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NikeSkims e streetwear: quando a reinvenção encontra a creator economy

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Foto: divulgação

Por Igor Morais, CEO e fundador da Kings Sneakers.

Recentemente, a Nike anunciou uma parceria inédita com a Skims, marca de shapewear fundada por Kim Kardashian, para criar a NikeSkims, primeira colaboração da gigante do esporte com uma empresa externa para desenvolver uma nova marca.

O objetivo é claro: consolidar sua presença no mercado, que deve movimentar 266,74 bilhões de dólares até 2032, segundo a Business Research. A jogada, porém, vai além de números. É um manifesto sobre o futuro da moda urbana, onde a creator economy e a reinvenção estratégica ditam as regras.

O streetwear global sempre foi um reflexo das subculturas. No Brasil, sua trajetória começou nos anos 1980, com camisas de bandas de rock e jaquetas de couro dominando as ruas de São Paulo. Nos anos 90, o surfwear tentou conquistar os jovens, mas era uma estética distante da realidade urbana das capitais.

A virada veio nos anos 2000, quando o rap e o hip-hop ressignificaram o guarda-roupa das periferias. Rappers como os Racionais MC’s não apenas vestiram uma geração, mas tornaram-se símbolos de identidade, um movimento paralelo ao de Kanye West nos EUA, que elevou o streetwear a ser desejado pelos jovens.

Hoje, o Brasil é um caldeirão de influências: do grafite às passarelas, do funk ao skate. Mas enquanto o mercado global avança com colaborações ousadas, como a NikeSkims, o cenário local ainda navega entre a autenticidade e a hesitação.

A parceria entre Nike e Skims consolida-se, de fato, como um caso emblemático da economia da reinvenção. A Nike, com cinco décadas de legado no universo esportivo, demonstra audácia ao desconstruir modelos tradicionais: mais do que uma simples colaboração, a criação de uma linha exclusiva com a Skims transcende a moda esportiva feminina.

Trata-se de uma estratégia visionária, capaz de antecipar desejos latentes do consumidor. E qual o recado por trás disso? Simples: em um setor hipercompetitivo, estagnar é sinônimo de obsolescência.

Nesse cenário, Kim Kardashian emerge não como uma “celebridade empreendedora”, mas como uma estrategista de branding que redefiniu as regras do jogo. Seu feito de transformar a influência digital em um império de US$ 4 bilhões em cinco anos evidencia a potência da creator economy.

Nos Estados Unidos, essa dinâmica já alimenta ecossistemas inteiros no Brasil, porém, ainda relutamos em enxergar criadores como arquitetos de culturas. São eles que criam narrativas, ressignificam estéticas e, como Kardashian provou, reconfiguram mercados. Ignorar esse potencial é abrir mão de protagonismo em um mundo onde identidade e consumo são duas faces da mesma moeda.

A colaboração NikeSkims expõe uma lacuna no mercado nacional: enquanto marcas globais abraçam a ousadia de criadores, muitas empresas brasileiras ainda resistem a parcerias que transcendem o merchandising tradicional.

Não se trata de copiar fórmulas estrangeiras, mas de aprender com elas. O streetwear brasileiro, enraizado na cultura das favelas, do rap e da resiliência, tem histórias únicas para contar, mas precisa de coragem para colocá-las em escala global.

O jogo mudou. E o Brasil?

A NikeSkims não é apenas uma coleção de roupas esportivas. É um símbolo de um setor em ebulição, onde a sobrevivência depende da capacidade de se reinventar, e de abraçar criadores não como coadjuvantes, mas como protagonistas.

Para o Brasil, a lição é clara: ou as marcas locais investem em colaborações que traduzem a riqueza de suas raízes culturais, ou continuarão a correr atrás de um trem que já partiu. No streetwear, quem não se move, fica para trás.

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