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Investimento em ETFs no Brasil e a evolução do mercado de fundos

Foto: divulgação.

Por João Paulo Fernandes, CEO da Cada Investimentos.

O mercado de ETFs (Exchange Traded Funds) no Brasil ainda é incipiente, mas vive um momento de transformação e crescimento acelerado. Hoje, temos aproximadamente R$ 50 bilhões alocados nessa classe de ativos, o que representa apenas 0,5% do mercado total de fundos. Em comparação, nos Estados Unidos, os ETFs já respondem por mais de 32% do mercado de fundos. A distância em si entre os dois mercados mostra, no entanto, uma oportunidade. Inclusive, o Brasil avança em ritmo acelerado, com taxas de crescimento percentual superiores às observadas nos EUA. Esse cenário nos leva a refletir sobre os desafios, oportunidades e o potencial de crescimento desse mercado, além de como podemos aprender com benchmarks internacionais para impulsionar essa evolução.

Um dos principais desafios para a adoção mais ampla de ETFs no Brasil está em promover uma comunicação mais simples e assertiva, facilitando o acesso e a compreensão do produto pelo investidor pessoa física, além da necessidade de uma maior disseminação desse tipo de investimento no público geral. Muitos ainda associam a bolsa de valores somente à negociação de ações ou ativos de alto risco, ignorando a diversidade de produtos disponíveis, como ETFs de renda fixa, commodities e internacionais. Esse estigma, somado à falta de familiaridade com o funcionamento dos fundos indexados, mantém boa parte dos brasileiros distantes do mercado de ETFs. Além disso, a adoção limitada pelos distribuidores, como corretoras e casas de assessoria, também representa um desafio. Por serem relativamente novos no Brasil e possuírem uma dinâmica de distribuição diferente, esses ativos ainda não foram amplamente incorporados às plataformas dessas instituições.

No entanto, a evolução é natural. O ciclo do investidor brasileiro ainda é curto, mas estamos avançando rapidamente, com ETFs ganhando cada vez mais popularidade. Esse movimento é impulsionado por uma maior conscientização sobre os benefícios desses produtos, como transparência, baixo custo e diversificação. Nesse sentido, os Estados Unidos servem como um benchmark importante. Lá, o mercado já evoluiu tanto na oferta quanto na demanda por fundos indexados, e o investidor americano entende que esses fatores são fundamentais para o sucesso no longo prazo.

Avanços no Brasil e um caminho a percorrer

No Brasil, a Instrução CVM 179 foi um passo importante para aumentar a transparência do mercado financeiro, favorecendo os ETFs. No entanto, ainda precisamos avançar em questões tributárias e operacionais. Por exemplo, a despadronização do recolhimento de Imposto de Renda entre ETFs de renda fixa e variável e a falta de isonomia tributária entre classes de ativos são barreiras que precisam ser superadas. Além disso, é essencial que as corretoras adaptem seus processos de suitability, permitindo que investidores conservadores tenham acesso a ETFs de renda fixa, por exemplo.

Sou extremamente otimista em relação ao futuro dos ETFs no nosso país. Acredito que, nos próximos cinco anos, o mercado pode crescer consideravelmente em tamanho. Do lado da oferta, vemos cada vez mais gestores desenvolvendo novos produtos, e há espaço para preencher lacunas e criar teses inovadoras. Do lado da demanda, a agenda regulatória e operacional, capitaneadas pela CVM e B3, respectivamente, devem  fomentar ainda mais o crescimento desses produtos. 

A educação como ponto de partida

A educação do investidor é um pilar fundamental para o crescimento dos ETFs. Ainda falta didática por parte do mercado para explicar que, embora sejam produtos sofisticados internamente, são simples e eficientes para o investidor. As instituições financeiras têm um papel crucial nesse processo, mas precisam de incentivos comerciais para adotar e promover os ETFs de forma mais ativa. A Instrução CVM 179, ao promover transparência dos custos de distribuição, já está reformulando os incentivos de distribuição de produtos financeiros. Agora, o foco está em oferecer o produto que melhor se adequa ao perfil do cliente, e não aquele que gera maior remuneração para o assessor. Essa mudança é um prato cheio para o crescimento dos ETFs, que são naturalmente transparentes e eficientes em termos de custos.

Em conclusão, o mercado de ETFs no Brasil está em uma trajetória ascendente, impulsionado por uma combinação de fatores: evolução regulatória, maior transparência e um investidor cada vez mais consciente. Apesar dos desafios, o potencial de crescimento é enorme, e acredito que, em breve, os ETFs dominarão o mercado brasileiro, seguindo o exemplo dos Estados Unidos. Cabe a nós, como gestores e educadores, continuar a promover essa classe de ativos, simplificando sua complexidade e destacando seus benefícios para o investidor. O futuro é promissor, e os ETFs estão no centro dessa transformação.

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