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Da conformidade à vantagem competitiva: como regulamentações desafiam a TI das empresas financeiras

Foto: divulgação

Por Mateus Santos, especialista em implementação de soluções tecnológicas para compliance e qualidade de software e CTO da Vericode.

O setor financeiro sempre foi um dos mais regulamentados do mercado e novas normas exigem que as empresas se adaptem rapidamente para manter a conformidade. A recente Resolução CVM 175/2022 representa um avanço nesse cenário ao unificar quase 40 normas dispersas em uma única regra, simplificando processos e reduzindo custos operacionais. Além disso, a medida busca aumentar a transparência e oferecer mais segurança para os investidores, tornando o ambiente regulatório mais claro e eficiente.

Outro ponto de atenção, é a RCVM 035/2021, que estabelece diretrizes para intermediários de mercados regulados de valores mobiliários. Entre suas exigências, destaca-se a necessidade de testes rigorosos na infraestrutura de tecnologia, assegurando que os sistemas sejam capazes de lidar com a complexidade e o volume das operações, inclusive em momentos de alta demanda. Essas mudanças podem parecer desafios burocráticos para muitas empresas, mas, na prática, são oportunidades estratégicas para aprimorar processos, investir em inovação e fortalecer a segurança do mercado financeiro.

A necessidade de atender a essas regulamentações exige que as instituições financeiras revisitem suas infraestruturas de TI, abandonando sistemas legados e investindo em novas tecnologias. Um dos principais desafios enfrentados pelo setor é justamente essa modernização, pois sistemas antigos costumam ser menos escaláveis e mais vulneráveis a falhas, representando mais risco para a indústria em si e para os investidores. No entanto, empresas que adotam automação e inteligência artificial no compliance conseguem reduzir custos operacionais, melhorar a segurança e agilizar processos, transformando um requisito regulatório em um diferencial competitivo.

O impacto positivo dessa abordagem já pode ser visto no mercado. A B3, por exemplo, enfrentava dificuldades devido à falta de escalabilidade de seus sistemas, o que tornava os processos manuais ineficientes e aumentava o risco de não conformidade. Ao investir em automação, conseguiu reduzir em 80% os custos com testes e diminuir o tempo de execução de projetos de três meses para apenas 15 dias. Além disso, os corretores passaram a realizar testes de capacidade 10 vezes mais rápido, o que reforça a importância de modernizar a infraestrutura de TI para atender às regulamentações com mais eficiência.

Esses avanços são essenciais em um momento de forte investimento no setor. Em 2024, um total de R$ 47,4 bilhões foi destinado à modernização de dados, compliance e segurança pelas instituições financeiras brasileiras. Além de garantir que as operações estejam em conformidade com as regulamentações atuais, o objetivo também é fortalecer a confiança do mercado e ampliar a proteção contra crimes financeiros. Esse movimento, liderado por 113 bancos associados à Febraban, reforça o alinhamento do setor com as demandas regulatórias, ao mesmo tempo em que impulsiona inovação e eficiência operacional.

O futuro reserva ainda mais desafios tecnológicos para as empresas do setor financeiro. A agenda de inovação do Banco Central, com novas funcionalidades do Pix, Open Finance e o Real Digital (Drex), aliada ao avanço da tokenização da economia real e dos contratos inteligentes, está transformando o mercado e reduzindo o custo do crédito. Esse movimento abre novas oportunidades, mas também exige que as empresas invistam em especialistas em blockchain e tecnologias emergentes para garantir competitividade e segurança.

Paralelamente, os órgãos reguladores, como Banco Central, CVM e TCU, têm adotado um modelo de supervisão baseada em risco, alinhado a padrões internacionais. Com pilares em monitoramento e automação, essa abordagem facilita auditorias, simplifica a coleta de evidências e reduz custos de compliance, ao mesmo tempo em que aumenta a segurança do setor. Empresas que não se adaptarem a esse novo cenário podem enfrentar dificuldades para atender às exigências regulatórias e manter sua relevância no mercado.

Diante desse cenário, a questão não é mais se a transformação digital deve acontecer, mas sim como as empresas vão conduzi-la para obter os melhores resultados. Regulamentações como a CVM 175 e a CVM 035 não são apenas imposições do mercado financeiro, mas sim direcionadores de inovação. Quem encara essas mudanças como oportunidade e investe em automação e tecnologia avançada, além de garantir conformidade, ainda se posiciona como referência no setor.

A evolução das normas financeiras continuará moldando o mercado nos próximos anos, e as empresas que enxergam essas transformações como aliadas terão uma vantagem clara sobre a concorrência. Conformidade e inovação não precisam ser opostas – quando bem aplicadas, as regulamentações podem ser o impulso que faltava para elevar a eficiência operacional e impulsionar o crescimento sustentável. No setor financeiro, estar preparado para o futuro significa adotar a tecnologia como um pilar estratégico, e não apenas como uma resposta às exigências regulatórias.

A adaptação às regulamentações financeiras vai além do cumprimento de exigências formais – é um impulsionador da transformação digital. Empresas que enxergam essas mudanças como uma oportunidade e investem em tecnologia avançada, como automação e inteligência artificial, não só reduzem riscos e custos, mas também se tornam mais eficientes e competitivas. No cenário atual, conformidade não é um destino, mas sim um processo contínuo de inovação. Quem souber integrar TI e compliance de forma estratégica sairá na frente, garantindo mais segurança, agilidade e vantagem no mercado financeiro.

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