas, sapatos, roupas e acessórios. Isso mostra que é possível unir estética, qualidade e compromisso ambiental”.
Redução das perdas e desperdício de alimentos
Alcione Pereira, fundadora da Connecting Food, primeira foodtech brasileira especializada em inteligência de redistribuição de alimentos em perfeitas condições de consumo para organizações sociais que atendem pessoas em vulnerabilidade social, afirma que a redução do desperdício de alimentos dialoga diretamente com a agenda socioambiental em duas grandes frentes: a emergência climática e a insegurança alimentar.
“Por ser um tema transversal à agenda ESG, tem relevante impacto socioambiental. Do lado social, é uma importante estratégia de redução da insegurança alimentar. Já no aspecto ambiental, é uma das possíveis soluções para mitigação das mudanças climáticas, uma vez que o descarte inadequado de alimentos é uma expressiva fonte de emissão de gases de efeito estufa. Essa é uma agenda que dialoga diretamente com algumas das principais ações de ESG: a descarbonização e o impacto social positivo. Portanto, reduzir o desperdício de alimentos é uma estratégia importante para potencializar o cumprimento da agenda ESG por parte da indústria e do varejo de alimentos”.
Integração de ações sociais nas estratégias corporativas
Em um cenário na qual a responsabilidade social corporativa se torna cada vez mais essencial, as empresas estão adotando uma nova abordagem ao integrar ações sociais em suas estratégias ESG.
A Parceiros Voluntários, uma organização da sociedade civil dedicada a acelerar a jornada das empresas rumo ao ESG, especialmente na área social, com 28 anos de experiência, destaca essa tendência ao apresentar uma metodologia consolidada que conecta de forma tangível o impacto social aos resultados corporativos.
Organizações da Sociedade Civil (OSCs), como a Parceiros Voluntários, são agentes transformadores nas comunidades onde estão inseridas questões como a formação de jovens líderes, a inclusão de pessoas idosas e a promoção da resiliência climática.
Segundo Anna Paula Montini, superintendente da Parceiros Voluntários, existem diversas oportunidades para as empresas atuarem em prol do desenvolvimento social.
“Quando analisamos o cenário do país, a gama de possibilidades de atuação corporativa em benefício do desenvolvimento social é imensa. Essa colaboração entre empresas e a sociedade civil não apenas fortalece a reputação corporativa, mas também potencializa iniciativas que buscam enfrentar os desafios sociais contemporâneos, criando um futuro mais sustentável e inclusivo”, finaliza.