Search

Integrações tecnológicas e os saltos da humanidade

Foto: divulgação.

Por Diego Aristides, cofundador da Stellula.co e CEO do The Collab.

Se tem algo que ficou claro no SXSW 2025, é que não estamos mais diante de revoluções tecnológicas isoladas. O futuro não é IA de um lado, computação quântica do outro e biotecnologia em um canto distante. O que está acontecendo agora é a fusão dessas frentes. E toda vez que a humanidade experimentou grandes integrações tecnológicas, deu saltos que mudaram tudo.

A IA não está apenas se tornando mais eficiente, mas aprendendo com a neurociência. Não se trata mais de máquinas executando tarefas, mas de sistemas que evoluem e influenciam nossa cognição. Amy Webb, CEO do Future Today Strategy Group, chamou esse conceito de Living Intelligence: um ecossistema vivo onde sensores, algoritmos e organismos biológicos aprendem e tomam decisões de forma autônoma. Ou seja, a IA está deixando de ser apenas uma ferramenta e se tornando um agente vivo na equação da inovação.

Mas não para por aí. A relação entre psicodélicos e computação quântica pode parecer um conceito de ficção científica, mas ambos exploram os limites da percepção e da realidade. Em um dos painéis mais inesperados do evento, pesquisadores discutiram como os efeitos da psilocibina, substância psicoativa que pode induzir experiências místicas ou alterações de percepção no cérebro, pode inspirar novas formas de modelagem computacional e neurointerfaces. A fusão entre essas áreas pode resultar em avanços não só na forma como interagimos com a tecnologia, mas na própria definição do que significa ser inteligente.

A biotecnologia e a robótica também estão atravessando suas próprias fronteiras. Não estamos mais apenas criando próteses ou manipulando genes, mas mesclando o orgânico e o sintético de formas que redefinem o que significa ser humano.

No Brain-Skin Connection Seminar, Dr. Emily Fowler mostrou como o estresse não afeta apenas o emocional, mas pode reescrever nossa biologia em nível celular. A conexão entre corpo e tecnologia está deixando de ser externa para se tornar algo incorporado ao próprio funcionamento humano.

No campo da computação quântica, o CEO da IBM, Arvind Krishna, afirmou que estamos a menos de três anos de um grande avanço. A corrida para alcançar a supremacia quântica está em ritmo acelerado, com empresas como AWS e Microsoft investindo pesado na infraestrutura para tornar esses sistemas acessíveis.

Enquanto isso, no painel “Preparing for a Quantum Leap”, especialistas como Dr. Jeanette Garcia (IBM Quantum) discutiram como essa tecnologia pode revolucionar a descoberta de medicamentos e a modelagem molecular, mudando completamente setores como saúde e materiais avançados.

Mas será que estamos prontos para essas integrações? Esther Perel, psicoterapeuta renomada, fez um alerta: quanto mais avançamos na tecnologia, mais nos desconectamos como sociedade. Hoje, estamos mais ligados a algoritmos do que a pessoas. E se a próxima fronteira da IA não for apenas imitar o pensamento humano, mas preencher as lacunas emocionais que estamos deixando para trás?

E no meio de tudo isso, uma provocação: como Amy Webb solta um relatório de tendências com 1000 páginas? Isso é um reflexo da velocidade absurda das mudanças ou um alerta de que estamos sobrecarregados de possibilidades? Estamos mesmo indo na direção certa ou apenas correndo sem rumo? Tem muito ruído nesse mundo e é preciso ter calma para separá-los e observar os sinais.

Continuo acreditando que o deep tech potencializa as capacidades humanas, mas para isso precisamos evoluir como humanos, tirar a empolgação da tecnologia e criar conexões reais. Será que estamos diante de um salto evolutivo ou de um colapso da nossa própria identidade? Saberemos em breve.

Sem dúvida, o SXSW foi um espetáculo de conexões e networking. Mas, entre tantas interações e trocas de ideias, um destaque incontestável foi a SP House. Além de apresentar conteúdos relevantes, o espaço do Brasil, sim, temos muita coisa boa para mostrar, trouxe reflexões profundas sobre diversidade, um tema que, para minha surpresa, esteve praticamente ausente nos outros painéis. Kond e Malheiros foram certeiros ao abordar a importância do acesso e inclusão, provando que inovação sem diversidade é um conceito vazio.

Poucos palestrantes tiveram coragem de tocar em questões como o domínio e a influência das big techs e o atual momento político dos EUA. Foi uma rara exceção em um evento que, historicamente, sempre abriu espaço para debates mais ousados.

A CEO da Bluesky, Jay Graber, fez uma crítica direta ao modelo centralizado das redes sociais e à crescente concentração de poder das plataformas digitais. Segundo ela, “se um bilionário decidir amanhã mudar tudo, as pessoas devem ter a opção de migrar para outro lugar”, reforçando a necessidade de descentralização para garantir a liberdade digital.

E, neste assunto, o debate vai precisar ser constante. Ao mesmo tempo em que essas tecnologias nos prometem um futuro mais conectado e eficiente, é essencial refletirmos sobre as consequências dessa evolução. A fusão de áreas como IA, biotecnologia e computação quântica não só expande as possibilidades, mas também desafia a maneira como entendemos liberdade e controle.

Se conseguirmos equilibrar inovação com responsabilidade, poderemos alcançar avanços que realmente transformem nossas vidas para melhor. Mas, para isso, precisamos garantir que essas tecnologias sirvam à humanidade, e não o contrário.

Compartilhe

Leia também