Por Mathias Brem, sócio-fundador e CDO da Rox Partner.
A inteligência artificial (IA) já não é uma promessa distante para o mercado financeiro brasileiro. Assistentes virtuais, modelos preditivos e análise de riscos já fazem parte da rotina de bancos e fintechs. Mas a nova onda de IA, impulsionada por avanços em modelos generativos, machine learning e big data, coloca uma questão essencial: o setor está realmente preparado para essa revolução?
A resposta é complexa. Se, por um lado, temos um ramo financeiramente robusto e tecnologicamente inovador, por outro, ainda enfrentamos desafios estruturais que podem limitar a adoção plena dessas soluções. A velocidade com que a IA está se desenvolvendo impõe uma nova dinâmica às instituições: ou se adaptam rapidamente, ou ficarão para trás.
A eficiência da IA e a realidade das instituições
Não há dúvidas de que a IA pode transformar o mercado econômico. Dados da Febraban indicam que a adoção de tecnologias emergentes pode aumentar a eficiência dos bancos em até 35%. Na prática, isso significa um setor mais ágil, capaz de oferecer serviços personalizados e tomar decisões baseadas em análises precisas de grandes volumes de dados.
Entretanto, a infraestrutura legada ainda é um entrave para muitas instituições. Sistemas tradicionais, projetados para outra era da tecnologia, dificultam a integração com soluções modernas baseadas nesses novos recursos. Esse aspecto cria uma disparidade entre grandes bancos, que têm recursos para acelerar essa transição, e fintechs ou organizações menores, que precisam harmonizar inovação e custos operacionais.
O papel da regulação e da segurança de dados
A regulação é outro ponto crucial nessa discussão. O Banco Central do Brasil tem avançado com iniciativas como o Open Finance e o Drex, que podem facilitar a integração da IA ao setor. No entanto, a legislação precisa acompanhar a velocidade da inovação. Questões como proteção de informações e transparência nos algoritmos precisam ser endereçadas para evitar distorções e abusos.
Estudos da empresa PwC apontam que 74% dos entrevistados, atuantes neste campo, acreditam que a IA melhorará a qualidade dos produtos e serviços nos próximos meses. No entanto, essa mesma tecnologia também amplia riscos, especialmente quando consideramos fraudes e manipulação de dados. O desafio é equilibrar inovação com responsabilidade, garantindo que a IA seja usada para aumentar a segurança e a transparência.
Para liderar essa revolução, as instituições financeiras brasileiras precisam de uma estratégia clara. Não basta adotar novas ferramentas inteligentes de forma superficial, é necessário criar uma cultura orientada a estatísticas, investir em infraestrutura flexível e desenvolver parcerias estratégicas.
O futuro da indústria econômica brasileira dependerá da capacidade de suas corporações de se reinventarem. A inteligência artificial é uma ferramenta poderosa, mas seu sucesso está diretamente ligado à forma como será implementada. Aqueles que souberem usar a tecnologia para impulsionar a eficiência, mitigar riscos e oferecer serviços mais personalizados sairão na frente. E, mais do que nunca, o momento de agir é agora.