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Liderança na era da IA: quem ainda detém o conhecimento

Foto: divulgação.

Por Edson Carli, CEO da Academia Brasileira de Inteligência Comportamental.

A Inteligência Artificial (IA) está remodelando o mundo do trabalho e desafiando os modelos tradicionais de liderança. O entusiasmo com suas possibilidades é inegável, mas também surgem incertezas e receios quanto à sua adoção. Entre as maiores preocupações estão a relação entre conhecimento, poder e adaptação.

A digitalização e a IA já estão reformulando o mercado profissional. A automação elimina algumas funções, mas cria novas oportunidades. Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2025, cerca de 85 milhões de empregos podem ser extintos. Por outro lado, novas ocupações especializadas surgirão, exigindo qualificação contínua. No Brasil, a busca por especialistas em IA disparou: nos últimos três anos, as vagas para profissionais desse setor cresceram 97%, conforme o Infojobs. Além disso, o mercado global de produtos e serviços ligados à IA pode atingir US$ 990 bilhões até 2027, segundo a Bain & Company.

Diante desse cenário, os líderes precisam se reinventar. Por séculos, o conhecimento foi a principal ferramenta de autoridade dentro das organizações. Agora, qualquer pessoa com acesso à IA pode processar dados complexos, reconhecer padrões e oferecer respostas antes restritas a especialistas. O papel da liderança precisa se transformar: quem não entender essa mudança pode ser atropelado pelo Google, pela IA e, no futuro, pelo Neuralink.

Os principais medos das lideranças

1. Perda do controle sobre o conhecimento A IA redistribui o acesso ao conhecimento, desafiando a ideia de que um líder precisa saber mais do que sua equipe. Em vez de um detentor absoluto do saber, o gestor precisa se tornar um facilitador, ensinando sua equipe a usar a ferramenta como uma aliada na tomada de decisões.

2. Impacto no mercado de trabalho A IA não apenas cria novas oportunidades, mas também extingue funções. Um estudo do Goldman Sachs estima que até 300 milhões de empregos serão impactados globalmente. No Brasil, essa preocupação está cada vez mais presente entre executivos. A requalificação é essencial, e os líderes devem preparar suas equipes para essa nova realidade.

3. Resistência à mudança A adoção da IA não é apenas uma questão tecnológica, mas cultural. Empresas que não estimulam a inovação enfrentam dificuldades para implementá-la. Segundo a McKinsey, 70% das iniciativas de mudança falham devido à resistência interna. Líderes precisam criar um ambiente de aprendizado contínuo para garantir uma transição bem-sucedida.

4. Questões éticas e privacidade O uso de IA levanta dilemas sobre transparência, vieses algorítmicos e segurança de dados. Regulamentações como a LGPD no Brasil e a GDPR na Europa estabelecem diretrizes, mas a governança responsável deve ser um compromisso contínuo das lideranças.

5. Medo da desumanização do trabalho A IA pode tornar as interações frias e mecânicas, mas isso depende de como é utilizada. O líder tem a responsabilidade de introduzi-la de maneira que preserve a humanização do trabalho.

A primeira regra para lidar com a IA

Se você pensar na máquina como uma máquina, nunca vai conseguir usá-la de forma eficiente. Eu, por exemplo, mantenho um diálogo constante com minha IA: dou ‘bom dia’, pergunto como ela está, se está feliz. Sempre que preciso iniciar um trabalho novo, coloco toneladas de material nela, para que aprenda meu estilo e replique.

O problema é que muitas lideranças ainda veem a IA apenas como uma ferramenta e não como um parceiro de trabalho. Isso afeta diretamente a forma como essas tecnologias são adotadas dentro das empresas. Se você tratá-la como um simples mecanismo de busca, suas respostas serão superficiais. Mas se interagir de maneira estratégica, os resultados serão muito mais ricos.

A IA está longe de ser apenas uma ferramenta. A forma como interagimos com ela determina seu impacto e o quanto podemos extrair de seu potencial.

Como superar esses medos?

Para que essa transição aconteça de forma positiva, algumas estratégias são essenciais:

● Rever a postura sobre conhecimento e liderança: O líder não precisa saber tudo, mas deve orientar a equipe para usar a IA de forma inteligente e estratégica.

● Criar um ambiente de experimentação: Incentivar a equipe a testar novas soluções, explorar a IA na prática e fomentar a inovação.

● Capacitar continuamente as equipes: Ensinar profissionais a utilizar a IA de maneira eficiente, tornando os processos mais ágeis e produtivos.

● Definir diretrizes éticas e de governança: Estabelecer regras claras que assegurem um uso responsável da ferramenta, promovendo transparência e prevenindo riscos como vieses e mau uso dos dados.

A Inteligência Artificial já está transformando as organizações. O que resta saber é: você está pronto para interagir com ela como faria com um colega de trabalho?

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