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Quiet Ambition: quando a ambição muda de tom, mas não de impacto

Foto: divulgação.

Por Andre Purri, CEO e cofundador da Alymente.

Vivemos uma era em que o conceito tradicional de sucesso nas empresas está sendo radicalmente redefinido. A chamada quiet ambition, ou ambição silenciosa, surge como uma nova lente através da qual muitos profissionais — especialmente da Geração Z — observam sua trajetória no mercado de trabalho. Diferente da lógica que sempre associou ambição a cargos de liderança e ascensão hierárquica, essa nova perspectiva valoriza o crescimento com propósito, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e o alinhamento entre carreira e valores individuais.

É importante não confundir esse fenômeno com o quiet quitting, no qual colaboradores se limitam a fazer o mínimo necessário. A quiet ambition tem uma natureza completamente distinta: trata-se de profissionais engajados, comprometidos e tecnicamente aprofundados, que buscam excelência no que fazem sem, necessariamente, desejarem cargos de chefia. Ao contrário da ambição barulhenta de outrora, que almejava salas maiores e títulos mais altos, essa é uma ambição mais introspectiva — mas igualmente potente.

Essa mudança impõe um desafio real às organizações. A estrutura corporativa clássica, baseada em planos de carreira verticais, pode se tornar obsoleta diante de uma força de trabalho que, em sua maioria, não deseja liderar equipes ou assumir cargos executivos. No entanto, empresas que souberem enxergar além do organograma tradicional poderão sair ganhando: ao valorizar especialistas, promover trilhas de desenvolvimento horizontais e criar mecanismos de reconhecimento que não dependem de promoções hierárquicas, estarão cultivando uma cultura mais diversa, inclusiva e aderente ao presente.

Nesse cenário, o papel da liderança também precisa ser repensado. Gerir talentos, hoje, vai além de identificar futuros gestores: trata-se de compreender diferentes formas de ambição e criar ambientes onde múltiplos perfis possam florescer. Isso inclui práticas como horários flexíveis, programas de bem-estar, planos de desenvolvimento individualizados e métricas de sucesso menos baseadas em cargos e mais baseadas em impacto. Quanto mais adaptável for a empresa, maior será sua capacidade de reter talentos altamente qualificados — mesmo que silenciosos em sua ambição.

Dados de uma pesquisa realizada pela Visier em 2023 confirmam essa nova tendência: apenas 4% dos profissionais veem cargos executivos como objetivo principal de carreira. Mais do que isso, o estudo mostra uma guinada coletiva rumo à valorização da vida pessoal e do bem-estar como prioridade. O que antes era visto como fuga da responsabilidade ou falta de ambição agora se revela como uma forma consciente e madura de encarar a carreira — com profundidade, mas sem sacrificar a saúde física e mental.

Diante disso, cabe às empresas responder com agilidade e empatia. A quiet ambition não representa o fim da ambição no ambiente corporativo, mas sim uma reinvenção. E como toda reinvenção, exige escuta ativa, adaptação e coragem para abandonar velhos modelos. Apoiar essa nova forma de ambição é, na verdade, um investimento no futuro — um futuro em que o sucesso deixa de ser sinônimo de comando e passa a ser medido por realização, impacto e coerência entre vida e trabalho.

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